por Sara Sanz Pinto, Publicado em 26 de Maio de 2011 | Actualizado há 18 horas
O fundador da Microsoft diz que os africanos são um bom investimento
"A crise financeira não deve tornar-se uma crise de coragem", diz Gates
Reuters
O multimilionário Bill Gates não teve papas na língua: "a situação é
preocupante. Os preços dos produtos aumentam e com eles a escassez
alimentar. Tudo ocorre num contexto em que três quartos dos habitantes
dos países pobres vivem da agricultura", afirmou ontem o fundador da
Microsoft numa conferência de imprensa em Nova Iorque.
Por causa disso, pediu ontem aos países mais ricos do mundo que ajudem
os agricultores mais pobres. As palavras de Gates vêm na sequência de
um discurso que fez no dia anterior no Conselho de Chicago sobre
Assuntos Globais, onde sublinhou a necessidade de um maior
investimento dos governos dos países mais ricos na agricultura do Sul
da Ásia e na criação de programas que apoiem o continente africano.
Esta recomendação visa triplicar a produtividade nos países dessas
zonas e reduzir assim a fome no mundo.
Foi a primeira vez que o fundador da Microsoft, de 55 anos, discursou
sobre o tema perante altos membros da administração de Barack Obama.
"Poderá parecer muito - mas, tendo em conta a necessidade, não é",
disse à audiência presente no simpósio em Chicago, que incluía figuras
como o secretário norte-americano da Agricultura, Tom Vilsack, e o
director da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional
(USAID), Rajiv Shah.
"A escala da oportunidade significa que ninguém consegue fazê--lo
sozinho - [a situação] exige a total participação dos países doadores
e dos governos nacionais", acrescentou. Até agora só o Canadá tem
mostrado uma atitude de liderança neste domínio. Além de se terem
associado ao lançamento do Global Agricultural and Food Security
Program - uma iniciativa de 925 milhões de dólares financiada também
pela Fundação Bill & Melinda Gates e que conta com a participação dos
EUA, de Espanha, da Coreia do Sul, da Irlanda e da Austrália -, as
autoridades de Otava definiram a segurança alimentar global como
prioridade da Canadian International Development Agency, que ajuda os
países mais pobres.
Gates mencionou o Canadá no discurso, usando-o como exemplo. A 30 de
Abril de 2011, apenas 45% do dinheiro prometido tinha sido recebido
pelo Global Agricultural and Food Security Program, que distribuirá no
próximo mês bolsas para países pobres que apresentem propostas de
agricultura sustentável. Os EUA são os mais atrasados na transferência
das verbas, tendo apenas disponibilizado 66,6 milhões dos 475 com que
se comprometeram. Os 230 milhões de dólares prometidos pelos
canadianos já foram entregues.
"A produtividade africana na agricultura é tão baixa que basta um
investimento marginal para melhorar a produtividade, o que poderá
conduzir a mudanças enormes nos níveis de produção", sublinhou Gates.
"Existem boas indicações de que a agricultura africana poderá
tornar-se líder no futuro em termos de crescimento e em termos de
potencial", justificou.
Nos últimos cinco anos, a fundação criada por Bill e pela mulher com
grande parte da sua fortuna pessoal, com participação do investidor e
filantropo Warren Buffett, gastou 1,7 mil milhões de dólares a ajudar
pequenos agricultores em países pobres. "A crise financeira não deve
tornar-se uma crise de coragem - e não deve levar a cortes em
programas que oferecem um retorno enorme", concluiu.
http://www.ionline.pt/conteudo/125814-bill-gates-pede-dinheiro-aos-ricos-ajudar-os-pobres-agricultores
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