Publicado a 19 de Agosto de 2011 . Na categoria: Destaque Economia
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Fundada há 18 anos por um grupo de 20 agricultores, a Frutalvor possui
actualmente 22 cooperantes, a sua maioria dos concelhos das Caldas e
de Óbidos, que possuem um total de 350 hectares de pomar. A central
fruteira, instalada no Casal de Santa Cecília (Salir de Matos),
começou a trabalhar com 2000 toneladas de fruta por ano e actualmente
está muito próxima das 8000 toneladas anuais, entre maçã e pêra Rocha,
tendo facturado 3,5 milhões de euros em 2010.
A nível nacional o maior entrave que encontram são as grandes
superfícies que, continuam a pagar o produto bastante barato ao
produtor e, muitas das vezes, compram fruta estrangeira em detrimento
da nacional.
Referindo-se à Maçã de Alcobaça, Carla Simões, gestora da Frutalvor,
refere que, fruto da promoção que tem havido, os clientes procuram-na
nas prateleiras das superfícies mas, em muitas delas, não a encontram.
Agosto é um mês de grande azáfama na Frutalvor. É neste mês de verão
que se concentra a colheita da maçã Gala – que é comercializada com o
símbolo de Maçã de Alcobaça – e que totaliza 75% das 4000 toneladas de
maçã que esta cooperativa de agricultores comercializa por ano. Em
Setembro são colhidas as variedades de maçãs Reineta, Golden e
Starking que, em conjunto, representam as restantes mil toneladas.
A grande maioria dos produtores tem as suas propriedades no concelho
das Caldas, sobretudo em Alvorninha, Vidais e Salir de Matos, mas
também existem alguns pomares nos concelhos de Óbidos e Alcobaça, num
total de 350 hectares.
Nos últimos anos tem havido uma maior plantação de pomares de pêra
Rocha. "Começámos com cerca de 400 toneladas e actualmente temos 4000
toneladas de pêra Rocha, cerca de 10 vezes mais", explica Carla
Simões, gestora da Frutalvor. Para atenuar esta tendência que se tem
generalizado por todo o Oeste, a cooperativa tem tentado que os
produtores plantem mais maçã Gala, que tem também boa aceitação no
mercado externo.
Actualmente cerca de 40% da produção da Frutalvor é escoada no mercado
nacional de grande superfície, tendo o grupo Sonae como principal
cliente. As vendas para pequenos comerciantes, cash and carry e para a
transformação (sumos e compotas) representam 20% e os restantes 40%,
cerca de 1,4 milhões de euros, são comercializados para o mercado
externo, sendo a Inglaterra o principal destino desta maçã e também da
pêra Rocha.
As exportações começaram há uma década, para o Reino Unido, e com maçã
Gala, uma variedade que sabem "produzir e conservar relativamente bem"
e que tem a bandeira de entrada noutros mercados.
O ano passado começaram a explorar o norte de África. "É um mercado
potencialmente interessante, numa perspectiva em que a Europa está a
atravessar alguma crise e estes mercados estão com economias
emergentes", explica Carla Simões, salientando que se tratam de locais
para onde poderão exportar maçã.
A mesma responsável explica ainda que o mercado interno tem
estabilizado, fruto da crise, mas também da constante guerra entre
supermercados. "As grandes superfícies são uma fonte de escoamento
para o nosso produto mas, por outro lado, a guerra de preços entre
eles vem penalizar muito os produtores", salienta.
Carla Simões faz notar que os maus preços praticados aos produtores em
favor das margens dos supermercados são muito difíceis de suportar,
tanto mais que os agricultores da região têm reinvestido muito na
agricultura.
A certificação também acarreta custos pois exige inovações nos
pomares, como a colocação de casas de banho durante a colheita,
restrições ao nível da utilização de pesticidas e adubos, assim como
normas de higiene e segurança dos trabalhadores. É também obrigatório
que os responsáveis das explorações possuam curso de primeiros
socorros.
Os produtores têm os seus pomares na região demarcada de Alcobaça,
fazem protecção integrada e são certificados para produzir Maçã de
Alcobaça. "Esse controlo é muito rigoroso, trabalhamos em estreita
ligação com os nossos produtores temos um técnico no campo a
acompanhá-los", explica Carla Simões, fazendo notar que o que está
certificado é a área e as condições em que é produzida a maçã.
De acordo com a gestora da Frutalvor, a associação Maçã de Alcobaça
tem feito um "excelente trabalho de promoção" e o cliente procura
muitas vezes esta maçã nas lojas, mas não a encontra. "Há cadeias de
supermercados que não vendem maçã nacional", refere Carla Simões,
adiantando que as grandes superfícies acabam por comprar no
estrangeiro a fruta mais cara do que é vendida pelos produtores para
exportação.
A responsável explica ainda que Portugal, ao nível da pêra Rocha
produz mais do que o seu consumo interno, mas o mesmo ainda não
acontece com a maçã. "E continuamos a importar alegremente", ironiza.
