quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Projecto português financiado pela UE revoluciona agricultura

HOJE às 10:55

Por Sandra Gonçalves

O desenvolvimento do polietileno sob a forma de uma película para a
cobertura do solo permitiu optimizar o sistema de produção e a
rentabilidade de culturas. No entanto, a utilização destes plásticos
tem impactos ambientais significativos durante e após o ciclo da
cultura.


O consórcio Agrobiofilm, liderado pela empresa portuguesa Silvex, e
com o investimento da União Europeia em Inovação e Desenvolvimento,
teve como objectivo desenvolver um plástico de cobertura de solo
biodegradável para resolver os problemas de contaminação. Os
resultados mais recentes comprovam os benefícios deste novo produto,
não só em termos ambientais como ao nível do rendimento das culturas
que, em alguns casos, foi superior ao registado com o plástico de
polietileno. Perante os bons resultados, a Silvex foi convidada a
partilhar a sua experiência e conhecimento em Universidades e Escolas
Técnicas Europeias na área da Engenharia Biotecnológica e também na
Belgian Farmers' Association.

Os plásticos para cobertura de solo (mulch) são, hoje em dia,
essenciais para o sucesso de uma cultura. No entanto, o uso destas
películas derivadas de petróleo, como é o caso do polietileno – o mais
usado –, são prejudiciais para o solo, levando a custos acrescidos
para os agricultores com a sua remoção do solo e encaminhamento para o
centro de recolha autorizado.

Assim, o objectivo global do projecto foi criar um substituto viável
aos mulch de polietileno, através de plásticos biodegradáveis. Isso
implicou a optimização da formulação biodegradável, em função da
cultura (e.g., duração do ciclo e porte), do solo e das condições
climáticas da região. Assim, foi desenvolvido um mulch biodegradável
de amido de milho e óleos vegetais como alternativa ao mulch
tradicional (polietileno), testado nas culturas de morango (em
Portugal e Espanha), de melão e de pimento (ambos em Portugal),
podendo ser utilizado em outras culturas com características
semelhantes.

Foi também testado na vinha, como alternativa inovadora, tanto ao
mulch de polietileno (utilizado em algumas regiões de França), como ao
solo nu e aos tubos de protecção/crescimento. Os parâmetros de
processamento industrial do mulch e a utilização de reciclado
biodegradável foram outras componentes da investigação, tendo como
objectivo produzir um mulch sustentável, quer em termos ambientais
quer em termos económicos.

Após três anos de investigação, os principais resultados comprovaram
os benefícios para o ambiente e para as culturas. A qualidade dos
frutos não apresentou diferenças significativas, sendo o rendimento
obtido nas culturas de melão, pimento e morango igual ou superior ao
obtido com o plástico de polietileno.

Na vinha registou-se um aumento significativo da expressão vegetativa
das videiras, com mais raízes e de maior peso do que aquelas
plantadas, quer em mulch de polietileno quer em solo nu, com a
primeira vindima comercial a ser realizada no ano seguinte ao da
plantação. Paralelamente concluiu-se que a aplicação do mulch ao solo
pode ser feita com as mesmas alfaias. A nível ambiental o mulch
biodegradável Agrobiofilm cumpriu com os requisitos da norma NFU52-001
relativos à biodegradação no solo.

A comercialização do Agrobiofilm já arrancou em Portugal, Espanha e
França e destina-se maioritariamente a agricultores profissionais,
podendo também ser utilizado em pequenas hortas ou jardins. Os
agricultores que fazem parte de organizações de produtores
reconhecidas oficialmente, podem beneficiar de uma subvenção ao abrigo
das medidas ambientais dos programas operacionais. Em Portugal, a
acção «7.6 utilização de plásticos biodegradáveis» concede um apoio de
52,2% sobre o valor da factura.

