domingo, 14 de abril de 2013

Há mais de 40 anos que os agricultores não viam chover tanto em Março

Foram dois meses de chuvas constantes num final de inverno
anormalmente chuvoso. Prolongaram-se até Abril e só pararam depois das
águas da bacia do Tejo terem subido ao ponto de causarem cheias por
todo o distrito de Santarém, que foi o distrito que teve mais área
submersa a nível nacional. Os campos agrícolas ficaram todos alagados
e muitos cultivos destruídos.

Da Golegã a Santarém muitas foram as estradas intransitáveis durante
vários dias, como a nacional 365 que faz a ligação da Golegã a
Azinhaga, submersa em vários pontos. A Câmara reabriu caminhos do
campo, como alternativas aconselhadas para chegar a Azinhaga e
Pombalinho, nomeadamente a que liga a Brôa, pelo Rabo dos Cágados, ao
Dique dos Vinte. Para a circulação do trânsito por esses caminhos, a
GNR foi informada da suspensão temporária do condicionamento da
circulação à noite nos caminhos rurais.

Mas são os efeitos das cheias na agricultura que permanecem.
Praticamente todas as explorações do Vale do Tejo foram afectadas,
segundo a Confederação dos Agricultores do Ribatejo, quer aquelas das
culturas de primavera (ervilha, fava, nabo, batata, cebola, alface e
outros hortícolas), quer as que se deveriam estar a preparar para as
culturas de verão (tomate, melão e milho). Aquando da grande invasão
das águas do rio Tejo, no fim de Março, os terrenos deveriam estar a
ser preparados. Agora, quando já deveriam estar lavrados e a receber
as plantas do tomate e o melão, continuam alagados.
Mário Antunes, da Agrotejo, diz que as culturas instaladas, que
deveriam estar agora na colheita ficaram todas destruídas. No caso das
próximas, já passou o "período óptimo"para o seu cultivo e, a serem
cultivadas mais tarde, o rendimento vai ser menor. Agora à espera que
a água desapareça (mais duas semanas, pelo menos), os agricultores têm
de fazer uma "reestruturação do plano cultural, porque o ciclo ficou
irremediavelmente atrasado", explica o engenheiro da Agrotejo.

Mário Antunes diz que em Alpiarça e Azinhaga houve rombos sérios nas
margens do rio Tejo, que além de terem permitido a entrada de muito
mais água, areia e cascalho nos campos, continuam a ser uma ameaça à
recuperação do tempo perdido, porque se ainda chover em Abril, nada
está salvaguardado. Aqui mais perto, o Almonda também sofreu rombos,
nomeadamente na zona da ponte do Casal do Vale.
No fecho de edição deste jornal, na segunda-feira passada, ainda não
havia dados para revelar nem estragos para quantificar, mas a Agrotejo
já procedia ao seu levantamento.

Agricultores apreensivos
Carlos Graça, da Agro-Graça, revela que perdeu praticamente todas as
couves e bróculos que tinha na terra e que pelo menos 70% dos nabos
também foram à vida. Tem plantas em casa há dois meses à espera de
irem para a terra. Se o São Pedro for amigo a partir de agora e
permitir que a água desça rapidamente, ainda poderá plantar esses
melões dentro de 15 dias, com um mês e tal de atraso. Certo é que as
culturas de verão se vão atrasar e o rendimento vai ser muito menor,
porque em Setembro, mesmo que não chova, os dias são mais curtos e
terão menos sol. Carlos Graça estima que a sua produção de verão
deverá cair perto de 15%.
Joaquim Barroso, agricultor de Riachos, planeia plantar dentro de
quinze dias os tomates que tem à espera há semanas. Não teve grande
prejuízo com as cheias, porque tinha apenas um hectare plantado com
algumas hortaliças e batatas. Mas tanta água fora de tempo causou-lhe
espanto, não se lembra de ver o campo ficar tapado em Abril. "Só em
1969 é que isto aconteceu. Nesse Março, a água passou por cima do
Dique dos Vinte".
A sua maior preocupação é o que vai plantar com atraso. "A despesa é a
mesma e a produção vai ser menor (...) e se por acaso chove em
Setembro ou Outubro... fica lá tudo outra vez".
Joaquim Barroso acompanhou com precisão o período de chuvas, pois é um
facto histórico de que aconselha registo: começou a chover na
quarta-feira de cinzas. Passou a semana santa, sempre a chover. Quando
chegou ao domingo de Páscoa, os campos estavam todos debaixo de água.
Uma quaresma muito molhada que terminou com a enchente do Tejo a
causar os maiores estragos: a abertura das barragens fez o maior rio
transbordar e o Almonda andar para trás. "A água do Tejo chegou à
Quinta de Melo, tapou o campo todo. Há terras que só daqui a dois
meses é que ficam fora de água".


foto José Neves

http://www.oriachense.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=1205:ha-mais-de-quarenta-anos-que-os-agricultores-nao-viam-chover-tanto-em-marco&catid=38:regiao&Itemid=69

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