quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

SETUBAL: Exportação de vinho da região equilibra balança comercial do país

A vocação exportadora e o reconhecimento das marcas de vinho de toda a
região de Setúbal, em especial aquele produzido nas adegas de Palmela,
nos mercados estrangeiros são tidos pelo governo como fatores
positivos para ajudar a equilibrar a balança comercial nacional. Edite
Azenha, vice presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), admite
que "a comercialização do vinho da região de Setúbal no estrangeiro
tem tido uma trajetória em contra ciclo face a outros setores que
estão em declínio, como o setor do leite". Ao considerar que "o ano de
2012 vai trazer muitas dificuldades para o país", Edite Azenha
pretende que "o crescimento do setor da vinha seja mais acentuado".
"As adegas da região de Setúbal trabalham com equipamentos e
tecnologias modernos e eficientes, produzindo vinho duma qualidade
excelente e mais adequados ao perfil do consumidor", afirma a vice
presidente do IVV, adiantando que toda a região é "beneficiada pela
visibilidade que possui, com as várias distinções reconhecidas

internacionalmente". Luís Calha, vereador do turismo na Câmara
Municipal de Palmela, admite que "o setor vitivinícola de Palmela, com
todas as condições distintas de produção de várias qualidades de
vinho, é uma alavanca para dinamizar a economia do concelho e de toda
a região".
No ano em que Palmela é distinguida com o título de cidade europeia do
vinho, a visibilidade e a promoção dos produtos vinícolas além
fronteiras é, para Luís Calha, uma forma de "aumentar a visibilidade
do vinho da região", acrescentando que "a autarquia pretende fazer uma
grande produção em torno desta consagração". Por seu lado, Avelino
Antunes, assessor da Associação de Agricultores do Distrito de
Setúbal, revela que, "ao mesmo tempo que Palmela recebe o título de
cidade europeia dos vinhos, alguns agricultores pensam abandonar a
produção", sendo por isso necessários "apoios governamentais que
defendam os pequenos e médios agricultores e as agriculturas
familiares".
"Compete ao Estado assumir uma política que ajude os mais carenciados,
mas o que se vê é a salvaguarda de apenas meia dúzia de grandes
produtores", afirma Avelino Antunes. Ao contrariar a Associação de
Agricultores do Distrito de Setúbal, Edite Azenha admite que "a
agricultura familiar é defendida pelas políticas do Estado mas, por
não ter um carácter competitivo no mercado, precisa de ser auto
sustentável", e acrescenta a grande preocupação que a "continuação do
desenvolvimento do setor vitivinícola tem para as contas nacionais".
"A presença e distinção das marcas vinícolas da região de Setúbal em
mercados bastante competitivos estrangeiros deve ser um instrumento
estratégico utilizado pelo governo", afirma a vice presidente do IVV,
anunciando "alguns apoios aos produtores, já que é preciso ganhar
massa crítica, escala e aumentar a oferta". Um novo seguro para os
agricultores que vai cobrir desde 50 a 80 por cento das perdas
agrícolas vai fornecer uma "rede de segurança financeira para o
rendimento dos produtores", prossegue Edite Azenha, acrescentando que
"esta medida vai ser assegurada pelas companhias de seguro privadas" e
não pelo Instituto da Vinha e do Vinho.
"A opção de não alterar o IVA no vinho, mantendo-se nos seis por
cento, vai contribuir para a boa competitividade do produto nos
mercados estrangeiros", prossegue a vice presidente do IVV,
acrescentando que esta medida foi tomada pelo Governo "mesmo tendo em
consideração o facto de o vinho não ser um bem de primeira
necessidade, mas um produto que faz parte da cultura mediterrânica".
"É necessário que, no estrangeiro, se associe uma garrafa de vinho
portuguesa à imagem de um país capaz de produzir em quantidade e em
qualidade", afirma Edite Azenha.
José Caleira, presidente da Adega Cooperativa de Palmela revela a
existência de produtores associados que "sentem algumas dificuldades
em conseguir exportar o que produzem" e admite que "muitos têm de
colocar rendimentos de outras atividades na produção vinícola para
fazer face aos problemas". O presidente da Adega Cooperativa de
Palmela considera mesmo que "não se vê nenhum futuro para os pequenos
agricultores se as ajudas por parte do governo não chegarem para fazer
face às perdas que têm".
Na Adega Cooperativa de Pegões, "tem sido possível comercializar tudo
o que é engarrafado", diz Mário Figueiredo, declarando que o problema
passa "pela margem excessiva que a parte comercial cobra". "As grandes
cadeias de distribuição levam grande parte das receitas da
comercialização do vinho", afirma o presidente da Adega Cooperativa de
Pegões, acrescentando a esperança de "ter mais valor nas uvas colhidas
no ano de 2011".
Joaquim Caçoete, presidente da AADS, entrega ao governo a
responsabilidade de "fazer face às perdas na vinha, compromisso
assumido que deve ser cumprido até ao final da campanha" e culpabiliza
as "grandes cadeias de distribuição alimentar e as superfícies
comerciais pela atual situação de estrangulamento financeiro por que
os agricultores do distrito passam". O presidente da AADS admite ainda
grande preocupação pelos "pequenos produtores de uva e a agricultura
familiar, que precisam de ter rentabilidade para que não abandonem as
suas explorações".
"Muitos dos pequenos agricultores não conseguem iniciar agora os
trabalhos nas vinhas", declara Joaquim Caçoete, adiantando "muitos
atos criminosos que as grandes superfícies comerciais cometem ao
venderem arroz a vinte cêntimos quando o compram a 30 cêntimos". João
Vieira, dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA)
culpabiliza o "livre comércio por estrangular os produtores agrícolas"
e considera ser insustentável "competir num cenário de globalização
onde as armas não são igualmente distribuídas por todos os países".
"De norte a sul do país se verifica uma perda nos rendimentos dos
agricultores", afirma João Vieira, lembrando ainda que "no passado, o
Estado levava o vinho não comercializado e garantia os preços à
produção". Ao verificar que a modernização da agricultura "trouxe mais
custos e menos lucro", o dirigente da CNA declara que "o modelo em
vigência não deve ser a fuga para a frente e o aumento da produção,
porque os beneficiados são sempre os grandes grupos".
João Vieria critica ainda os bancos e as grandes superfícies
comerciais por serem "os únicos a beneficiar da mecanização da
agricultura, enquanto os pequenos produtores passam por imensas
dificuldades". "A corrida ao gigantismo e o aumento cada vez maior da
produção não faz sentido num cenário de crise económica por que o país
passa onde se produz muito mas vende-se pouco", adianta o membro da
direção da CNA.
Rogério Matos - 10-01-2012 20:15
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