terça-feira, 19 de novembro de 2013

Preço da água põe em perigo a cultura do milho em Alqueva

CARLOS DIAS

19/11/2013 - 21:06

O calor do Alentejo obriga a gastar muita água para produzir milho. O
seu elevado custo começa a ser uma preocupação para os produtores.

A produção de milho nos novos blocos do perímetro de rega de Alqueva
poderá estar em causa se as taxas que estão a ser aplicadas desde 2010
não sofrerem uma redução, entende a Associação Nacional de Produtores
de Milho e Sorgo (Anpromis).

O presidente desta associação, Luís Vasconcellos e Souza, afirmou ao
PÚBLICO que vai ser "difícil" manter a produção de milho no Alqueva
nos anos em que os preços deste cereal se apresentem baixos. E explica
porquê: "Contrariamente a algumas zonas do país" o preço da água em
Alqueva "vem onerar a cultura de milho".

A solução, acrescenta, terá de passar por "conjugar o potencial de
Alqueva com o potencial económico resultante da produção de milho" no
novo regadio. Isto porque a cultura consome em média, sob o efeito das
elevadas amplitudes térmicas características da região alentejana,
entre 7 e 8 metros cúbicos de água por hectare.

Se não houver uma reformulação do tarifário aprovado pelo Ministério
da Agricultura em 2010, o consumo de água na produção de milho
sofrerá uma forte redução e, nessas condições, "será difícil manter"
os preços da água, antecipa Vasconcellos e Souza. Este empresário
ainda admite que a viabilização das áreas plantadas "pode passar por
produzir mais barato e eficiente mas dificilmente será possível
reduzir o consumo de água".

Para superar o cepticismo dos agricultores que pretendiam produzir no
regadio do Alqueva, o antigo ministro da Agricultura António Serrano
anunciou em Abril de 2010 que o preço da água no novo regadio ia ser
controlado por um período de 6 anos. O tarifário previsto no despacho
9000/2010, estabelecia que os agricultores pagariam no primeiro ano
apenas 30% do preço real da água, o qual seria aumentado
progressivamente. O custo final varia entre os 0,42 cêntimos e os 0,58
cêntimos por metro cúbico, valores que Vasconcellos e Souza considera
"caros" em anos de preços baixos no mercado de cereais.

Até final de Julho deste ano a produção de milho nos blocos de rega em
Alqueva aumentou em relação ao ano anterior, atingindo as 100 mil
toneladas, o que representa cerca de um sexto da produção nacional
deste cereal. A área semeada passou dos 2700 hectares em 2011 para os
quase 6000 hectares em 2013.

Com as reservas colocadas ao futuro da produção de milho, a cultura
que se tem revelado a mais promissora em Portugal, a seguir à produção
de azeite e vinho, poderá colocar em causa o objectivo inicialmente
previsto pela Anpromis ao admitir que Alqueva poderia tornar o país
auto-suficiente na produção de milho em grão.

http://www.publico.pt/local/noticia/preco-da-agua-poe-em-perigo-a-cultura-do-milho-em-alqueva-1613131

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