quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Procura de alimentos pela China coloca bancos centrais em aviso

DESTAQUE
12/09/11, 01:04
Por Vítor Norinha/OJE
A inflação é o maior drama com que os bancos centrais mundiais terão
de lidar perante a escala dos preços das matérias-primas agrícolas. O
culpado é o crescimento rápido da procura chinesa.
Os bancos centrais dos mercados emergentes asiáticos têm um drama
incontornável: os elevados níveis de inflação provocada pelas
"commodities" agrícolas. A China é uma economia emergente que caminha
a passos largos para se tornar na maior economia mundial, mas enfrenta
um drama: o consumo crescente de alimentos pela sua população está a
provocar uma espiral inflacionista nos preços mundiais. A consequência
natural a nível da política económica mundial será uma alteração das
estratégias dos bancos centrais, cujo objectivo nuclear será alterar
as políticas monetárias para contrariar a espiral da inflação, que
cria pobreza a prazo.

O banco central chinês será uma das entidades com maiores preocupações
a esse nível, já que a subida das matérias-primas agrícolas está a
criar uma "bolha" inflacionista sem precedentes. Durante este ano, o
banco central daquele país já subiu a taxa de juro directora por cinco
vezes e subiu por 12 vezes o nível de reservas obrigatórias por parte
dos bancos, no sentido de contrariar o aumento da massa monetária,
criando obstáculos à concessão de empréstimos. Estas operações vêm
sendo feitas desde o início de 2010 e o objectivo nuclear tem sido o
de controlar a inflação.
Na base desta procura suplementar, está o aparecimento de uma classe
média em países em desenvolvimento, com destaque para a China, cuja
classe média emergente procura uma nova dieta mais enriquecida. Esta
população suporta o aumento da procura e a subida dos preços, afirmou,
citado pela Bloomberg, Abby Joseph Cohen, partner e gestor sénior da
área de investimentos estratégicos da Goldman Sachs Group.
Ainda na conferência da Bloomberg sobre "Inflação Global", realizada
recentemente em Nova Iorque, Roberto Rigobon, um professor do
Massachusetts Institute, afirmou que os bancos centrais "devem estar
preocupados" com a subida dos bens alimentares. James Rickards,
director da Tangent Capital Partners, disse, no mesmo evento, que a
China está muito preocupada com a inflação, já que, se subir as taxas
de juro de forma excessiva, pode afectar as exportações e os empregos
associados, e estes são relevantes na economia. "Inflação e desemprego
são factores altamente desestabilizadores" para a China, adiantou.
Por outro lado, é conhecido que a inflação continua a ser o problema
nuclear para os bancos centrais dos países emergentes. No entanto, os
dados globais da inflação revelam crescimentos moderados, e isto
porque se assiste a uma melhoria moderada da economia global, o que
condiciona a subida dos custos da energia e das matérias-primas. A
inflação mundial deverá situar-se nos 3% este ano, contra 3,7%
anualizados em Junho, avançaram economistas do JP Morgan Chase. O
índice mundial das Nações Unidas sobre Alimentos e Agricultura caiu
para os 2,8% no último mês, depois de, em Fevereiro, ter batido o
recorde anual. Mesmo assim, o indicador está 21% acima do nível de há
um ano. Por exemplo, a soja está ser negociada no mercado de derivados
a um nível próximo do recorde de sempre, atingido em 2008. Esta
matéria-prima agrícola é a segunda mais transaccionada nos EUA depois
do milho. Abby Cohen afirmou, na mesma ocasião, que se assiste a uma
descida moderada do preço das "commodities" energéticas, mas não da
soja, o que o leva a acreditar que "de facto pode ter ter-se atingido
uma situação de permanência de preços elevados nos bens alimentares
com implicações estruturais".
Em meados deste ano, um relatório da ONG, "Growing a Better Future",
avançava com a possibilidade de os preços dos alimentos virem a
duplicar em 2030, a não ser que fosse reformado o modelo do sistema
alimentar mundial. As alterações climáticas serão um dos "drives"
dessa subida.
Crescimento do PIB e volatilidade na agenda de Bernanke e de Trichet
As recentes declarações de Ben S. Bernanke e Jean-Claude Trichet, os
presidentes da Fed e do BCE, respectivamente, vão no mesmo sentido:
preocupação com os riscos de inflação elevados e com o fraco
crescimento do Produto. Nos EUA, admite-se uma nova estratégia a nível
de estímulos da política monetária, uma estratégia muito criticada
pela China e Brasil, países que mantêm um elevado nível de divisas em
dólares e que vêm, desta forma, as suas reservas a depreciarem-se.
Trichet, por seu lado, deu sinais de que o estímulo deverá passar por
manter a taxa directora inalterada e não descartou a possibilidade de
descer taxas. A Zona Euro ganhou alguma consistência com a manutenção
do nível de inflação, algo que tem que ver com a valorizou do euro,
mas também com o crescimento moderado do Produto Interno europeu. A
volatilidade será algo que será inerente aos preços das
matérias-primas agrícolas. Lincoln Ellis, director-geral da Linn Group
e economista-chefe no Strategic Financial Group, disse que "os preços
alimentares vão continuar voláteis, em parte por causa das políticas
monetárias dos bancos centrais, mas também pelos níveis de crescimento
dos países em desenvolvimento". Ellis disse que "as dinâmicas daquilo
que consideramos a inflação tradicional foram colocadas em causa" nos
países em desenvolvimento.
China vai subir preços
O aumento da inflação na China irá afectar o nível de vida nos EUA
porque aquela tem sido um fornecedor de bens adquiridos pelos
consumidores norte-americanos a baixo preço, afirmou Jerry Webman,
economista-chefe da Oppenheimer Funds, em Nova Iorque, durante uma
conferência da Bloomberg.
"A espécie de volta de carrossel gratuita que temos tido" irá abrandar
à medida que a China passar a subida de preços internos para os
produtos colocados nos EUA, disse no mesmo evento.
http://www.oje.pt/noticias/destaque/procura-de-alimentos-pela-china-coloca-bancos-centrais-em-aviso

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