sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Cartaxo Máquinas substituem tradições na produção do vinho

A evolução tecnológica e a crescente mecanização do setor vitivinícola
fizeram com que tradições como a vindima manual com dezenas de pessoas
ou a pisa do vinho, que atravessaram gerações no concelho do Cartaxo,
caíssem em desuso.
PAÍS
Lusa
09:56 - 10 de Novembro de 2013 | Por Lusa
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Conhecida como uma das zonas do país mais conceituadas na produção
vitivinícola, o Cartaxo assistiu nas últimas décadas a uma profunda
inversão nos métodos e nas tradições utilizadas pelos
vitivinicultores, muitos deles hoje visíveis apenas no Museu Rural e
do Vinho do concelho.

"As tradições, como a vindima realizada por 100 ou 200 pessoas, muitas
vindas do norte do país só para isso, os cantares, as vestes e as
adiafas [festa feitas no final da vindima], além da pisa da uva nos
lagares típicos caíram em desuso. Hoje, com a vindima mecânica e com a
evolução tecnológica ao nível da produção, essas tradições são apenas
residuais", explicou à agência Lusa, Pedro Gil, enólogo da Adega
Cooperativa do Cartaxo.

O especialista em vinho, de 44 anos, salientou que uma das principais
razões que levaram à gradual diminuição destas tradições foi o
desaparecimento, na década de 1980, de muitas casas agrícolas do
concelho que eram as grandes dinamizadoras destes métodos seguidos de
geração em geração.

A partir daí, com a tecnologia, os produtores foram adotando as novas
tendências, acima de tudo, por uma questão de custos.

"As máquinas de certa forma substituíram o homem com sucesso. Hoje em
dia faço a vindima mecânica com mais três pessoas, que é o equivalente
ao trabalho feito por 100 pessoas há 30 ou 40 anos. Naquele tempo uma
pessoa apanhava 600 quilos num dia, hoje vindimamos 60 toneladas",
sublinhou Joaquim Travessa, um dos poucos vitivinicultores do Cartaxo
que ainda faz questão de ter produção própria.

O agricultor, de 46 anos, produz cerca de 200 mil litros de vinho por
ano, entre brancos e tintos, nos cerca de 30 hectares que tem na
freguesia de Vila Chã de Ourique, local onde faz venda ao público.

Joaquim Travessa recorda os serões com dezenas de trabalhadores a
pisarem as uvas nos lagares da adega do seu pai. Há cerca de 15 anos
que o vitivinicultor se dedica exclusivamente à produção do vinho,
juntamente com a esposa, mas diz ser caso raro no Cartaxo.

"Mais de 90% dos produtores do vinho aqui da zona limitam-se a apanhar
as uvas e a levarem-nas para a adega. Muitos foram obrigados pelas
exigências legais, pois não compensava fazer todo o processo de
produção. Há ainda meia dúzia de teimosos, como eu, que ainda mantêm
produção própria, mas praticamente todos trabalham com as novas
tecnologias", salientou o vitivinicultor.

Na Adega Cooperativa do Cartaxo -- que, num ano normal, recebe entre
oito a nove milhões de quilos e produz seis a sete milhões de litros
de vinho por ano - o enólogo Pedro Gil confirma a tendência.

"Atualmente, 70 a 80% das uvas que a adega recebe anualmente dos cerca
dos 300 sócios é vindimada à máquina. A produção é também feita
através de métodos mecanizados", frisou o especialista, que aconselhou
uma visita ao Museu Rural e do Vinho do concelho do Cartaxo, onde
podem ser vistas e recordadas algumas das tradições perdidas no tempo.

JYS // ROC

Noticias Ao Minuto/Lusa

http://www.noticiasaominuto.com/pais/129139/maquinas-substituem-tradicoes-na-producao-do-vinho#.UoWpxvlBy3i

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