quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Água e Energia em REGADIO

Opinião:
Ilídio Martins, Vice Presidente da Direção da Federação Nacional de
Regantes de Portugal
24 de Janeiro - 2013
Uma agricultura moderna e competitiva tem necessariamente de envolver
dois factores de produção: água e energia. Sobre a água muito se tem
escrito e debatido, tendo sido claramente uma preocupação dos
empresários agrícolas, dos técnicos, das suas organizações e de vez em
quando dos governantes (sobretudo quando há seca).



A seca de 2012, para além dos malefícios conhecidos, teve o mérito de
mais uma vezse falar em água e da necessidade de eficiência e
racionalidade no uso do recurso, tendomesmo ressuscitado a discussão
sobre o programa nacional para o uso eficiente da água,neste caso com
uma proposta para a sua implementação para o período 2012/2020.
Estedocumento foi objecto de discussão pública em Julho de 2012.
Felizmente o ciclometeorológico modificou-se, resolvendo o problema da
escassez, deixando para segundoplano a questão da eficiência e bom
uso.Nos últimos anos, quer o Estado, quer os empresários agrícolas têm
investido emmodernos sistemas de adução de água, os quais permitem um
maior controlo e gestãoefectiva do recurso água. São o caso dos
modernos blocos de rega de Alqueva, onde a águaé fornecida filtrada,
em pressão, de acordo com a exigência produtiva das
exploraçõesagrícolas. Esta maior qualidade e fiabilidade do serviço
prestado tem como input essencial ogasto de energia eléctrica. O mesmo
se passa ao nível das explorações agrícolas, nosmodernos sistemas de
gota a gota ou nos center pivot.A escassez de água, a evolução dos
custos energéticos e a actual realidade agrícola,com uma maior
exigência de racionalização de custos, levam a uma nova necessidade
dereflexão, da qual são indissociáveis a necessidade inequívoca de
poupar, em simultâneo,água e energia.A FENAREG levou recentemente a
efeito as jornadas técnicas subordinadas a estetema Eficiência
Energética em Regadio(1), realizadas no âmbito do Projecto Inovação
edesenvolvimento do Regadio, co-financiado pelo Programa da Rede Rural
Nacional –MAMAOT - FEADER. Impulsionados pelo lançamento do livro:
Guia de rega - Eficiência ePoupança Energética em Regadio(2), este
fórum foi uma oportunidade de debate de ideias, datransmissão de
experiências e análise de soluções de ganhos de eficiência. Note-se
que osaproveitamentos hidroagrícolas (sem Alqueva) têm, no seu
conjunto, uma potênciainstalada total de 73.000 kW, na maioria, com
contratos de fornecimento em Média Tensão.A factura energética
representa, para as Associações de Regantes que gerem estas obras
derega, por ano, mais de 1,8 milhões de euros. Em alguns casos o custo
da energia chega arepresentar 70% do preço da água para rega.Auditar
todas as instalações eléctricas das obras de rega colectivas, geridas
pelosassociados da FENAREG, é uma necessidade. Só medindo, avaliando e
elaborando projectosde requalificação e modernização destas estruturas
será possível poupar no recurso energia.Atendendo a que a energia é
indissociável da utilização da água nesta actividade, aFENAREG
depositou na experiência e capacidade do COTR - Centro Operativo
eTecnológico do Regadio, a realização destas auditorias que vão
acontecer durante 2013 e2014.Portugal necessita de melhorar a
eficiência(3) da gestão e utilização da água e daenergia, propondo-se
a FENAREG continuar a trabalhar, em conjunto com os seusAssociados
para esse objectivo. Reduzem-se custos, poupam-se recursos, todos
ganhamos.Para além de medidas pontuais de apoios aos encargos com a
energia, como aelectricidade verde, poderiam e deveriam ser
implementadas outras formas de redução dafactura energética. Numa
altura em que se sente que o "mercado liberalizado de energia"não está
de facto a funcionar, com sucessivos aumentos dos preços, tem sido
aresponsabilidade da FENAREG fazer chegar ao Ministério da Agricultura
as preocupaçõesdo custo energético do uso da água na agricultura e
identificar medidas que contribuampara o aumento da competitividade do
sector do regadio, sector de aposta do Governo.Das várias medidas que
a FENAREG fez chegar ao Ministério destacamos a principalque atenderia
ao carácter sazonal do sector do regadio: a possibilidade de realizar
doiscontratos por ano ou dois períodos de potência contratada por ano.
