sábado, 3 de novembro de 2012

Portugal diz adeus às oliveiras centenárias

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1 de Novembro, 2012por Sónia Balasteiro
Em Portugal, 33% do olival já é intensivo ou super-intensivo. Os
ambientalistas alertam para as consequências: erosão do solo e
poluição da água.

Cerca de um terço (33%) do olival português já é cultivado em regime
intensivo e super-intensivo – avançou ao SOL fonte oficial do
Ministério da Agricultura.

A maior parte, esclarece o gabinete da ministra Assunção Cristas, «são
olivais novos», que ocupam já uma área de 21 mil hectares, quase todos
no perímetro de rega do Alqueva. Mas também há reconversões de
oliveiras tradicionais e centenárias para os dois novos modos de
produção intensiva. Aliás, das 91.598 toneladas de azeite anuais que o
Governo estima que se produzam em 2020, mais de metade (58.544
toneladas) será proveniente de olivais em sistema intensivo, no
Alentejo.

A 'invasão' das pequenas oliveiras – que atingem entre 50 cm a um
metro de altura, e têm uma concentração de mais de 1. 500 árvores por
hectare – está, porém, a alarmar os produtores de olival tradicional,
com origem milenar em Portugal, e os ambientalistas.

Em Trás-os-Montes, por exemplo, os olivicultores garantem não ter
hipótese de competir com o sistema super-intensivo do Alentejo –
região que já detém o maior olival do país, com 49% do total, segundo
dados do Ministério da Agricultura.

«Infelizmente, em Trás-os-Montes não há nem sistemas de rega nem
escala», explica Francisco Pavão, da Associação de Olivicultores de
Trás-os-Montes e Alto Douro, onde se concentra 22% do olival
português. Os números não deixam dúvidas: «Temos 37 mil olivicultores
para 84 mil hectares de olival. Dá pouco mais de dois hectares por
produtor».

Para fazer face à concorrência alentejana, em Trás-os-Montes a aposta
tem sido diferenciar o produto. «Produzimos azeite tradicional,
biológico, com Denominação de Origem Protegida, e apenas com as três
castas nacionais. As castas exóticas [típicas dos sistemas intensivo e
super-intensivo] não se adaptam aos clima de sequeiro» – explica
Francisco Pavão.

A necessidade de regadio em grandes quantidades é, aliás, uma das
principais questões a acirrar ânimos entre ambientalistas e produtores
de olival intensivo e super-intensivo.

10 anos de vida em vez de centenas
Eugénio Sequeira, da Liga de Protecção da Natureza (LPN), avisa que «a
necessidade constante de água deste tipo de produções tem custos
demasiado elevados» para o planeta. «Como em qualquer produção
intensiva, o controlo de pragas é mais difícil. Utilizam-se mais
fertilizantes, mais herbicidas, que vão deteriorar a qualidade das
águas subterrâneas por longos anos e deteriorar os solos. É criminoso»
– explica.

Domingos Patacho, da Quercus, lembra também que o olival intensivo
«está a arrasar plantas raras por causa dos herbicidas». «E em poucos
anos desaparecem solos que levam milhares de anos a formar-se» –
conclui, referindo-se ao facto de estas oliveiras terem uma duração
média de vida de dez anos.

Os produtores respondem com dados. Depois de em 2007, terem chegado ao
país várias empresas espanholas para explorar estes sistemas, começou
o boom destes olivais com castas exóticas, que está a mudar a paisagem
alentejana. A qualidade do azeite, garantem os produtores, não está em
causa. Mas aumentou a quantidade.

Só o grupo Sovena, um dos principais produtores do país (que
comercializa o Oliveira da Serra) detém entre Elvas, Avis e Ferreira
do Alentejo nove mil hectares em sistema super-intensivo, e outros mil
em intensivo: «O olival de regadio aproveita a água mas de forma muito
controlada», garante Luís Folque, administrador do grupo. E
acrescenta: «De todas os cultivos de regadio, é o que consome menos
água e menos fertilizantes». Com o investimento de 200 milhões de
euros, o gestor estima atingir, em 2016, as 18 mil toneladas de
azeite.

Segundo dados do Governo, desde 2007 foram submetidos ao PRODER 325
projectos para implementar olival intensivo, representando 214 milhões
de euros de investimentos – da UE chegaram 79 milhões de euros em
ajudas aos agricultores portugueses.

Mas, lembra Eugénio Sequeira da LPN, está a repetir-se o que
«aconteceu com as culturas cerealíferas no Alentejo» e com as
produções intensivas em Espanha: «Este tipo de culturas dá muito
dinheiro a curto prazo, mas depois vai degradar tudo». «Foi o que
Espanha fez em muito pouco tempo. Preencheu as suas quotas de produção
intensiva e ficou sem terrenos agrícolas de qualidade», salienta.

sonia.balasteiro@sol.pt

http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=62141

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