COMUNICADO
2011 foi um ano de permanentes dificuldades económicas para os
produtores de leite. Na sequência de 2010, sofremos com os preços
elevados das matérias-primas para alimentação animal, devido à
crescente procura mundial de alimentos agravada pela especulação no
mercado que nenhum governo teve coragem de enfrentar. Sofremos também
com a impossibilidade de reflectir no preço de venda do leite à
indústria esse e outros aumentos dos custos de produção, como
combustíveis e adubos. Daí resultou o desânimo e o abandono da
produção, ao ritmo de mil produtores por ano.
Apesar desse abandono de produtores, tem sido possível manter a
produção ao nível das necessidades do país, mas aumentaram as dívidas
aos bancos e a fornecedores. Recentemente, calculámos que nos
primeiros nove meses de 2011 os produtores de leite portugueses
perderam 40 milhões de euros, considerando que vendemos o leite a um
preço médio de 31 cêntimos/kg (dados do GPP do MAMAOT para o
continente) e tivemos um custo estimado de 34 cêntimos/kg (estudo
publicado na revista "Produtores de leite" nº4). Estimamos que as
dívidas a fornecedores ultrapassem já 100 milhões de euros.
Apesar de todos os alertas e apelos que lançámos, apesar das
dificuldades dos produtores serem conhecidas e incontestáveis, apesar
de se sucederem falências, abandonos de produção (conhecemos vários
casos de produtores holandeses que abandonaram o pais no último ano),
os produtores portugueses tiveram apenas um cêntimo/litro de aumento
em Setembro passado e temos indicações que esse cêntimo cai no final
do ano. É um triste presente de natal para produtores que chegam a
trabalhar 80 horas por semana, de 2ª a Domingo, 365 dias por ano…
Historicamente, tivemos em Portugal um preço ao produtor ligeiramente
superior à média comunitária, mas nos últimos dois anos passamos para
a cauda da Europa, como mostram os dados sucessivamente apresentados
pela comissão europeia. Assim a produção definha em Portugal e aumenta
no norte da Europa, com forte exportação para os países emergentes.
Queremos aqui renovar este alerta: com esta margem, a produção de
leite não tem futuro em Portugal. No rumo actual, caminhamos para o
abismo.
Face à situação actual, apresentamos um conjunto de propostas para a
necessária mudança de vida:
- Apelamos a uma maior participação dos produtores na gestão das
organizações que recolhem, transformam e comercializam o leite
produzido, organizações que lhes pertencem, que foram criadas e
apoiadas para obter "valor para produtor", exigindo uma gestão
rigorosa e prudente nos investimentos executados e negócios
desenvolvidos.
- Propomos uma atitude mais construtiva no relacionamento indústria /
distribuição, de modo a ultrapassar as dificuldades do passado e
enterrar o machado de uma guerra feroz, antipatriótica e esmagadora de
margens. A produção agrícola em Portugal não terá futuro sem uma justa
valorização no mercado, que permita cobrir os custos de produção.
- Exigimos uma acção mais efectiva e célere do Governo. É positivo que
tenha ocorrido a primeira reunião da PARCA – Plataforma de
acompanhamento das relações na cadeia agro-alimentar, mas é sobretudo
preocupante o tempo que pode demorar até que surja algum resultado
concreto, e duvidosa a aplicação prática que qualquer conclusão da
comissão possa ter. Renovamos o alerta: São muitas explorações
leiteiras com grande dimensão, com centenas de animais cuja situação
económica não permite esperar muito tempo por resultados. É tempo de
agir!
- É urgente preparar o sector para o fim (anunciado como irreversível)
das quotas leiteiras e estudar a reforço do poder negocial dos
produtores através da implementação de contractos, organizações de
produtores e reforço da organização interprofissional.
- Por último, enquanto a União Europeia e Portugal não conseguirem
resolver a especulação no preço das matérias-primas e o bloqueio
Indústria / distribuição que congela o preço ao produtor, será o
desastre final reduzir as ajudas ao produtor de leite, tal como está
previsto na reforma da PAC para 2014-2020.
Os produtores de leite orgulham-se do trabalho diário que desenvolvem
e querem continuar a fornecer leite saudável, manter a paisagem verde,
as aldeias vivas e preservar o meio rural. São milhares de famílias a
trabalhar directa e indirectamente para que outras famílias possam
dispor diariamente dos nossos produtos. Em tempos de incerteza,
Portugal precisa manter a soberania alimentar, através de uma produção
próxima, reconhecida e que crie valor no país. Em 2012, os produtores
de leite e a APROLEP continuarão a trabalhar, disponíveis a colaborar
com todos as pessoas de boa vontade para, em conjunto, melhorar o
sector de leite de Portugal.
A Direcção da APROLEP
http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2011/12/09.htm
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