segunda-feira, 6 de abril de 2015

Em Oliveira de Azeméis, faz-se biocarvão que não deita fumo e é um íman na terra


SARA DIAS OLIVEIRA 05/04/2015 - 08:15
Ibero Massa Florestal desenvolveu tecnologia inovadora para produzir biocarvão de utilização doméstica e agrícola. Este ano, quer produzir mil toneladas e facturar dois milhões.


A embalagem do biocarvão produzido na Ibero Massa Florestal, em Oliveira de Azeméis, resume com desenhos e palavras-chave as potencialidades do produto: isento de chama, sem fumo, sem gases tóxicos, elevado poder calorífico. A empresa nasceu há cerca de quatro anos com o propósito específico de criar tecnologia do zero, preencher uma lacuna no mercado, travar as importações e criar um carvão 100% ecológico, único na Península Ibérica e raro no mundo.

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, e a Universidade de Aveiro entraram neste processo com os conhecimentos técnicos que não tardaram a ter repercussões no meio empresarial. A teoria passou à prática, as máquinas foram ligadas, e o produto nasceu como planeado.

Desde o início deste ano que o biocarvão Biopower para uso doméstico e o biocarvão Ecochar para solos agrícolas e florestais estão a ser comercializados no nosso país, com presença nas grandes superfícies comerciais, mas já de olho na exportação para o norte e centro da Europa.

É um biocarvão 100 por cento ecológico, com duas utilizações, e que sai de uma fábrica que usa como matéria-prima madeiras de infestantes das florestas, como a acácia austrália e a mimosa. Entram as madeiras, sai biocarvão amigo do ambiente, sem fumos, nem gases tóxicos que contaminem os alimentos, e que também funciona como um reestruturador de solos agrícolas e florestais.

João Tiago Santos, engenheiro do Ambiente e director de produção da Ibero Massa Florestal, salienta algumas características do biocarvão quando colocado na terra. "Não é um fertilizante, é um reestruturador dos solos agrícolas e florestais. O Ecochar funciona como um íman e a água acumula-se na superfície e capta nutrientes que as plantas necessitam. Além disso, reduz-se a necessidade de água e fertilizantes em 40%", revela.

A aplicação do biocarvão no terreno é feita apenas uma vez e dura uma vida. Há ainda outro indicador que não passa despercebido nesse produto amigo do ambiente, ou seja, por cada quilograma de biocarvão deitado na terra, tira-se da atmosfera 3,5 de quilos de dióxido de carbono. Hortas biológicas, culturas hortícolas, vinhas, olivais, pomares, florestas, são alguns dos terrenos onde o Ecochar cai bem.

As madeiras amontoam-se no exterior da empresa e são cortadas à medida das necessidades da fábrica que trabalha sete dias por semana, 24 horas por dia, com 24 funcionários, 50% licenciados. Lá dentro, está a maquinaria onde a madeira, num processo quase autofágico, se transforma em carvão ecológico. João Tiago Santos explica como tudo acontece. "O reactor é carregado com madeira em bruto. Tapa-se o reactor e garante-se uma atmosfera controlada". Há monitores que orientam esses passos. O reactor é então colocado dentro de um forno, o calor externo aquece o interior, e os gases libertados pelas madeiras funcionam como o próprio combustível num processo de degradação até obter carvão.

Carvão amigo do ambiente feito com tecnologia 100% nacional, segura e fácil de utilizar para quem entende da arte, e que se encontra em processo de patenteamento. "Queimam-se os gases e o carvão sai limpinho, não se liberta poluição para a atmosfera", afirma o engenheiro de ambiente. E antes de o biocarvão ser embalado, todas as fornadas são testadas num laboratório da fábrica para que o produto chegue como deve ser ao consumidor final.

Partir do zero,construir de raiz
A Ibero Massa Florestal percebeu que havia uma lacuna no mercado nacional e surgiu para tratar do assunto. "Há um défice muito grande no mercado, 75% do carvão doméstico é importado", revela o director de produção. Nuno Costa, director comercial, também salienta esse aspecto e "as mais-valias" de um "produto diferente" que se destaca pela qualidade e pela costela ambiental. "A receptividade é imensa nas grandes superfícies", garante. "É um biocarvão que não faz chama, não contamina os alimentos, não polui, e não é tóxico para saúde". E para que não restem dúvidas fazem-se as devidas comparações com o biocarvão produzido em Oliveira de Azeméis e um outro carvão em dois fogareiros no exterior da fábrica. "O nosso produto tem mais poder calorífico, de acendimento muito mais rápido, e assa mais sardinhas do que a concorrência", diz Nuno Costa. Não deita fumo, não há faíscas e o tempo de queima é mais longo.

O projecto envolveu um investimento de 2,8 milhões de euros, com 50% de financiamento do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN). Fernando Rocha, director-geral da Ibero Massa Florestal, sonhou com a ideia e tratou de concretizá-la a partir do zero. "Foi tudo criado de raiz, não havia vícios e, ao nascer, nasceu bem", refere. "O mercado internacional não nos ajudou em nada. Começámos a aventura sem pontos de referência", recorda. Por isso, a satisfação por colocar um produto único no mercado nacional ganha maior importância.


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