Agosto 25th, 2011 Sem Comentários
Nuno Silva durante a apanha considera que os jovens portam-se à altura
durante a campanha
É num ambiente descontraído e de grande entreajuda que centenas de
jovens estudantes, empregados ou desempregados apanham Pêra Rocha nas
terras do Oeste.
Este ano a apanha corre de vento em poupa, com muita mão de obra, um
sintoma da falta de emprego para a qual a agricultura pode ser um
refúgio.
O ambiente que se vive numa exploração em Casais da Ramalheira,
Bomvento, Bombarral é de descontração, mas muito disciplinado no que
diz respeito à apanha da Pêra.
Um grupo de jovens de Rio Maior junta-se a um grupo de veteranos e as
piadas e histórias sucedem-se sempre com os olhos postos no pomar e as
mãos nas pêras, nos baldes e nos palotes da fruta. Para baixo e para
cima vê-se um tractor que vai recolhendo os palotes cheios da fruta.
As histórias entre os apanhadores é interrompida de quando em vez pela
dona Benvinda Santos, de 43 anos, a capataz nesta exploração.
Os mais jovens respeitam-na e sorriem às suas ordens, obedecendo
sempre e com boa disposição.
"Está na hora de almoço, mas apanhamos mais esta fila para o camião
ficar cheio e depois almoçamos", disse a capataz, vendo de imediato
toda a gente a empenhar-se na tarefa.
Quem está de fora verifica que o ambiente é saudável e sério ao mesmo
tempo. Um dia a apanhar pêra pode render 35 euros, dinheiro que dá
muito jeito aos estudantes que aproveitam para juntar alguns euros e
continuar a estudar.
É o caso de Patrícia Vieira de 18 anos e estudante em Rio Maior.
"Ganho aqui dinheirinho. O trabalho é muito duro. Nos dias de calor é
horrível, porque está muito quente e puxa muito por nós. O dinheiro
que ganhamos acaba por compensar o esforço. Estou a estudar ciências e
tecnologias em Rio Maior e o dinheiro vai ajudar nos estudos e para
comprar as minhas coisas", disse.
Também Ângela Borges de 19 anos, estudante em Coimbra aproveita as
férias do Verão e em vez de ir para a praia, ganha alguns euros que a
vão aguentar durante a época escolar.
"Estar aqui é um bocadinho difícil por causa do sol e do calor. Estou
a estudar agronomia em Coimbra e este dinheiro será para os estudos e
para coisas pessoais. Apesar de ser duro aconselho todos os jovens a
terem esta experiência, porque é um bom modo de ganhar dinheiro",
disse.
Mais brincalhona, mas sempre da balde para cima e para baixo está
Solange Martinho de 17 anos e estudante na universidade em Rio Maior.
"Trabalhar aqui é muito cansativo. Dói-me as costas e está muito sol.
Os patrões são bons. O que compensa é o dinheiro, mas ficamos muito
cansadas e com muitas dores. Há boa disposição, mas a capataz, a
senhora Benvinda está sempre a mandar calar a gente. Nós estamos no
campo e queremos falar", disse sorrindo ao mesmo tempo que carregava
dois baldes nas mãos.
"Os jovens fazem muito barulho e trabalham pouco", disse a capataz,
sorrindo ao mesmo tempo que afirma que é dos melhores grupos que por
ali passaram na apanha da fruta.
"A campanha está a correr bem e a pêra tem qualidade. Os jovens
aproveitam este trabalho para terem mais uns trocos. É aquilo que eu
fazia quando era nova e continuo a fazer agora. É um trabalho saudável
e recomendável. Desde os 15 anos que trabalho nisto e aconselho os
jovens a aproveitarem bem estas oportunidades", disse Benvinda Santos,
auxiliar de Serviços Administrativos.
"Trabalhar aqui é bom e o que custa mais não é apanhar as pêras, é
mesmo subir às árvores", afirmou um jovem, acrescentando que "esta é
uma experiência única", esperando que após esta campanha consiga
arranjar trabalho na área da informática.
Telmo Presado, da Ecofrutas e proprietário desta exploração em
Bomvento, considera que a campanha da Pêra Rocha está a correr bem,
com mais produção. Quanto à mão de obra este agricultor considera que
não existe falta, há até uma oferta muito grande de pessoas para este
trabalho agrícola.
"Há muita oferta de mão de obra este ano o que me leva a terminar a
campanha já na semana que vem", disse, acrescentando que "o ambiente
na agricultura é bom, mas o trabalho é duro. Na altura de Verão é
agradável, mas com calor mais intenso nota-se no consumo de água, mas
nesta fase o tempo tem ajudado e qualquer pessoa consegue fazer este
trabalho".
"Este ano vamos ter uma quantidade de mais 20 por cento do que no ano
anterior. Este aumento deve-se ao número de árvores que entraram de
produção", disse.
Telmo Presado por último aconselha qualquer jovem que "tenham vontade
própria" pode vir trabalhar para a agricultura.
Na Masilfrutas, na Fanadia, Vasco, Hélio e Nuno Silva veem esta
campanha com alguma espectativa uma vez que vão conseguir cerca de 300
a 400 toneladas de Pêra, num aumento de 20 por cento na produção.
"A campanha está a correr bem e estamos com uma boa produção. Estamos
quase a terminar a Pêra e estamos já a pensar na Maçã".
Os sócios e familiares consideram que este ano, talvez por causa da
crise, houve mais oferta de pessoas para este trabalho agrícola.
"Este ano há muita gente jovem a recorrer ao trabalho no campo, mas
também temos outras pessoas que ajudam na apanha da fruta e todos
portam-se à altura. Este ano tivemos mais oferta de pessoal do que em
anos anteriores, e isso pode ser um reflexo da falta de trabalho e de
dinheiro que as pessoas sentem. As pessoas aproveitam esta época para
ganhar mais algum", disseram.
Já no campo, Tiago Duarte e Nuno Feliciano, com 21 anos, residentes
nas Caldas e ambos estudantes de informática, em Leiria sentem-se bem
no trabalho no campo, pois apesar de ser duro, ganham dinheiro que
lhes faz falta durante o ano.
"Ganha-se bronze e o trabalho faz-se bem. Como estamos de férias de
Verão, arranjamos este trabalho para se ganhar bem", disseram.
Ana Tomás de 21 anos, residente nas Caldas e antiga estudante decidiu
enveredar no mercado de trabalho por um ano antes de voltar aos
estudos e conseguiu arranjar este trabalho no campo, que considera ser
saudável, mas duro.
"Parei este ano de estudar e estou à procura de emprego. Este é um
part-time. Penso juntar dinheiro e voltar a estudar e tirar um curso",
disse.
Rui Ribeiro, de 33 anos, trabalhador agrícola decidiu apanhar Pêras,
aos 8 anos de idade e como o vício está no corpo, não esquece nem
falta uma época.
"Comecei por trabalhar em parte time e agora é a tempo inteiro.
Trabalhar na agricultura é o meu sustento", disse.
Carlos Barroso
http://www.jornaldascaldas.com/index.php/2011/08/25/pera-rocha-com-mais-20-por-cento-de-producao/
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