sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Avulsa, extemporânea, irresponsável, opaca e unidirecional

Associação de Promoção ao Investimento Florestal



Tudo indica que a ministra Assunção Cristas vai sujeitar a Conselho de
Ministros o projeto de diploma de alteração ao licenciamento da
florestação com eucalipto em minifúndio, sem garantia de condução
cultural (gestão florestal) e por isso com elevado risco de incêndios
florestais nos próximos anos (veja-se o histórico com o eucalipto e
com o pinheiro bravo).

Depois de ter criado um clima de tensão no setor silvo-industrial, a
ministra parece insistir em fazer avançar uma proposta aberrante,
porquanto avulsa, extemporânea, irresponsável, opaca e unidirecional.

É avulsa, porquanto esta desenquadrada do conjunto das carências do
setor silvo-industrial português;

É extemporânea pois e discutida fora do âmbito da Estratégia Nacional
para as Florestas, em processo arrastado (quiçá propositadamente) de
avaliação;

É irresponsável, pois sem garantia de gestão dos novos eucaliptais
(condução cultural), aumenta significativamente o risco de incêndios
florestais (risco já agravado pelas alterações climáticas);

É opaca, por um lado surge associada ao reforço das exportações,
contudo e sabido que as florestações que pretende promover só se
converterão em exportações daqui a 12 anos (idade media de corte dos
eucaliptos), por outro aparece em nome do rendimento dos pequenos
proprietários, contudo deixa-os vulneráveis aos interesses da
industria (por menor capacidade reivindicativa),

É unidirecional porquanto privilegia a fileira da pasta celulósica e
papel, em concreto parece estar associada a uma anunciada exigência de
um grupo empresarial em particular.

A "campanha do eucalipto", iniciativa do MAMAOT, ao contrário da
"campanha do trigo" do Estado Novo, nasce órfã. Não providencia
mecanismos que contrariem a concorrência imperfeita nos mercados de
produtos florestais, deixando os pequenos proprietários florestais,
depois da cultura instalada no terreno, à mercê das imposições
unilaterais de preço por parte da indústria. Também não assegura as
condições de assistência técnica aos produtores florestais, no sentido
destes poderem aplicar as melhores operações silvícolas na melhoria da
produtividade e na redução do risco de incêndio e da proliferação de
pragas e de doenças. Curiosamente, Portugal dispõe da 5.ª maior área
de eucaliptal do Mundo, muito embora a sua produtividade média reporte
a 1928 (não por falta de investigação ou capacidade técnica).

Numa aparente resposta (desastrada) à manifestada exigência de um
grupo empresarial (expressa em 15 de maio último no Jornal I), o
Ministério faz recair as consequências dos muito prováveis desastres
ambientais, económicos e sociais sobre as populações rurais em
particular e sobre os contribuintes em geral. Aqui está um péssimo
exemplo de defesa, pelo MAMAOT, do Interesse Público.

Este fomento do investimento lenhícola irresponsável não se coaduna
com os princípios de desenvolvimento sustentável e de responsabilidade
ambiental que a Acréscimo considera serem o suporte para a salvaguarda
das florestas portuguesas e para o crescimento (responsável) e o
reforço da internacionalização (credível) do setor florestal
português.

Lisboa, 24 de janeiro de 2013

A Direção da Acréscimo

http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2013/01/25d.htm

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