A necessidade de regaracontece, geralmente, de Abril a Setembro, sendo
que nos restantes meses as instalações(estações elevatórias, sistemas
de rega…) estão paradas ou com uma utilização mínima. Fazsentido
pagar, ao longo de todo o ano, taxas de potência elevadas necessárias
apenas paraos períodos de ponta? Porque não será possível efectuar
dois contratos de potência numano: um para o período de efectiva
actividade e outro para o período de não actividade oude actividade
reduzida? Este é um problema comum às obras colectivas de rega,
àsexplorações agrícolas e à indústria agro-alimentar (lagares,
fábricas de tomate…), com claroprejuízo da nossa competitividade. Por
muito esforço de boa gestão da energia eracionalização deste recurso,
o sector agrícola sente que lhe está a ser cobrado um impostofixo
mensal, independentemente da sua actividade produtiva. Para o sector,
maisimportante do que uma energia subsidiada, é uma energia com menos
impostos, ao nível decustos idênticos dos países que colocam cá os
seus produtos a preços mais concorrenciais.Esta é uma medida que
depende apenas de decisão politica.Outra medida está relacionada com a
produção hidroeléctrica: um sector quetrabalha com água, como são os
aproveitamentos hidroagrícolas, gerindo barragens ecanais,
distribuindo milhões de m3 de água anualmente, deveria também ser um
grandeprodutor de energia. De facto é. O conjunto de obras de
hidráulica agrícola em Portugal,incluindo Alqueva, foi construído
assentando os seus projectos (e financiamento) napremissa de que toda
a energia produzida é atribuída aos beneficiários das
obrashidroagrícolas. Só não beneficiam dessa produção porque o Estado
ou arrecada a maiorparte dessa fonte de rendimento ou aliena as
estruturas (caso do Alqueva) a entidadesparticulares. Na prática,
actualmente, a nível nacional, a produção hidroeléctrica destasobras
de hidráulica agrícola, apesar de excedentária, apenas suporta 20% dos
encargos dosconsumos energéticos, revertendo para o Estado ou para
privados o restante das receitas daprodução. Também a medida de fazer
reverter, na totalidade, o beneficio da produção deenergia destas
obras para os seus beneficiários, depende só da decisão politica. A
seca de 2012, para além dos malefícios conhecidos, teve o mérito de
mais uma vez se falar em água e da necessidade de eficiência e
racionalidade no uso do recurso, tendo mesmo ressuscitado a discussão
sobre o programa nacional para o uso eficiente da água,neste caso com
uma proposta para a sua implementação para o período 2012/2020. Este
documento foi objecto de discussão pública em Julho de 2012.
Felizmente o ciclo meteorológico modificou-se, resolvendo o problema
da escassez, deixando para segundo plano a questão da eficiência e bom
uso. Nos últimos anos, quer o Estado, quer os empresários agrícolas
têm investido em modernos sistemas de adução de água, os quais
permitem um maior controlo e gestão efectiva do recurso água. São o
caso dos modernos blocos de rega de Alqueva, onde a água é fornecida
filtrada, em pressão, de acordo com a exigência produtiva das
explorações agrícolas. Esta maior qualidade e fiabilidade do serviço
prestado tem como input essencial o gasto de energia eléctrica. O
mesmo se passa ao nível das explorações agrícolas, nos modernos
sistemas de gota a gota ou nos center pivot. A escassez de água, a
evolução dos custos energéticos e a actual realidade agrícola,com uma
maior exigência de racionalização de custos, levam a uma nova
necessidade de reflexão, da qual são indissociáveis a necessidade
inequívoca de poupar, em simultâneo,água e energia. A FENAREG levou
recentemente a efeito as jornadas técnicas subordinadas a este tema
Eficiência Energética em Regadio(1), realizadas no âmbito do Projecto
Inovação e desenvolvimento do Regadio, co-financiado pelo Programa da
Rede Rural Nacional –MAMAOT - FEADER. Impulsionados pelo lançamento do
livro: Guia de rega - Eficiência ePoupança Energética em Regadio(2),
este fórum foi uma oportunidade de debate de ideias, da transmissão de
experiências e análise de soluções de ganhos de eficiência. Note-se
que os aproveitamentos hidroagrícolas (sem Alqueva) têm, no seu
conjunto, uma potência instalada total de 73.000 kW, na maioria, com
contratos de fornecimento em Média Tensão. A factura energética
representa, para as Associações de Regantes que gerem estas obras de
