quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Porque cresceu o Brasil tanto e Portugal tão pouco

11 Janeiro 2012 | 23:30
Manuel Caldeira Cabral
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Há já exemplos positivos na fileira florestal, ou no aproveitamento
dos recursos energéticos e em algumas agro-indústrias, mas há muitas
oportunidades por aproveitar na agricultura, na indústria extractiva e
no mar.
A diferença de taxa de crescimento entre Portugal e o Brasil ilustra
bem o impacto que os choques externos que afectam os termos de troca
podem ter no crescimento económico, ajudando a compreender porque é
que, na última década, Portugal e a maioria dos países europeus
tiveram um crescimento tão baixo.
O gráfico mostra que os dois países têm ciclos completamente
dessincronizados. Nos anos em que Portugal cresce acima dos 4%, o
Brasil regista taxas de crescimento abaixo dos 2% e vice versa.
Se acreditarmos que a principal causa do baixo crescimento português
na última década é a má gestão da política económica, teremos de
concluir que, quando Portugal tem uma boa gestão, o Brasil gere mal a
sua economia e vice-versa. Esta tese pode servir para fazer
telenovelas políticas, mas não parece muito de acordo com a análise
económica.

É mais razoável pensar que as diferenças de ciclos estejam ligadas à
diferença de especialização das duas economias.
O quadro abaixo apresenta, para cada período, as taxas de crescimento
médias de Portugal e do Brasil, e a variação percentual do preço de
diferentes matérias-primas. Os períodos de aumento do preço dos bens
agrícolas são em geral positivos para o Brasil e negativos para
Portugal, que é um importador destes bens.
Entre 2001 e 2010 houve um aumento de 75% do índice de matérias-primas
agrícolas, e aumentos próximos de 300% do preço do café e do açúcar, e
de quase 400% do petróleo, factos que ajudam a compreender a diferença
de crescimento verificada entre os dois países.
O aumento do preço das matérias-primas decorre, em grande medida, do
efeito do aumento da procura pelos países asiáticos, em particular da
China. O crescimento da China teve como base a exportação de produtos
manufacturados, contribuindo assim não só para o aumento do preço das
nossas importações como para a diminuição do preço das nossas
exportações.
Neste contexto, um produtor de açúcar ou de café, que nada tenha feito
para melhorar a sua produção por hectare ou por trabalhador, pode
registar um aumento de produtividade de 300%, enquanto um industrial
do Vale do Ave que tenha feito investimentos em maquinaria, em
formação e melhorado a gestão da sua empresa, pode ter conseguido
aumentar em 30 ou 40 % a produção por trabalhador e mesmo assim ter
ganhos de produtividade nulos, não conseguindo mais do que igualar a
queda de preços que ocorreu.
Três conclusões emergem desta análise. 1. – Não vale a pena andar a
culpar os nossos empresários pela sua incapacidade em fazer melhor.
Perante um cenário de evolução de preços destes e a maior crise
internacional desde 1929, o facto de as exportações estarem a crescer
como estão, prova uma resiliência fantástica. 2. – É errado pensar que
políticas como as de apoio à investigação, à internacionalização ou à
qualificação não tiveram os resultados esperados. Os resultados têm de
ser avaliados em prazos mais alargados e a avaliação tem de ter em
conta o contexto particularmente desfavorável. 3. – O contexto
internacional está aí para ficar. Os efeitos da China na procura e
oferta mundial não vão desaparecer. As empresas portuguesas sofreram
um choque, mas a evolução das exportações mostra que estão a conseguir
reagir bem, em múltiplos sectores. As alterações também trazem
oportunidades, nomeadamente no aproveitamento dos nossos recursos
naturais. Há já exemplos positivos na fileira florestal, ou no
aproveitamento dos recursos energéticos e em algumas agro-indústrias,
mas há muitas oportunidades por aproveitar na agricultura, na
indústria extractiva e no mar.
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