segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Exportações de azeite disparam 40% e já valem mais de 161 milhões de euros

Agricultura

28.10.2012 - 09:23 Por Ana Rute Silva
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Mais de 62% de toda a produção nacional está no Alentejo
(Foto: Enric Vives-Rubio)
A produção atingiu, no ano passado, o valor mais alto desde 1967. Com
mais de 76 mil toneladas de azeite a abastecer o mercado interno e
externo, o sector vive, actualmente, um período áureo.

A produção nacional de azeite atingiu, na última campanha, o valor
mais alto desde os anos 1967 e 1968: 76.203 toneladas que ajudaram a
estimular o ímpeto exportador do sector. Entre Janeiro e Agosto deste
ano, as vendas internacionais dispararam 40%, em comparação com o
período homólogo de 2011. E já valem mais de 161 milhões de euros.
Este é também o melhor resultado de sempre, 88% superior às vendas
para o estrangeiro conseguidas, por exemplo, em 2006.

"Há cinco anos, ninguém teria imaginado que seria possível este
crescimento. A forma como os indicadores dispararam não era
expectável", admite Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite,
Associação do Azeite de Portugal.

O investimento no olival que tem sido feito nos últimos anos,
sobretudo no Alentejo, está a ter efeitos práticos na balança
comercial, que, pela primeira vez, tem saldo positivo. Mariana Matos
diz que a produção vai aumentar ainda mais quando o novo olival
plantado der frutos. "Em Junho de 2011, havia intenções de plantar
mais 6309 hectares de olival. Ainda há milhares de hectares para
entrar em produção", garante.

Mais de 62% de toda a produção nacional está no Alentejo, que passou
de 14.854 toneladas em 2004 para 47.278 o ano passado. Com mais azeite
no mercado, as vendas para o estrangeiro cresceram entre Janeiro e
Agosto deste ano. E não foi pouco.

"Este aumento acontece em grande parte devido ao Brasil", começa por
explicar Mariana Matos. Dados do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior brasileiro, citados pela Casa do Azeite,
mostram que nos primeiros oito meses de 2012 as compras a Portugal
aumentaram 28,6%, para 27.816 toneladas. Espera-se que, no final do
ano, haja subidas, já que "as grandes exportações são feitas no Natal,
quando acontece o pico máximo".

O Brasil compra 40% do azeite que consome a Portugal. Segue-se Espanha
(o maior produtor europeu), a quem comprou 11.200 toneladas entre
Janeiro e Agosto (7,8% de aumento) e Itália.

De acordo com dados do INE, no bolo total das exportações portuguesas,
o Brasil pesa 57% em valor. Os primeiros oito meses do ano renderam 93
milhões de euros em vendas para este mercado, mais 35% face ao período
homólogo. Os maiores operadores como a Sovena (dona da Oliveira da
Serra) e a Gallo Worldwide há muito encontraram no Brasil um destino
rentável para os seus produtos.

Azeite a granel para Itália

O crescimento das vendas internacionais foi transversal a quase todos
os principais mercados onde o sector nacional opera, com excepção da
Venezuela e dos Estados Unidos. "As exportações não se mantêm
estáveis. Em 2011 atingiu-se um pico", explica Mariana Matos,
referindo-se aos EUA, país que pondera impor restrições às importações
de azeite para estimular a produção local (ver caixa).

Espanha é o segundo destino do azeite português e atingiu em 2011 o
valor mais alto dos últimos cinco anos (40,3 milhões de euros). Até
Agosto de 2012 cresceu 50% em comparação com os primeiros oito meses
do ano passado, para 33,4 milhões. Já as vendas para Itália (terceiro
mercado) dispararam para 8,7 milhões até Agosto, contra os 1,7 milhões
conseguidos em 2011. É também o melhor desempenho desde, pelo menos,
2006.