O investimento total do projecto foi cerca de 1,5 milhões de euros
tendo recebido 1 milhão de euros da União Europeia através do 7º
Programa-Quadro. De acordo com Paulo Azevedo, director-geral da
Silvex, «o apoio da União Europeia foi fundamental para o sucesso do
Agrobiofilm. O projecto foi aprovado com 14 pontos em 15 possíveis e
permitiu-nos contar com o apoio crucial das Universidades que compõem
este consórcio».


A Silvex é uma das 476 PME portuguesas que beneficiaram de 112,40
milhões de euros de financiamento para investigação da União desde
2007, o que representa 24,66% do valor total disponibilizado a
Portugal nesse período. Até ao final de 2013 a União Europeia terá
apoiado 15 mil PME que receberam apoios superiores a 5 mil milhões de
euros.

No início do actual programa-quadro de investigação da União Europeia
foi estabelecida uma meta para PME, para a partilha de 15 por cento do
financiamento disponível para projectos de investigação em cooperação
transfronteiriça. Na última contagem, em Outubro, a taxa foi de 17,5
por cento, com desempenhos por país variando entre 12 por cento na
Finlândia a 36 por cento na Hungria e na Eslováquia.

No próximo programa de investigação da UE, Horizonte 2020, que será
lançado em Janeiro, o objectivo é ainda maior – 20 por cento dos
orçamentos disponíveis para a pesquisa sobre os desafios sociais e
tecnologias de ponta –, o que significa que serão disponibilizados 9
mil milhões de euros às pequenas empresas durante sete anos. Deste
montante, 3 mil milhões serão distribuídos para estudos de viabilidade
e projectos de demonstração para ajudar a trazer ideias para o
mercado. Parte do orçamento de investigação da UE será utilizado para
fazer empréstimos às PME pelos credores públicos e privados.

Michael Jennings, porta-voz europeu para a Investigação, Inovação e
Ciência refere que «os 9 mil milhões de euros deverão ser encarados
com um objectivo mínimo. As PME são a espinha dorsal da economia
europeia e são responsáveis por dois terços do emprego total.
Pretendemos alargar o financiamento ao maior número de PME possível
para gerar novos produtos, serviços e emprego. Os detalhes de como as
empresas se podem envolver serão anunciados quando lançarmos nossos
primeiros convites à apresentação de propostas em Dezembro».


SOBRE O CONSÓRCIO AGROBIOFILM

O consórcio AGROBIOFILM é formado por um núcleo principal de 3 PME:
SILVEX, Indústria de plásticos e papéis, S.A. (coordenadora do
projecto, Portugal), BIOBAG (Noruega) e ICSE (França). As outras PME:
Hortofrutícolas Campelos (Portugal), Olivier Mandeville (França) e
Explotaciones Agrarias Garrido Mora (Espanha) são os utilizadores
finais, onde se realizaram os ensaios de campo. As universidades e
centros de investigação, subcontratados para realizarem o trabalho
científico são: Instituto Superior de Agronomia (Portugal), Centro
Tecnológico ADESVA (Espanha), Université Montpellier 2 (França) e
Faculty of Agricultural Sciences, Aarhus University (Dinamarca).

SOBRE O FINANCIAMENTO EUROPEU NAS ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO

Em 2014, a União Europeia irá lançar um novo Programa-Quadro de
Financiamento na área de Desenvolvimento e Inovação, denominado
Horizonte 2020. Desde 2007, a Europa já investiu cerca de 50 mil
milhões de euros em projectos de desenvolvimento e inovação para
apoiar a competitividade da economia europeia e ampliar as fronteiras
do conhecimento humano. O orçamento europeu para esta área representa
12 por cento do total de investimento público em desenvolvimento feito
pelos 27 Estados-Membros e incide, maioritariamente, em áreas como a
saúde, o ambiente, os transportes, a alimentação e a energia. Têm sido
estabelecidas parcerias com indústrias farmacêuticas, electrónicas e
aeroespaciais de forma a incentivar o investimento privado, para
garantir o crescimento e a criação de postos de trabalho
especializados. O programa Horizonte 2020 procurará também transformar
ideias excelentes em produtos, processos e serviços comercializáveis.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=668630

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