domingo, 18 de janeiro de 2015

Revolução da batata transforma economia chinesa


RTP
17 Jan, 2015, 18:27

Revolução da batata transforma economia chinesa
Reuters
Para a milenária civilização do arroz, adoptar uma dieta baseada na batata soa a revolução cultural, tão profunda como a que abalou a China em 1966. Mas aqui imperam cálculos económicos.
Na Revolução Cultural de há quase meio século, a força motora foram em primeiro lugar os estudantes, armados com o Livro Vermelho do pensamento de Mao Tsetung. E, como mandava o pensamento do "grande timoneiro", a política encontrava-se "no posto de comando", com o objectivo de fazer tábua rasa da cultura, da ciência, do modo de vida burgueses.

Hoje, a revolução da batata decretada pelo Governo de Pequim não pretende negar uma larga evolução anterior, nem fazer tábua rasa da "longa marcha" que já vem apontando nesse sentido. A China é já hoje a maior produtora de batata do mundo. Em cada quatro batatas do planeta, uma foi produzida na China. O nome chinês do tubérculo, denotando a origem estrangeira e o longo caminho percorrido, é literalmente "feijão da terra": 转自

Há no entanto toda uma cultura por revolucionar. Na dieta corrente dos milhares de milhões de chineses, a batata aparece sempre cortada em pequenas tiras e misturada com vários legumes, todos fritos num Wok, sem nunca ser ingerida em quantidades que possam saciar por si só um apetite normal.

Na semana passada, o vice-ministro da Economia, Yu Xinrong, citado no diário oficial Renmin Ribao, anunciou a intenção de aumentar a produção de batata em 50 milhões de toneladas no próximo quinquénio, a juntar aos 85 milhões produzidos actualmente, e que deixam largamente para trás os 10 milhões da Alemanha, uma agricultura tradicionalmente mais batateira do que qualquer outra do Ocidente.

Xinrong anunciou que, para o efeito, se aumentará os subsídios aos camponeses que cultivem batata, se investirá na criação de mais variedades geneticamente modificadas e se facilitará o acesso a adubos químicos. E apresentou a grande campanha de promoção da batata como norteada por preocupações de saúde pública. Com o encorajamento das autoridades, erigem-se monumentos à batata, como o representado nesta foto, feito de uma variedade de batata doce, no festival da batata de Dongxing. A televisão pública chinesa CCTV está já a emitir uma série culinária dedicada à batata. 

Mais do que as preocupações de saúde pública, poderão pesar nesta nova linha de rumo as vantagens económicas: a batata cresce mais depressa, consome menos água e apresenta uma taxa de desperdício menor do que a maioria das outras culturas.

Segundo Sun Maojun, investigador do Instituto para o Desenvolvimento da Nutrição, do Ministério da Agricultura, citado no mesmo diário, "as batatas necessitam de muito menos água do que os grãos, e dão-nos esperanças de que o norte árido [da China] possa ter um futuro sustentável".

Sem comentários:

Enviar um comentário