De acordo com Mariana Matos, este é um fenómeno novo, até porque a
maior parte do azeite vendido a Espanha e Itália é a granel e
não-embalado. "Sai do Alentejo em grande quantidade em direcção a
Espanha e Itália", descreve.

Há empresários espanhóis que vêm a Portugal comprar directamente e
empresários portugueses que apostam neste nicho de mercado e escoam a
produção para os maiores produtores europeus. Além disso, "o mercado
italiano é muito deficitário e o preço do azeite é sistematicamente
mais elevado do que em Espanha e Portugal. Assim, apesar das vendas
serem a granel, é um bom negócio", analisa Mariana Matos.

As marcas italianas, reconhecidas e valorizadas em mercados como os
Estados Unidos, fazem o loteamento (junção de vários lotes de azeite)
com produto de origem italiana e portuguesa. "Na prática, podemos
comprar uma marca italiana com produto português", aponta. Depois das
quedas sucessivas na produção que aconteceram depois da campanha de
1967/1968, o sector vive um momento áureo.

O auto-aprovisionamento chega, agora, aos 93%, contudo, a percentagem
de cobertura das necessidades totais (consumo interno e exportações)
ronda os 50%. Os produtores também se debatem com uma redução dos
preços do azeite nos mercados internacionais e uma subida dos custos
de produção.

O preço baixo, que não agrada aos agricultores, tem tido impacto nas
prateleiras dos supermercados: o volume de vendas aumentou 3,4% entre
2010 e 2011, de acordo com dados da Nielsen apresentados pela Casa do
Azeite. Em Portugal consomem-se 82 mil toneladas de azeite (2011) e a
expectativa é que aumente para as 91 mil até 2020. Os preços também
deverão sofrer subidas: devido às condições climatéricas e à seca,
espera-se uma "grande quebra na produção", nomeadamente em Espanha. Os
preços, diz Mariana Matos, "já estão a reagir a essa expectativa e
sobem nos mercados internacionais".

Quanto ao futuro, as estimativas da Casa do Azeite para os próximos
anos são de contínuo crescimento. No período entre 2016 e 2020 a
previsão média é de um aumento nas exportações de 30% comparando com
os anos 2011-2014. Até 2020, Portugal pode chegar às 98 mil toneladas,
o que "não é de todo exagerado, mas não chega para as exportações".

Limitação às importações

Portugal já está a articular-se com outros países produtores de azeite
da União Europeia para tentar travar uma possível restrição às
importações de azeite que está a ser ponderada nos Estados Unidos. O
mercado dos EUA é um dos mais importantes para Espanha e é o sexto
para Portugal. Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite,
sublinha que esta restrição vai afectar "particularmente as
exportações europeias".

"A defesa dos interesses europeus nesta matéria passa por uma acção
diplomática da UE, concertada com os Estados-membros produtores e com
o Conselho Oleícola Internacional (COI)", sublinha. Os Estados Unidos
são o principal mercado importador do mundo e compram no estrangeiro
perto de 300 mil toneladas de azeite. Ao limitar as importações, o
Governo americano espera impulsionar a produção local de pouco mais de
10 mil toneladas.

"A possível publicação nos Estados Unidos de uma marketing order para
o azeite vai implicar uma série de procedimentos administrativos que
prejudicarão muito as exportações para aquele mercado", defende a
secretária-geral da Casa do Azeite. Esta medida, continua, é uma
"barreira comercial". "São os produtores de azeite da Califórnia que
estão a pressionar as autoridades americanas, embora só representem
cerca de 2% do azeite que se consome nos EUA", acrescenta.

Nos primeiros oito meses do ano em curso, Portugal exportou para este
país 2,9 milhões de euros em azeite, uma queda de 8% em comparação com
o mesmo período de 2011. Desde 2006, e até ao ano passado, as vendas
para os Estados Unidos da América cresceram 8%.

http://economia.publico.pt/Noticia/exportacoes-de-azeite-disparam-40-e-ja-valem-mais-de-161-milhoes-de-euros-1569152

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