Aumentar a capacidade de frio para dar resposta à produção
A Frutalvor possui 19 câmaras frigorificas, com capacidade para 5,5
toneladas de frio, o que se está a revelar insuficiente para a
produção, pelo que são utilizadas algumas câmaras frigorificas de
sócios, sobretudo para a fruta que é escoada num curto período de
tempo.
Para a fruta que vai demorar mais a ser comercializada possuem a
atmosfera controlada – que baixa o nível de respiração da fruta e a
deixa "adormecida" – permitindo-lhe manter as características naturais
de sabor e textura.
"Funciona tão bem na fruta que, ao tirarmos uma maçã Gala em Janeiro
ou Fevereiro permanece com o pé verde, tal como foi colocado",
exemplifica Carla Simões.
Os pomares recentemente plantados e o aumento da produção leva a que a
Frutalvor tenha que aumentar a capacidade de frio. O objectivo é
começar no próximo ano a preparar o terreno para fazer as câmaras
frigoríficas, mas a crise que o país atravessa leva a que tenham que
ser cautelosos. "Somos o tipo de empresa que pretende ter alguma
consistência nesta actividade. É preciso assumir alguns riscos mas sou
fã dos riscos controlados", realça Carla Simões, acrescentando que nos
investimentos que têm efectuado têm contado também com o apoio do
Estado, ainda que por vezes tarde algum tempo a chegar.
Actualmente a cooperativa dá trabalho directo a 50 trabalhadores
durante todo o ano e, indirectamente a cerca de 200 pessoas.
A facturação da cooperativa em 2010 foi de 3,5 milhões de euros e, de
acordo com Carla Simões, "tem crescido proporcionalmente à quantidade
que é laborada e à pressão que se tem feito no mercado de exportação".
A gestora explica que a exportação é um excelente estabilizador de
preços porque as estratégias são de médio e longo prazo, logo os
preços não flutuam tanto como no mercado nacional onde os preços
variam na proporção contrária da produção.
"A agricultura tem futuro"
"Não tenho dúvidas que a agricultura é um dos motores da sociedade",
diz Carla Simões, que se formou em Agronomia por paixão. Considera que
se trata de um sector da economia como outro qualquer e que, por isso
mesmo, tem que ser olhado como tal. "Não merecemos ajudas especiais,
mas também não merecemos ser tratados com deferência", diz, adiantando
que em Portugal produz-se tão bem como noutro país qualquer.
Reconhece que o sector tem-se deparado com alguns problemas,
nomeadamente a descrença do seu interesse económico, aliado às
burocracias a que os agricultores estão sujeitos.
Também Hélder Silva, presidente da direcção da Frutalvor, acredita que
a agricultura tem futuro, "mas é pena que só agora os políticos se
lembrem que ela é importante no país", diz.
Este fruticultor, que possui 10 hectares de maçã e pêra na zona dos
Vidais, lembra que os produtores tiveram que avançar por sua conta e
risco para desenvolver o sector, sobretudo ao nível da exportação, uma
vez que a fruta está ao mesmo preço, ou até mais barata, do que há 15
anos.
"O preço a que o consumidor compra no supermercado está muito longe do
que o produtor recebe", conta, acrescentando que quando há uma
diminuição de preços é à custa do produtor, porque a margem do
supermercado mantém-se e, ao longo dos anos, tem mesmo vindo a subir.
"Há 10 anos viam-se margens de 30 a 50%, agora é raro um supermercado
que, em tempo normal, não tenha margens muito próximas de 100%",
realça.
Também Hélder Silva partilha da opinião de que é importante que as
pessoas percebam que o "produto português é melhor que os outros",
resultado da evolução das plantações e também certificações, que lhe
garantem uma excelente qualidade.
Crianças aprendem que a fruta é saudável
Durante o ano a central fruteira é várias vezes visitada por crianças,
sobretudo do jardim-de-infância e primeiro ciclo, que ficam a conhecer
"in loco" o processo de conservação da fruta. As visitas são de
escolas da região, mas também da zona de Lisboa, onde conversam com
miúdos que "nunca tiveram contacto com a fruta fora de um
supermercado", conta Carla Simões.
As crianças gostam do que vêem e é também uma forma de contribuir para
o combate à obesidade e doenças cardiovasculares que, "cada vez mais
começam a aparecer mais cedo", acrescenta a responsável.
A Frutalvor tem também fornecido, nos últimos dois anos, a fruta a
todas as escolas do concelho das Caldas.
Na central vendem directamente ao consumidor, durante a semana, entre
as 9h00 e as 18h00, e têm um projecto para montar uma lojinha de venda
directa de fruta.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetacaldas.com
http://www.gazetacaldas.com/14240/frutalvor-e-a-grande-referencia-da-maca-de-alcobaca-no-concelho-das-caldas-da-rainha/
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