quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Bastonada na fast-food

Paula Veloso | 2011-09-14
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Provavelmente será necessário, tal como se faz com o tabaco, colocar
alegações nos alimentos com taxas exageradas de gordura, sal ou
açúcar, alertando os consumidores para o perigo do seu consumo
excessivo e continuado.
Com o intuito de limitar o consumo de medicamentos e promover a saúde,
o bastonário da Ordem dos Médicos defende a criação de um imposto
sobre a fast-food, também considerada e apelidada de junk-food.
Adotámos no nosso vocabulário os termos fast-food (comida rápida) e
junk-food (lixo alimentar) para designar alguns alimentos como,
hambúrgueres, batatas fritas, cachorros quentes, pizzas, etc., etc.
Mas é preciso ter cuidado porque comida rápida pode não ser lixo e de
acordo com os mesmos critérios de sal, gordura, etc., há muitos outros
alimentos que, não sendo considerados fast-food, também deveriam ser
taxados.

Uma sopa ou uma sanduiche bem elaborada- dois exemplos de fast-food ou
dito, de uma forma mais patriota, dois exemplos de refeições rápidas -
não podem ser confundidos com outros menus cheios de calorias, gordura
e açúcar. Mas podem vender-se nos mesmos sítios... Aliás, começam a
vender-se nos mesmos sítios, o que alarga o leque de escolha dos
consumidores. Dizer taxativamente que um hambúrguer é um alimento
prejudicial à saúde não fica bem a uma pessoa com a responsabilidade
de um bastonário da saúde. O hambúrguer não será saudável se for
confecionado com carne com elevado teor de gordura, metida dentro de
um pão feito com farinha demasiado refinada e açúcar e acompanhado com
uma embalagem de batatas fritas e uma bebida exageradamente grande e
calórica! Mas um hambúrguer feito com bom pão, boa carne, precedido
por uma sopa e acompanhado por um sumo de fruta natural, é uma bela
refeição de "fast-food". Também as pizzas, geralmente conotadas com
lixo alimentar, não têm que o ser. Se forem feitas com massa de pão
que não leve gordura ou que utilize azeite em vez de margarinas de
qualidade duvidosa, for coberta por uma pasta de legumes (por exemplo
tomate, pimento, cebola, alho, etc.,) e finalizada com um fornecedor
proteico, como ovo, salmão, atum, carne picada ou outros, poderá ser
uma excelente forma de as crianças comerem peixe e vegetais.
Mas falando de excesso de sal e gordura, embora incluídos na categoria
de "slow-food" não teriam que ser taxados da mesma forma o cozido à
portuguesa, as pataniscas de bacalhau ou os rissóis de camarão, só
para dar alguns exemplos? E o simples arroz branco de acompanhamento
nos restaurantes que deixa um evidente rasto de gordura na travessa e
vem sempre acompanhado de batatas fritas, na maioria das vezes em óleo
alterado e muito prejudicial à saúde pelo número de frituras que
sofreu? Se pensarmos bem, a maioria dos restaurantes em Portugal usa e
abusa de gordura e de sal e também exagera nas quantidades, o que leva
as pessoas a comerem mais e a ficarem mais gordas, sobretudo se têm
que almoçar todos os dias fora, ou então geram um enorme desperdício
alimentar com as necessárias implicações ecológicas... As bebidas
alcoólicas, que não têm qualquer efeito benéfico sobre a saúde, a não
ser devido à sua composição em determinadas substâncias que por sinal
também se encontram nas uvas, e são responsáveis por meio milhão de
alcoólicos no nosso país, deveriam ser taxadas ao dobro dos
refrigerantes, que, por si só, também não deveriam estar equiparados
ao leite chocolatado porque este sempre contém nutrientes que promovem
o crescimento e a saúde dos ossos e que para muitas pessoas é a única
forma de conseguirem ingerir...
Provavelmente a indústria alimentar deveria ter mais responsabilidade
social e ir adaptando as regras da alimentação saudável ao gosto dos
consumidores em vez de fazer crer que o gosto dos consumidores é
sinónimo de alimentação saudável.
Provavelmente será necessário um maior empowerment dos consumidores
para conseguirem fazer escolhas saudáveis.
Provavelmente será necessário, tal como se faz com o tabaco, colocar
alegações nos alimentos com taxas exageradas de gordura, sal ou
açúcar, alertando os consumidores para o perigo do seu consumo
excessivo e continuado.
Provavelmente será fundamental as escolas advertirem para o risco do
excessivo consumo de carne ou bebidas alcoólicas entre a população e
começarem também a oferecer alimentos mais saudáveis aos seus alunos.
Provavelmente será necessário baixar a taxa dos alimentos saudáveis.
Ao taxar alimentos que fazem mal à saúde, a lista não se resumiria
certamente à fast-food. Há muita slow-food nacional que também deveria
ser taxada.
A cargo de quem ficam os critérios de inclusão ou exclusão? É que no
caso do verdadeiro "cozido à portuguesa", aqueles que gostam
excluem-no e os que não gostam irão certamente achar que também deve
ser taxado...
http://www.educare.pt/educare/Atualidade.Noticia.aspx?contentid=90393CF57FEF521CE0400A0AB8001D4F&schemaid=&opsel=1

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