rega, por ano, mais de 1,8 milhões de euros. Em alguns casos o custo
da energia chega arepresentar 70% do preço da água para rega. Auditar
todas as instalações eléctricas das obras de rega colectivas, geridas
pelos associados da FENAREG, é uma necessidade. Só medindo, avaliando
e elaborando projectos de requalificação e modernização destas
estruturas será possível poupar no recurso energia. Atendendo a que a
energia é indissociável da utilização da água nesta actividade, a
FENAREG depositou na experiência e capacidade do COTR - Centro
Operativo e Tecnológico do Regadio, a realização destas auditorias que
vão acontecer durante 2013 e 2014. Portugal necessita de melhorar a
eficiência(3) da gestão e utilização da água e da energia, propondo-se
a FENAREG continuar a trabalhar, em conjunto com os seus Associados
para esse objectivo. Reduzem-se custos, poupam-se recursos, todos
ganhamos.Para além de medidas pontuais de apoios aos encargos com a
energia, como a electricidade verde, poderiam e deveriam ser
implementadas outras formas de redução da factura energética. Numa
altura em que se sente que o "mercado liberalizado de energia"não está
de facto a funcionar, com sucessivos aumentos dos preços, tem sido a
responsabilidade da FENAREG fazer chegar ao Ministério da Agricultura
as preocupações do custo energético do uso da água na agricultura e
identificar medidas que contribuam para o aumento da competitividade
do sector do regadio, sector de aposta do Governo. Das várias medidas
que a FENAREG fez chegar ao Ministério destacamos a principal que
atenderia ao carácter sazonal do sector do regadio: a possibilidade de
realizar dois contratos por ano ou dois períodos de potência
contratada por ano. A necessidade de regar acontece, geralmente, de
Abril a Setembro, sendo que nos restantes meses as instalações
(estações elevatórias, sistemas de rega…) estão paradas ou com uma
utilização mínima. Faz sentido pagar, ao longo de todo o ano, taxas de
potência elevadas necessárias apenas para os períodos de ponta? Porque
não será possível efectuar dois contratos de potência num ano: um para
o período de efectiva actividade e outro para o período de não
actividade ou de actividade reduzida? Este é um problema comum às
obras colectivas de rega, às explorações agrícolas e à indústria
agro-alimentar (lagares, fábricas de tomate…), com claro prejuízo da
nossa competitividade. Por muito esforço de boa gestão da energia e
racionalização deste recurso, o sector agrícola sente que lhe está a
ser cobrado um imposto fixo mensal, independentemente da sua
actividade produtiva. Para o sector, mais importante do que uma
energia subsidiada, é uma energia com menos impostos, ao nível de
custos idênticos dos países que colocam cá os seus produtos a preços
mais concorrenciais. Esta é uma medida que depende apenas de decisão
politica.Outra medida está relacionada com a produção hidroeléctrica:
um sector que trabalha com água, como são os aproveitamentos
hidroagrícolas, gerindo barragens e canais, distribuindo milhões de m3
de água anualmente, deveria também ser um grande produtor de energia.
De facto é. O conjunto de obras de hidráulica agrícola em
Portugal,incluindo Alqueva, foi construído assentando os seus
projectos (e financiamento) na premissa de que toda a energia
produzida é atribuída aos beneficiários das obras hidroagrícolas. Só
não beneficiam dessa produção porque o Estado ou arrecada a maior
parte dessa fonte de rendimento ou aliena as estruturas (caso do
Alqueva) a entidades particulares. Na prática, actualmente, a nível
nacional, a produção hidroeléctrica destas obras de hidráulica
agrícola, apesar de excedentária, apenas suporta 20% dos encargos dos
consumos energéticos, revertendo para o Estado ou para privados o
restante das receitas da produção. Também a medida de fazer reverter,
na totalidade, o beneficio da produção de energia destas obras para os
seus beneficiários, depende só da decisão politica.
Ilídio Martins
(Vice Presidente da Direcção FENAREG)
(1) http://www.fenareg.pt/jornadas2012b/programa.htm
(2) http://www.cotr.pt/docs.asp?id=9
(3) http://www.portugal.gov.pt/media/627321/apresenta__o_pnuea_12_junho_2012_museu__gua.pdf

http://www.vidarural.pt/content.aspx?menuid=48&eid=6930&bl=1

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