quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Estudo: Interior do país pode perder um terço da população em 30 anos

HOJE às 09:57

Por Sandra Gonçalves


A manter-se a actual tendência da evolução do índice de fecundidade no
país e não havendo migrações, no ano de 2040 a faixa do interior do
país que vai desde Trás-os-Montes ao Alentejo terá perdido 157 mil
habitantes, cerca de um terço da população actual.

Esta é a principal conclusão de um estudo coordenado pela Universidade
de Aveiro (UA) no âmbito do projecto DEMOSPIN que, a longo prazo,
aponta que as mesmas regiões podem, no cenário em que a actual
tendência se mantém inalterada, perder em 90 anos 75 por cento da
população em relação a 2011. As regiões de Pinhal Interior Sul, Beira
Interior Norte, Alto Trás-os-Montes, Douro e Serra da Estrela serão as
principais vítimas do declínio demográfico que assola o interior de
Portugal.

O caso mais preocupante, aponta o estudo dirigido por Eduardo Castro
da UA, situa-se na zona do Pinhal Interior Sul que engloba os
concelhos de Vila de Rei, Oleiros, Sertã e Proença-a-Nova.

A investigação aponta aquela região como o pior exemplo à escala
europeia no que ao declínio demográfico diz respeito: 35 é a
percentagem de habitantes que aquela zona se prepara para perder até
2040 se não ocorrerem mudanças na taxa de natalidade e no fluxo
migratório. Os quatro concelhos, que já viram a sua população ser
reduzida de 90 mil habitantes, em 1950, para 40 mil em 2010,
prepara-se para registar 26 mil habitantes em 2040. Destes, apenas
3.500 serão menores.

Guarda e Pinhel (Beira Interior Norte), Bragança (Trás-os-Montes),
Vila Real e Lamego (Douro) e Gouveia, Seia e Manteigas (serra da
Estrela) são os restantes concelhos que, segundo o DEMOSPIN, mais
serão afectados pela baixa natalidade.

O estudo financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e que,
além da UA, envolveu as universidades de Coimbra e da Beira Interior e
os Institutos Politécnicos de Castelo Branco e Leiria, tem por
finalidade alertar as autoridades para o desenvolvimento de
estratégias que possam atrair pessoas para o interior do país. «E as
decisões têm de ser tomadas de imediato pois os resultados só serão
visíveis dentro das próximas décadas», afirma Eduardo Castro,
investigador do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do
Território da UA.

«Estas previsões têm dois sentidos. Um é o de alerta aos decisores
políticos, o outro é de constituírem um guia para a acção. O estudo
não só diz que se a situação não for revertida a população vai
encolher como diz quanto vai encolher», explica o investigador.

Eduardo Castro garante que o despovoamento do interior é um processo
que não se vai resolver naturalmente. «O problema tem de ser resolvido
através de políticas fortes que decorram de decisões de investimento
naquelas regiões», afirma o investigador que aponta «as auto-estradas
com portagens, o fecho de hospitais, de tribunais, de escolas e de
outros tantos serviços» como o alimentar do ciclo vicioso do
despovoamento. «Quanto mais se fecha menos gente há. Isto é um ciclo
vicioso que é preciso romper», diz.

«O país até pode admitir que é mais barato colocar as pessoas todas no
litoral, acontece é que o património histórico e natural se degrada e
que uma série de infra-estruturas feitas para o interior deixam de
fazer sentido porque não há quem as use», alerta.

«Este estudo serve assim para alertar a consciência dos decisores
políticos porque o deixar andar não pode ser. Ou o país decide fechar
o interior e toma as consequências disso, ou não quer isso e tem de
agir em conformidade já para que não acorde daqui a 30 anos, quando já
for tarde para resolver a situação», concluiu Eduardo Castro.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=668623

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