sábado, 18 de fevereiro de 2012

OMS adia publicação de estudos sobre vírus mutado da gripe das aves

Mutação poderá ser transmissível entre humanos e teme-se que sirva
para bioterrorismo
17.02.2012 - 21:42 Por PÚBLICO
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O H5N1 mata milhões de aves (Francois Lenoir/Reuters (arquivo))
A decisão que saiu da reunião à porta fechada da OMS sobre a maior
polémica científica dos últimos meses é a de manter dentro da gaveta
os dois estudos sobre o vírus mutado H5N1, que poderá ser
transmissível entre humanos. A moratória também se mantém para a
investigação desta mutação de vírus enquanto se avalia os aspectos de
biosegurança.

"Dada a grande mortalidade associada com este vírus, todos os
participantes deste encontro enfatizaram o alto nível de preocupação
deste vírus na comunidade científica e a necessidade de compreendê-lo
melhor com mais investigação", disse Keiji Fukuda, responsável da OMS,
citado num comunicado da organização. "Os resultados desta nova
investigação mostram claramente que o vírus H5N1 tem o potencial de
transmitir mais facilmente entre pessoas, sublinhando a importância
enorme para a continuação da vigilância e da investigação deste
vírus."
O problema começou em Setembro quando uma equipa holandesa revelou ter
produzido mutações no vírus da gripe das aves H5N1, que era capaz de
passar de uma doninha para outra (o modelo mais parecido com os
humanos para estudar o vírus da gripe). Por enquanto na natureza, este
vírus só passa de aves para humanos. Mas a sua mortalidade em humano é
de 59%, segundo a Organização Mundial de saúde, um valor muito
superior às estirpes da gripe que causaram no passado pandemias, como
a gripe espanhola que em 1918 e 1919 matou entre 20 a 50 milhões de
pessoas.
Depois da equipa holandesa, outra equipa dos EUA conseguiu o mesmo
feito. Ambas enviaram um manuscrito sobre a descoberta para a
publicação nas revistas científica de topo Science e Nature. Mas em
Dezembro, a Agência nacional para a ciência e biosegurança dos Estados
Unidos pediu para as duas revistas não publicarem os artigos com medo
que a informação fosse utilizada para construir uma arma de
bioterrorismo.
A 20 de Janeiro, os cientistas de 20 equipas assinaram uma moratória
para pararem a investigação sobre o H5N1 durante 60 dias, para que se
avaliasse o perigo da descoberta. Entre as equipas que assinaram a
moratório estão os dois grupos que produziram o vírus mutado.
Yoshihiro Kawaoka, líder do grupo dos EUA, da Universidade de
Wisconsin-Madison, criticou a moratória num artigo da Nature. "Algumas
pessoas argumentam que os riscos destes estudos – mau uso e a
libertação acidental do vírus, por exemplo – pesam mais do que os
benefícios", escreveu. "Oponho-me a isso, o vírus H5N1 que circula na
natureza já é uma ameaça, porque os vírus da gripe mutam
constantemente e podem estar na origem de pandemias que causam grande
perda de vidas."
A reunião que terminou nesta sexta-feira e que envolveu 22 pessoas,
incluindo os líderes das duas equipas de investigação, editores das
duas revistas envolvidas, responsáveis da OMS e de algumas da agências
de saúde mais importantes, concluiu que era necessário "estender a
moratória temporária na investigação com o novo vírus H5N1 modificado
em laboratório e reconhecer a necessidade de se continuar a
investigação no H5N1 que ocorre naturalmente na natureza para se
proteger a saúde pública", diz o comunicado.
Quanto á publicação dos dois artigos, foi decidido que o melhor seria
publicar a informação toda, mas não já. "Há preferência pela
divulgação total da informação sob um ponto de vista de saúde pública.
No entanto, há preocupações públicas significativas à volta desta
investigação que devem primeiro ser abordadas", disse Fukuda.
Nomeadamente, informar e fazer com que o público compreenda esta
investigação e rever aspectos de biosegurança que surgiram com o vírus
mutado.
http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/oms-adia-publicacao-de-estudos-sobre-virus-mutado-da-gripe-das-aves-1534290

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