sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Produção de leite: mudar de ano, mudar de vida!

COMUNICADO
2011 foi um ano de permanentes dificuldades económicas para os
produtores de leite. Na sequência de 2010, sofremos com os preços
elevados das matérias-primas para alimentação animal, devido à
crescente procura mundial de alimentos agravada pela especulação no
mercado que nenhum governo teve coragem de enfrentar. Sofremos também
com a impossibilidade de reflectir no preço de venda do leite à
indústria esse e outros aumentos dos custos de produção, como
combustíveis e adubos. Daí resultou o desânimo e o abandono da
produção, ao ritmo de mil produtores por ano.

Apesar desse abandono de produtores, tem sido possível manter a
produção ao nível das necessidades do país, mas aumentaram as dívidas
aos bancos e a fornecedores. Recentemente, calculámos que nos
primeiros nove meses de 2011 os produtores de leite portugueses
perderam 40 milhões de euros, considerando que vendemos o leite a um
preço médio de 31 cêntimos/kg (dados do GPP do MAMAOT para o
continente) e tivemos um custo estimado de 34 cêntimos/kg (estudo
publicado na revista "Produtores de leite" nº4). Estimamos que as
dívidas a fornecedores ultrapassem já 100 milhões de euros.
Apesar de todos os alertas e apelos que lançámos, apesar das
dificuldades dos produtores serem conhecidas e incontestáveis, apesar
de se sucederem falências, abandonos de produção (conhecemos vários
casos de produtores holandeses que abandonaram o pais no último ano),
os produtores portugueses tiveram apenas um cêntimo/litro de aumento
em Setembro passado e temos indicações que esse cêntimo cai no final
do ano. É um triste presente de natal para produtores que chegam a
trabalhar 80 horas por semana, de 2ª a Domingo, 365 dias por ano…
Historicamente, tivemos em Portugal um preço ao produtor ligeiramente
superior à média comunitária, mas nos últimos dois anos passamos para
a cauda da Europa, como mostram os dados sucessivamente apresentados
pela comissão europeia. Assim a produção definha em Portugal e aumenta
no norte da Europa, com forte exportação para os países emergentes.
Queremos aqui renovar este alerta: com esta margem, a produção de
leite não tem futuro em Portugal. No rumo actual, caminhamos para o
abismo.
Face à situação actual, apresentamos um conjunto de propostas para a
necessária mudança de vida:
- Apelamos a uma maior participação dos produtores na gestão das
organizações que recolhem, transformam e comercializam o leite
produzido, organizações que lhes pertencem, que foram criadas e
apoiadas para obter "valor para produtor", exigindo uma gestão
rigorosa e prudente nos investimentos executados e negócios
desenvolvidos.
- Propomos uma atitude mais construtiva no relacionamento indústria /
distribuição, de modo a ultrapassar as dificuldades do passado e
enterrar o machado de uma guerra feroz, antipatriótica e esmagadora de
margens. A produção agrícola em Portugal não terá futuro sem uma justa
valorização no mercado, que permita cobrir os custos de produção.
- Exigimos uma acção mais efectiva e célere do Governo. É positivo que
tenha ocorrido a primeira reunião da PARCA – Plataforma de
acompanhamento das relações na cadeia agro-alimentar, mas é sobretudo
preocupante o tempo que pode demorar até que surja algum resultado
concreto, e duvidosa a aplicação prática que qualquer conclusão da
comissão possa ter. Renovamos o alerta: São muitas explorações
leiteiras com grande dimensão, com centenas de animais cuja situação
económica não permite esperar muito tempo por resultados. É tempo de
agir!
- É urgente preparar o sector para o fim (anunciado como irreversível)
das quotas leiteiras e estudar a reforço do poder negocial dos
produtores através da implementação de contractos, organizações de
produtores e reforço da organização interprofissional.
- Por último, enquanto a União Europeia e Portugal não conseguirem
resolver a especulação no preço das matérias-primas e o bloqueio
Indústria / distribuição que congela o preço ao produtor, será o
desastre final reduzir as ajudas ao produtor de leite, tal como está
previsto na reforma da PAC para 2014-2020.
Os produtores de leite orgulham-se do trabalho diário que desenvolvem
e querem continuar a fornecer leite saudável, manter a paisagem verde,
as aldeias vivas e preservar o meio rural. São milhares de famílias a
trabalhar directa e indirectamente para que outras famílias possam
dispor diariamente dos nossos produtos. Em tempos de incerteza,
Portugal precisa manter a soberania alimentar, através de uma produção
próxima, reconhecida e que crie valor no país. Em 2012, os produtores
de leite e a APROLEP continuarão a trabalhar, disponíveis a colaborar
com todos as pessoas de boa vontade para, em conjunto, melhorar o
sector de leite de Portugal.
A Direcção da APROLEP
http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2011/12/09.htm

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