segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Uma questão de vergonha?

OPINIÃO
15-1-2012
Joaquim Escoval

Pouco antes da quadra natalícia em breve peça televisiva analisavam-se
os dados respeitantes à agricultura nacional recolhidos pela Pordata.
O valor desta recolha, neste e nos mais variados campos da realidade
lusa, ao alcance de todos, é enorme e muito se deve ao trabalho de
coordenação do Dr. António Barreto.
Da leitura que a jornalista pode então fazer ressalta um declínio
tremendo quer da área cultivada, quer o valor gerado por esta
atividade, quer do número de pessoas que se dedicam a esta atividade
tradicional no nosso país, quer ainda no numero de jovens com menos de
23 anos que a ele estão ligados, atualmente só cerca de 7000.

Já durante o Natal pude conversar autênticos pequenos agricultores que
tristemente vaticinavam o seu próximo fim bem como o de muitos outros
que como eles se dedicam a esta atividade esmagados que serão pelos
reduzidos preços que lhes pagam pelos produtos que arduamente
produzem.
A azeitona, por exemplo, há meia dúzia de anos era comprada a 0,56 € e
agora estão a pagá-la por 0,22€ exemplificava, não esquecendo de
mencionar que os custos de produção entretanto aumentaram para o
dobro.
O mesmo tipo de constatação poderá ser efetuado para os mais variados
tipo de produtos agrícolas sujeitos à imposição de preços que as
grandes superfícies comerciais efetuam escudadas no seu poderio
económico esmagando continuamente os preços e inviabilizando a
existência de pequenas e médias explorações agrícolas em detrimento de
grandes grupos e da importação de produtos dos mais variados pontos do
mundo.
De pouco terá assim servido a estes produtores a construção de grandes
barragens como Alqueva já que pouco diferem o uso e a posse da terra e
demais circuitos de tratamento e comercialização. Claro que passaram a
existir mais olivais e vinhas de grandes extensões, mas esses não são
pertença dos pequenos e médios agricultores e muitas das vezes nem são
sequer pertença de nacionais, faltando ainda ser avaliados os efeitos
que um uso tão intensivo da terra e de produtos fitossanitários trarão
aos campos alentejanos.
Conhecedor de que o Dr. António Barreto foi um ministro da agricultura
de anterior governo do Partido Socialista e que personificou a lei da
extinção da Reforma Agrária que tanto deu que falar e que tanta
agitação trouxe ao país e ao Alentejo em particular perguntei-me como
se sentiria aquele homem ao ver que os dados que tão brilhantemente
ajudara a coletar e tratar demonstrarem inequivocamente o mal que a
sua ação governativa trouxera à atividade agrícola nacional.
Os homens que, como ele e com ele, se empenharam em destruir a reforma
agrária e que hoje podem comparar os níveis de ocupação da terra e de
produção que então eram atingidos com os atuais deveriam, em meu
entender, sentir uma imensa vergonha do trabalho que efetuaram.
Talvez esse sentimento seja arredio das suas almas porque ontem como
hoje o objetivo não era por Portugal a produzir mais e criar mais
emprego mas devolver e manter a posse dos meios de produção nos grupos
e nas pessoas que sempre os detiveram com os resultados que os dados
que a Pordata tão bem documenta e que tão bem sentimos nas contínuas
reduções de condições de vida que nos querem impor.
http://www.jornaldobarreiro.com.pt/new.php?category=7&id=4953

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