quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

EUA encontram fungicida proibido em suco de laranja brasileiro

A presença do carbendazim no produto brasileiro representa uma ameaça
a um dos principais produtos de exportação do país e causou um alta de
11% no mercado futuro de suco americano
Por Soraia Yoshida
Produção de suco de laranja, um dos maiores produtos de exportação do país
A presença do fungicida carbendazim no suco de laranja brasileiro
vendido para os Estados Unidos pode prejudicar as exportações
brasileiras do produto.
Segundo a Food and Drug Administration (FDA), órgão que administra o
controle de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, o pesticida
foi detectado por uma companhia americana, num lote da safra de
laranja de 2011.

Aqui no Brasil, o carbendazim é usado legalmente para combater a praga
pinta preta(conhecida em inglês como black spot), que deixa manchas
escuras nas folhas de laranjais. Nos Estados Unidos, o pesticida foi
aprovado para uso na plantação de laranja entre os anos de 2002 a 2008
- sendo proibido em 2009. Agora, só é permitido para produtos não
comestíveis, como tintas e tecidos. Segundo a Organização Mundial de
Saúde, o fungicida só representa risco se for ingerido em grande
quantidade.
Em seu comunicado, a FDA afirma que a quantidade de carbendazim
encontrada é muito baixa e que não é prejudicial à saúde. Entretanto,
como a Agência de Proteção ao Meio Ambiente (EPA, na sigla em inglês)
não aprovou a utilização do fungicida para laranjas e nem estabeleceu
um limite mínimo de tolerância, o seu uso é proibido como pesticida
químico em território americano.
Independentemente do grau de risco à saúde, o fato é que o produto é
proibido nos Estados Unidos e a sua detecção pode comprometer as
exportações. Para os produtores brasileiros esta é uma péssima
notícia. As vendas de suco de laranja para os Estados Unidos somam
cerca de 200 mil toneladas, representando cerca de 15% do total das
exportações brasileiras e gerando receitas na ordem de US$ 300
milhões. Até novembro do ano passado, o país já havia exportado quase
395 mil toneladas, uma operação de US$ 791,3 milhões. Em 2010 foram
466,8 mil toneladas somando US$ 685,5 milhões.
O Brasil é o maior produtor mundial, à frente dos EUA e China,
exportando cerca de 98% de sua produção. E os Estados Unidos são o
maior mercado, representando cerca de 40% do consumo mundial de suco
de laranja.
Com a descoberta do fungicida no suco de laranja brasileiro, a FDA
passará a testar todos os carregamentos de suco concentrado e fresco
de laranja – provenientes do Brasil e de quaisquer outros países – e
proibirá a entrada de qualquer lote com a presença de carbendazim.
A possibilidade, ainda que remota, de embargo ao produto brasileiro
causou um aumento de 11% no preço do suco de laranja no mercado futuro
dos Estados Unidos. Isso porque grandes fabricantes de bebidas como a
Coca-Cola, com o Minute Maid, e a Pepsico, com o Tropicana, utilizam o
concentrado brasileiro para fazer o blending de seus produtos. Segundo
a CitrusBR, 80% do suco de laranja disponível nos Estados Unidos
utiliza em algum momento o concentrado brasileiro. "Nosso principal
fornecedor não é o Brasil, mas a Flórida. Seguiremos as orientações do
FDA para resolver a situação", disse Ann Moore, relações públicas da
Coca-Cola nos Estados Unidos.
Para evitar a proibição, as associações de produtores nos dois países
estão se mobilizando. O presidente da Associação Nacional dos
Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Christian Lohbauer, deve
seguir para os Estados Unidos, onde tentará negociar a entrada de
lotes brasileiros do produto. Ele passou o dia em reuniões para
acertar a estratégia da associação, que reúne as maiores empresas do
setor, como Citrosuco, Citrovita e Cutrale. Segundo fontes do setor
ouvidas por Época NEGÓCIOS, a expectativa é que o suco brasileiro que
já está em território americano seja utilizado regularmente. O
interesse da CitrusBR é que o produto continue tendo acesso ao mercado
americano.
A Associação dos Produtos de Suco (JPA, na sigla em inglês), nos
Estados Unidos, que representa as empresas fabricantes de suco dos
Estados Unidos, emitiu comunicado explicando a questão e dizendo que
as empresas, na figura da associação, estão colaborando com a agência.
Segundo Stephanie Meyering, assessora de imprensa da JPA, a associação
deve emitir um novo comunicado sobre o problema ainda hoje.
Em caso de embargo, a falta do produto brasileiro não deve prejudicar
o atendimento à demanda no curto prazo, diz José Luiz Tejon,
coordenador do Núcleo de Agronegócio da ESPM. "O assunto deve ser
tratado dentro da esfera da negociação e do bom senso", afirma. "No
médio prazo, se a questão persistir, o produto pode subir de preço, o
que não interessa aos produtores, nem aqui e nem nos EUA".
Segundo Tejon, o suco de laranja sofre com a concorrência de outras
bebidas, o que tem levado o mercado mundial a uma queda anual de 1,6%.
Nos EUA, porém, o golpe foi maior: nos últimos dez anos, o mercado
perdeu 25% frente à concorrência de outras bebidas, como chás e
isotônicos, que apostam em marketing pesado junto ao consumidor. "Uma
notícia como essa acaba sendo negativa para todo o setor", diz,
reforçando que o momento é de conversa. Tejon também não aposta em uma
atitude radical do FDA para barrar o suco de laranja brasileiro. "Não
acredito em um embargo, acho pouco provável. Se acontecer, o Brasil
pode recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) porque está
atuando dentro dos padrões internacionais. Isso, porém, deve
prejudicar o setor que vinha buscando uma recuperação".
O especialista diz que conversou com representantes da CitrusBR, que
lhe asseguraram que esperavam chegar a uma solução. "Não interessa a
ninguém ter menos produto, o que geraria um aumento de preço. O
caminho é mesmo do diálogo", diz.
http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI288937-16418,00-PRODUTORES+NEGOCIAM+LIBERACAO+DE+SUCO+DE+LARANJA+BRASILEIRO+NOS+EUA.html

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