segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Nisto todos sabem que Portugal é o número um


por LEONÍDIO PAULO FERREIRAHoje1 comentário

O tal Wall Street Journal que há um mês criticava a nossa perdição pela 'Bimby', aplaude agora a cortiça portuguesa. Na verdade, William Lyons elogia é a cortiça, mas isso é o mesmo que saudar o País que tem um terço dos sobreiros mundiais, assegura metade da produção e contribui com 70% das exportações. Ena, tanta eficiência impressiona.
O título do artigo é "Why Cork Is Still a Show-Stopper". Pode traduzir-se como "Por que a cortiça continua digna de aplauso" mas perde-se o duplo sentido de stopper, rolha em inglês. E é mesmo sobre rolhas que o jornal americano escreve, lembrando que a vitória da cortiça sobre o plástico e o alumínio chegou a ser incerta. É que um químico chamado TCA, o "sabor a rolha", ameaçava um dos produtos portugueses mais genuíno, que até se reinventou como roupa.
Basta olhar para o mapa dos montados de sobro para se perceber que a cortiça foi uma dádiva da natureza a Portugal. A mancha cobre boa parte do País, sobretudo o Sul, alastra à Extremadura e Andaluzia, reaparece na Catalunha e na França meridional, impressiona na Sardenha, surge de novo no Sul italiano. Outra mancha existe em Marrocos, mais uns salpicos na Argélia. Se há material típico do Mediterrâneo Ocidental é a cortiça. A Rússia plantou sobreiros, mas falhou.
Só a natureza não chega. Os portugueses sempre foram bons a plantar sobreiros e a tirar a cortiça. E por isso os melhores vinhos do mundo não dispensam as rolhas nacionais. À tradição, a indústria soube acrescentar ciência, e é isso que o Wall Street Journal destaca. Não se trata de uma ode à paisagem, nem a técnicas que vêm dos romanos, mas sim de elogio "aos produtores portugueses que introduziram muitas melhorias para satisfazer os seus cada vez mais exigentes clientes". Até se destaca a colaboração entre as corticeiras e os châteaux de Bordéus.
Acabar com o sabor a rolha parece ser uma batalha ganha. Mesmo que nunca a 100%. E por isso se estuda a possibilidade de mudar a rolha em certas garrafas mais prestigiadas ao fim de alguns anos. Mais uma vez a técnica a trabalhar, de novo Portugal a mostrar engenho.
O glamour da cortiça joga a favor da nossa produção. Consumidores cada vez mais sabedores, na América como na China, pressentem que o plástico não casa com a sensualidade do vinho.
Voltemos aos media anglo-saxónicos, com fama de duvidar da economia portuguesa. Há meses, também o blogue de Jancis Robinson, a enóloga do Financial Times, elogiou a cortiça e com um daqueles títulos em que os ingleses são mestres: "O império da cortiça contra-ataca". Descrevia como a Amorim estudara as oito mil garrafas abertas no Concours Mondial de Bruxelles para saber o que podia fazer contra o TCA. Tudo com recurso a tecnologia capaz de deixar um britânico a salivar por mais.
Brindemos ao Portugal que alia tradição e ciência. Nem todas as notícias têm de saber a rolha.




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