Por Diogo Pombo, publicado em 20 Mar 2013 - 03:10 | Actualizado há 14
horas 36 minutos
Estudo mostra que inalar partículas libertadas por plantas e árvores
estimula a produção de células anti-cancerígenas
Viver rodeado por uma selva de betão e cimento tem desvantagens. A
poluição, o stress ou o ruído são os problemas mais falados e a
solução óbvia seria fugir para refúgios junto à natureza, mas é na
cidade com mais habitantes no mundo, Tóquio, que se está a desenvolver
o estudo que diz que inalar partículas produzidas por plantas e
árvores reduz a pressão arterial e estimula a produção de células
anti-cancerígenas no corpo humano. E nem é preciso estar no meio da
natureza - basta cheirá-la. Mesmo que na cidade.
As conclusões da investigação, ainda a decorrer na Escola de Medicina
Nipónica de Tóquio, capital japonesa, estão ligadas à medicina
florestal. A prática ainda não é aceite no país como um tratamento
médico, mas há muito que reúne popularidade como um método de
prevenção de problemas de saúde.
Em 1982, a Agência Florestal do Japão aconselhou à sociedade nipónica
o banho florestal como prática de relaxamento. Os japoneses chamam-lhe
Shinrinyoku, e existem já várias empresas do país a incentivarem os
seus trabalhadores a ocasionais passeios no bosque. Isto, porque
segundo a Sociedade Internacional da Natureza e Medicina Florestal
(Infom), sedeada no Japão, o contacto com a natureza reduz os níveis
de adrenalina e cortisol no organismo, substâncias relacionadas com o
stress e ansiedade.
A ciência provou que o stress é um dos factores que diminui a produção
de natural killer cells - células exterminadoras naturais (CEN), em
tradução livre. E foi este tipo de célula a suscitar a curiosidade de
Qing Li, presidente da Inform e coordenador do estudo da Escola de
Medicina Nipónica, que explicou ao i como funcionam ao certo estas
células: "São um tipo de linfócito [um glóbulo branco mononuclear
presente na medula óssea], e desempenham um papel importante na
vigilância imunitária" do corpo humano, resumiu. Este tipo de células,
continuou o especialista em imunologia ambiental, "protege [o
organismo] contra o de-senvolvimento, a proliferação e a formação de
metástases em tumores, além da prevenir doenças infecciosas".
Qing Li quis saber mais. Em Dezembro, numa entrevista à revista
"Outside", lembrou a primeira dúvida que o levou a dar início à
investigação: se a natureza reduz o stress, poderia ajudar também a
aumentar a produção destas células exterminadoras naturais. A medicina
florestal deu-lhe razão.
Ao fim de três dias a passear num bosque e a respirar fitoncidas
(substâncias orgânicas, anti-microbianas e anti-bacterianas),
aerossóis (partículas microscópias presentes no ar) e aromas de óleos
libertados por plantas e árvores, o Infom concluiu que, em média, o
número de células CEN no sangue de uma pessoa pode aumentar até 56%.
Até que Li voltou a questionar-se: poderia a produção de células
exterminadoras ser estimulada por aromas produzidos pela natureza, mas
inalados fora dela? Uma vez mais, a experiência provou que sim.
O investigador convidou 12 pessoas a passarem três noites num hotel,
hospedadas em quartos individuais. Ao longo da estadia, em alguns dos
quartos, Li vaporizou o ar com óleo de Hinoki, uma espécie de cipreste
comum no Japão. No final da estadia, os participantes dos quartos
vaporizados evidenciaram um aumento de 20% no número de células CEN no
sistema sanguíneo. Quanto aos restantes, as alterações foram quase
nulas. "É uma droga quase milagrosa", diz Qing Li. E conselhos não
faltam: "Quando é altura para ir de férias, não escolham uma cidade,
vão para uma área rural. Visitem um parque pelo menos uma vez por
semana e, em passeios citadinos, tentem andar sempre perto de
árvores."
http://www.ionline.pt/portugal/medicina-florestal-cheirar-natureza-combater-cancro
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