quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Quase 28 mil empresas fecharam em 2012 e a criação de negócios caiu 11,6% (Mais agricultores e produtores de animais.)

RAQUEL ALMEIDA CORREIA 21/01/2013 - 13:14
O saldo líquido entre encerramentos de unidades e aberturas de novas
voltou a terreno positivo, mas o desemprego crescente comprova as
fragilidades desta renovação empresarial.

Mais agricultores e produtores de animais. E cada vez menos
consultores e prestadores de serviços. As estatísticas da criação e
dissolução de empresas são um reflexo do país. Ou das respostas que o
país encontrou à crise que enfrenta. No ano passado, quase 28 mil
negócios fecharam as portas. Já a criação de sociedades abrandou
11,6%, depois do pico registado em 2011. Mesmo assim, o saldo líquido
entre aberturas e encerramentos voltou a ser positivo, apesar de os
números do desemprego mostrarem que esta renovação não compensa.

Dados cedidos ao PÚBLICO pelo Ministério da Justiça revelam que, no
ano passado, houve 27.683 dissoluções. Um resultado que, à primeira
vista, seria favorável, já que em 2011 se registou 33.758
encerramentos (mais 23%). No entanto, por detrás destes números, há
uma grande diferença. É que, dos quase 28 mil fechos de 2012, só 11
mil foram feitos administrativamente pelos serviços. As chamadas
extinções "reais" ultrapassaram as 16.600, o que significou uma subida
homóloga de 9,4%.

Os encerramentos administrativos começaram em 2008, com o programa
Simplex, e foram limpando os ficheiros do Ministério da Justiça de
empresas que estavam inactivas mas permaneciam artificialmente
abertas. Mas, neste momento, esse trabalho está praticamente
concluído, o que fez com que, ao contrário do que aconteceu em 2011,
os fechos voluntários ultrapassem os oficiosos (que caíram 40,4% no
ano passado).

Ao mesmo tempo que os encerramentos reais cresceram, a criação de
novas empresas caiu 11,6% face a 2011. Foram abertos 29.311 negócios
em 2012, o que compara com o pico de 33.163 registado um ano antes.
Apesar do abrandamento, o saldo líquido chegou a Dezembro positivo em
1628 sociedades, quando em 2011 tinha sido negativo em 595. Isto
porque, apesar de ter havido muitas aberturas nesse ano, o número de
encerramentos foi superior (33.758, muito à custa dos 18.581 fechos
administrativos).

No entanto, apesar de ter havido um saldo positivo, a renovação
empresarial no país mostra muitas fragilidades. Os números do
desemprego comprovam que os negócios que estão a ser criados e os
postos de trabalho que a eles estão associados não compensam os
negócios que são forçados a encerrar, nem os empregos que se perdem
pelo caminho. Os mais recentes dados da Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Económico (OCDE) apontam para uma taxa de 16,3% até
Novembro de 2012.

Vaivém de negócios
A repartição sectorial dos dados cedidos pelo Ministério da Justiça
mostra que Portugal está perante um verdadeiro vaivém de empresas, em
que as actividades que mais aberturas registam são, ao mesmo tempo, as
responsáveis pelo maior número de encerramentos. É o que acontece no
comércio a retalho, que em 2012 liderou os dois indicadores.
No ano passado, foram inauguradas 3805 novas lojas e fechadas outras
2436, o que faz deste ramo de negócio o líder nas constituições e
dissoluções, em simultâneo. O segundo lugar foi ocupado pela promoção
imobiliária, com 2967 aberturas e 2406 encerramentos. Seguem-se o
comércio por grosso e a restauração. Já as últimas posições do top
cinco não coincidem. A construção surge como o quinto sector que mais
empresas viu fechar, num total de 746. E, no outro extremo, está a
agricultura e a produção animal, a quinta actividade com mais
inaugurações no ano passado (1324).

As movimentações do tecido empresarial em 2012 são, no fundo, um
reflexo do país. Por um lado, o sector agrícola foi o que mais cresceu
em termos absolutos no número de novos negócios criados, tendo-se
registado uma diferença de 474 empresas, o que poderá ser um sinal da
procura por alternativas num momento de difícil empregabilidade. E,
por outro lado, as actividades mais associadas à gestão das empresas,
como a consultoria e a prestação de serviços, apresentam subidas
assinaláveis nos encerramentos. Uma tendência que poderá derivar da
necessidade de cortar custos.

Já o ranking dos sectores menos penalizados por dissoluções é liderado
pela actividade das lotarias e dos jogos de apostas e também da
administração pública - ambas com um único encerramento no ano
passado. E o sector que menos novos negócios criou foi o das empresas
que prestam serviços domésticos (como a limpeza), com apenas uma
abertura, seguindo-se a extracção e preparação de minérios metálicos e
a indústria do tabaco.

A dispersão geográfica dos dados cedidos pelo Ministério da Justiça
mostra ainda que Lisboa lidera tanto nos fechos, como nas aberturas
(5081 e 8354, respectivamente). A capital terminou 2012 com um saldo
líquido positivo de 3273 empresas (o maior de todos), tendo em conta a
diferença entre a constituição e a dissolução real de sociedades. O
distrito com menor incidência de encerramentos foi Portalegre, com
apenas 93. Mas foi também nesta região que se criou menos negócios
(251 no total).

Nas estatísticas, destaca-se o caso da Madeira, já que é a única área
do país em que o saldo foi negativo, tendo-se registado uma perda
líquida de 185 empresas, já que os fechos reais (887) superaram as
constituições de sociedades (702). Em termos percentuais, foi em Vila
Real que o número de encerramentos mais cresceu, na ordem dos 19,7%
para 237 casos. Por outro lado, o distrito em que a abertura de
negócios mais cresceu foi a Guarda, com um crescimento de 12,8%, em
pleno contraciclo com o país.

Infografia corrigida às 15h15.

http://www.publico.pt/economia/noticia/quase-28-mil-empresas-fecharam-em-2012-e-a-criacao-de-negocios-caiu-116-1581495

Sem comentários:

Enviar um comentário