quinta-feira, 15 de setembro de 2011

'Sida das árvores' destrói montados

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15 de Setembro, 2011por Sónia Balasteiro
Mais de 90% dos viveiros florestais em Portugal podem estar afectados
pelanova praga que apodrece os sobreiros, as azinheiras e os
castanheiros a partir da raiz, condenando-os à morte.
Trata-se de novas estirpes de phytophthora, uma doença que está a
afectar milhares de árvores no país e que, alertam produtores
florestais e biólogos,e ainda não tem cura. A 'sida das árvores', como
é conhecida, está a alarmar os produtores, cada vez mais preocupados
com a situação. As más práticas agrícolas e as condições de clima
extremas potenciam o desenvolvimento da epidemia.

«Foram encontradas 25 novas espécies de phytophthora nos viveiros
florestais analisados por biólogos», revelou ao SOL o maior
especialista na patologia, Thomas Jung, acrescentando que o mesmo se
verifica «em Espanha, Alemanha, Hungria, Itália, Áustria e Polónia».
Por isso, o investigador alemão avisa que se não forem tomadas medidas
urgentes, «estes níveis de infestação levarão a um desastre ecológico
tremendo na Europa».
Segundo o especialista, estes resultados revelam não só as falhas no
controlo à circulação de plantas na Europa, mas também nas quarentenas
a que as jovens árvores deveriam ser sujeitas, de acordo com a
legislação comunitária. «O comércio internacional de plantas veio
colocar a floresta nativa em risco porque trouxe estirpes mais
agressivas contra as quais as nossas árvores não têm defesas», explica
Marília Horta, investigadora da Universidade do Algarve.
«Há árvores plantadas há cinco anos que já estão completamente
mortas», lamenta Jorge Turíbio, proprietário de 400 hectares de
montado de sobro e de azinho na zona do Guadiana, e membro da
Associação de Produtores de Porco Preto de Barrancos.
Falta de controlo
Miguel Vieira, da Associação de Produtores Florestais da Serra do
Caldeirão (APFSC), por seu lado, diz que «nas fronteiras não há
controlo absolutamente nenhum às árvores importadas para
reflorestação». E muitas destas árvores são portadoras do fungo,
espalhando a doença: «Mais de 5% das árvores plantadas entre 2000 e
2007 morreram ou porque não se adaptaram ou porque estavam afectadas».
Ao SOL, fonte oficial da Autoridade Florestal Nacional (AFN) nega a
falta de controlo, garantindo que a entrada de plantas «no espaço
comunitário obriga ao acompanhamento do certificado fitossanitário,
documento que atesta as boas condições das plantas, e de inspecção
fitossanitária, no local de entrada». Além disso, a mesma fonte
assegura que os inspectores do Ministério da Agricultura, Mar,
Ambiente e Ordenamento do Território visitam periodicamente os
viveiros.
Milhares em prejuízos
Em Portugal, a praga de phytophthora cinnamomi (estirpe que já existe
há vários anos no país) é já visível de Norte a Sul e está alarmar os
proprietários de azinho e de sobro, sobretudo no Alentejo e no
Algarve. «As folhas começam a secar nas árvores e, de repente, é
demasiado tarde», lamenta Jorge Turíbio, dono de duas propriedades de
200 hectares cada com montado de azinho e de sobro. Este empresário
diz que o problema está a alastrar-se na margem esquerda do Guadiana.
«Todos os anos, morrem 2 a 3% das nossas árvores, o que representa
milhares de euros de prejuízo», estima, recordando que «há cerca de
dois anos» foi obrigado a arrancar «mais de mil sobreiros para
controlar a praga». Sem qualquer efeito.
De resto, em todas as propriedades da zona, «estão a morrer árvores,
centenárias e jovens». A Sul, os produtores florestais deparam-se com
o mesmo problema. «A situação é gravíssima», assegura Miguel Vieira,
da APFSC, que congrega 400 associados na Serra do Caldeirão. A taxa de
mortalidade do sobreiral naquela zona, calcula, chega aos 25%. «Pelos
menos 20 mil hectares de montado estão mortos ou a morrer». O
problema, lamenta o produtor, é que «não existe uma estratégia
nacional para controlar a epidemia, ou medidas para ajudar os
produtores a prevenir os ataques da planta».
Helena Bragança, do Instituto Nacional de Recursos Biológicos, explica
que, apesar de haver um produto (o Fosetil de Alumínio) que ajuda a
combater o fungo – pois torna as árvores mais fortes –, o controlo da
doença só pode ser feito com prevenção.
Os produtores devem «evitar práticas que mobilizem solos contaminados,
impedindo a circulação de pessoas em áreas afectadas, como fazem os
australianos (onde o problema tem grande proporção), desinfectar
alfaias e pneus, controlar os viveiros que produzem plantas para a
floresta e restringir a importação de plantas envasadas», diz a
responsável.
sonia.balasteiro@sol.pt
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=28552

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