quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Extrativismo ou Desenvolvimento Rural

As estratégias de algumas fileiras silvo-industriais em Portugal
aparentam ter características terceiro-mundistas, de índole meramente
extrativista, dissociadas do crescimento sustentável da atividade
silvícola, que lhes garante o suporte de abastecimento de
matéria-prima nacional, e bem assim desenquadradas de políticas de
Desenvolvimento Rural.

Tais estratégias industriais evidenciam estar assentes num
relacionamento de egoísmo face aos demais agentes da cadeia
silvo-industrial, em particular da produção florestal, o que se pode
constatar pela análise dos mais recentes dados específicos publicados
pelo Instituto Nacional de Estatística.

Assim, segundo o INE, a par de um "saldo fortemente positivo" da
balança comercial portuguesa de produtos industriais de base florestal
entre 2006 e 2010, o período de 2000 a 2010 registou um "declínio
progressivo da atividade silvícola", com uma taxa de variação média
anual de -2,0% em volume e de -2,3% em valor, muito embora os custos
intermédios tenham registado, nesse mesmo período, um acréscimo de
7,1%. A esta situação é imputável quer o aumento do abandono na gestão
dos espaços florestais, quer o acréscimo na propagação dos fogos em
povoamentos, como registado em 2012, apesar da diminuição das
ocorrências.

A estes factos aparecem associadas evidências de subjugação do poder
político ao poder económico, abstraindo-se a tutela política da sua
função de regulação dos diferentes interesses económicos, ambientais e
sociais em presença.

Como exemplo destas evidências aparece o recente caso da proposta
governamental de massificação da cultura do eucalipto. O aumento da
área de eucaliptal, em teoria a cultura financeiramente mais atrativa
para os proprietários florestais tem sido acompanhada por uma
diminuição do rendimento empresarial líquido e do peso da silvicultura
na economia nacional. Apesar da duplicação da área de eucaliptal em
Portugal nos últimos 30 anos, ocupando o país o 5.º lugar a nível
mundial nas plantações com estas espécies, neste mesmo período, o
Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura (produção e exploração
florestal), face ao VAB nacional, registou um decréscimo de 1,2% em
1990 para 0,4% em 2010.

Um outro exemplo, ocorre na fileira energética, concretamente na
produção de pellets energéticas, onde as garantias de sustentabilidade
de recursos naturais está longe de ser comprovada. Portugal exporta
mais de 90% das mais de 900 mil toneladas de pellets que produz, mas
durante quanto tempo o conseguirá fazer? 10 anos? 15 anos? Quais as
consequências desta produção ao nível da delapidação dos recursos
naturais, que embora renováveis carecem de um esforço para uma
renovação consequente, assente numa adequada gestão cultural. Neste
contexto, afigura-se fundamental a participação desta industria na
aquisição e/ou na gestão de área florestal para garantia de
autoabastecimento, que sirva simultaneamente para o desenvolvimento e
a consolidação das melhores práticas culturais associadas a produções
dedicadas.

A indústria florestal portuguesa tem assim, apesar do seu forte
impacto exportador, de comprovar ser geradora de resultados líquidos
positivos para a Sociedade, não só no plano económico, mas igualmente
nos planos ambiental e social, facto que está longe de se poder
vislumbrar atualmente. Para o efeito, deve começar por ajustar as suas
relações com a produção florestal nacional, conferindo-lhes maior grau
de altruísmo, hoje residual, com o intuito de controlar o abandono da
gestão dos solos, que hoje representam já cerca de 20% da área
continental portuguesa.

Exorta-se assim as principais empresas da indústria pesada de
transformação de base florestal a comunicarem à Sociedade as suas
estratégias de Responsabilidade Social, não apenas as que envolvam os
locais onde têm instaladas as suas unidades fabris, mas
fundamentalmente junto das populações rurais dos concelhos nos quais
extraem recursos naturais, matérias-primas para a sua atividade
industrial

Afinal de contas, quem não deve, não teme.

Lisboa, 13 de novembro de 2012

A Direção da Acréscimo

http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2012/11/13b.htm

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