sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Lisboa acusa Governo de querer "nacionalizar" o vinho leve

19 Janeiro 2012 | 16:32
António Larguesa - alarguesa@negocios.pt
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Ministério diz que ainda não há decisão final, mas lembra que os
produtores de outras regiões também querem ter no rótulo o menor teor
alcoólico e calórico.
Segundo disse ao Negócios o presidente da direcção da Comissão
Vitivinícola da Região de Lisboa, Vasco d'Avillez, o Instituto da
Vinha e do Vinho (IVV) prepara-se para retirar o exclusivo e "abrir a
todo o País" a designação "vinho leve", que é detida desde 1993 apenas
pelas regiões de Lisboa e do Tejo (anteriormente designadas de
Estremadura e Ribatejo), além dos vinhos licorosos do Porto e Madeira.
"O IVV tem estado a rever a rotulagem e fez um novo projecto de
portaria onde se permite que todas as regiões produzam vinho leve. A
CVR Lisboa não quer que isso aconteça. A produção de vinho leve sempre
foi um exclusivo destas duas regiões e durante quase vinte anos
ninguém questionou isso", disse Vasco d'Avillez.

O responsável da CVRL questiona "por que motivo se quer alterar uma
coisa que é boa e funciona bem", quais os motivos e "quem vai
beneficiar com esta desgraça que impõem à Região Lisboa e Tejo".
Avillez teme a perda deste exclusivo e, em consequência, daquilo que
em marketing se designa por "Unique Selling Proposition" (USP).
O vinho leve é produzido em terrenos pobres com grande presença
debrisa marítima, em geral encostados a uma elevação. Na maior parte
brancos, caracterizam-se por um baixo grau alcoólico (entre 9% e 10%)
e uma acidez elevada, até 4,5 gramas por litro, sendo ideais para
acompanhar pratos de peixe e marisco. Por serem pouco agressivos, são
cada vez mais procurados, sobretudo ao almoço.
Ainda de acordo com o líder da CVR de Lisboa, o assunto foi levantado
numa primeira reunião com o IVV a 5 de Dezembro, de onde saíram
convencidos que a ideia iria ser abandonada. No entanto, na reunião
seguinte, a 10 de Janeiro deste ano, a interlocutora do IVV, Edite
Azenha, voltou a colocar o tema em cima da mesa "para recolher
opiniões favoráveis ao que agora pretendem". "É trazido à má fila e a
seguir dão o dito por não dito", acusa Avillez.
Todos os anos são produzidas cinco milhões de garrafas de vinho leve,
na maior parte feitas por "três ou quatro" adegas cooperativas, que
são "um tipo de unidades de negócio que precisa de maior ajuda,
atenção e carinho porque representam, cada uma delas, centenas de
produtores". No total, a CVR Lisboa representa 30 mil hectares de
vinha e um milhão de hectolitros de vinho.
Ministério admite alteração
Questionado pelo Negócios, fonte oficial do Ministério da Agricultura
respondeu que "a portaria que deverá regular as normas de rotulagens
do vinho para Portugal decorre da aplicação de normas comunitárias" e
está actualmente em discussão pelos agentes do sector, "o que
significa que ainda não existe uma decisão final sobre o seu
conteúdo".
Sobre o eventual alargamento da designação "vinho leve", a mesma fonte
explica que "o assunto volta a colocar-se apenas porque estamos em
fase de discussão das normas de rotulagens nacionais complementares às
normas comunitárias"
"As tendências de mercado, que levam os consumidores a preferir vinhos
mais leves e com menos calorias, fazem com que os produtores das
outras regiões pretendam utilizar esta menção na rotulagem estando
actualmente impedidos de o fazer", reconhece o Executivo.
O Ministério sublinha ainda que caso esta designação não seja alargada
os outros produtores, eles "terão de utilizar a designação 'light',
indicação do âmbito das alegações nutricionais que vai acarretar
custos acrescidos para os operadores".
A designação "vinho leve" ou "baixo grau" foi criada por legislação de
1985, através da Portaria nº 547/85, de 6 de Agosto e era aplicável a
todo o País em determinadas condições. Com a aplicação da legislação
comunitária e com o aparecimento dos vinhos regionais em Portugal,
esta aplicação geral foi revogada e ficou prevista apenas para a
região da Estremadura e Ribatejo e também para o vinho licoroso Porto
e Madeira.
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