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15 de Setembro, 2011
Ao mesmo tempo que cortam as uvas no Douro, os viticultores colhem
dificuldades e disparam críticas ao corte no vinho do Porto e ao preço
por pipa de vinho de consumo, que custa menos do que uma garrafa.
Há muito que os pequenos e médios produtores durienses se queixam da
crise estar a bater à porta. Só que, agora, entrou-lhes pela casa e
sem pedir licença.
«Para nós, o corte de benefício foi fatal», afirmou Aurélio Barros,
vitivinicultor de Donelo, Sabrosa.
O Douro pode produzir 85 mil pipas de benefício, ou seja, a quantidade
de mosto que cada produtor pode transformar em vinho do Porto. São
menos 25 mil pipas que na vindima de 2010.
Aurélio Barros contabiliza menos «oito pipas de benefício» e «menos
oito mil euros» que vai receber.
Para fazer a vindima, este produtor contratou 12 pessoas. Durante 12,
13 dias, vai pagar 40 euros ao homem e 35 à mulher, «comidos e
bebidos».
«É muito para mim, que vivo apenas do que a vinha me dá», salientou.
Ainda por cima, há uma quebra generalizada na produção, muito motivada
pelas condições climatéricas que obrigaram também a muitos tratamentos
na vinha.
Em Godim, junto à Régua, Teresa Guedes ficou com «lágrimas nos olhos»
quando entrou na vinha e viu as uvas «quase todas queimadas».
«Perdi cerca de 90 por cento da produção muito por causa das doenças.
O dinheiro gasto com os tratamentos foi dinheiro deitado fora»,
afirmou.
A vindima teve que ser feita com a prata da casa e uma única pessoa
contratada, a mesma que ali trabalha a tempo inteiro. «O que vou
receber não vai dar para pagar o que já investi na vinha este ano»,
salientou.
Teresa Guedes sofreu uma quebra de benefício de oito pipas e fez 40
quilómetros diários para entregar as uvas em São Martinho de Anta,
numa empresa que diz que «paga certinho».
Menos sorte teve Aníbal Miguel, que foi «despedido». Ou seja, a
empresa a quem vendia as suas uvas há 20 anos recusou-se a aceitá-las
este ano. «Queria saber porquê? Eram bons patrões», questionou.
Albano Teixeira não esconde o descontentamento com os governantes e
este Douro que parece olhar apenas para os turistas e se esquece de
quem construiu a paisagem classificada pela UNESCO há dez anos.
Concilia o trabalho na vinha com um emprego e, por causa disso, não
tem férias, fins de semana ou feriados. «Se eu metesse pessoal, então
tinha que deixar as vinhas a monte», garantiu.
Perdeu quatro pipas de benefício. «O vinho de consumo não o querem e
ainda temos que pagar o carreto para que o levem», salientou.
António Pereira, de Gouvães do Douro, queixou-se do preço a que é pago
ao produtor o vinho de consumo, o Douro DOC, designadamente 125 ou 130
euros por pipa.
«Depois, vão vender esse vinho a 70 ou até 125 euros por garrafa. É um
absurdo. Custa mais uma garrafa de 75 centilitros depois do vinho
feito do que custa uma pipa de 750 litros», frisou.
Este viticultor reivindicou um preço equivalente para o Douro DOC e
vinho do Porto.
«Se isso acontecesse, qualquer um de nós já conseguia sobreviver», acrescentou.
Enquanto isso não acontece, os produtores prometem continuar uma luta
que pode levar a greves de fome ou acampamentos à porta dos
ministérios em Lisboa.
Lusa/SOL
http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=28550
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