sábado, 10 de março de 2012

10 enólogas: Há dezenas e dezenas de mulheres a fazer vinho

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Por Pedro Garcias
15.04.2011
O mercado está cada vez mais de olho nas mulheres, produzindo vinhos
que vão ao encontro dos seus gostos e sensibilidade. Mas há uma ironia
nesta dinâmica: muitos dos vinhos que enchem as garrafeiras das lojas
da especialidade ou das grandes cadeias de distribuição já são feitos
por mulheres. Elas ainda não dominam o negócio, mas também já não
estão remetidas ao seu papel mitológico de bacantes, nem fechadas
apenas nas paredes de um laboratório.
Há menos de duas décadas, encontrar 10 enólogas em Portugal para uma
reportagem sobre a presença das mulheres no mundo do vinho era quase
uma utopia. Hoje, já somos obrigados a delimitar o grupo e a deixar
muita gente de fora. Para este retrato do vinho no feminino escolhemos
10 enólogas com influência no sector, mas podíamos seleccionar muitas
mais. De norte a sul do país, da Madeira aos Açores, há dezenas e
dezenas de mulheres a fazer vinho. Muitas não são conhecidas, vivendo
subordinadas à figura tutelar do enólogo consultor, mas há cada vez
mais a assumir as tarefas da enologia sozinhas.

A história do vinho está cheia de figuras femininas lendárias. Em
Portugal, nenhuma se aproximou do protagonismo que atingiu Dona
Antónia Ferreira, "A Ferreirinha", no século XIX. Foi uma pioneira,
não só por ter assumido a liderança do negócio das vinhas e do vinho
da família, mas também por ter sido bem sucedida. Algumas das quintas
mais importantes do Douro actual, como o Vallado e o Vale Meão, são um
legado seu.

As "Ferreirinhas" de hoje são Leonor Freitas, que dirige a Casa
Ermelinda de Freitas (Terras do Sado), Ana Cristina Ventura, a
proprietária da Herdade dos Cadouços (Tejo), Catarina Vieira, a líder
da Herdade do Rocim, Luísa Amorim, a responsável pelos negócios do
vinho no Douro da família Amorim (Quinta Nova de Nossa Senhora do
Carmo), e Laura Regueiro, a matriarca da duriense Quinta da Casa
Amarela. Não são as únicas, há muitas mais, embora não com a mesma
relevância. Se descermos da administração para a adega, aí o panorama
é outro. No espaço sagrado do vinho, ainda dominado por homens, há um
acento cada vez mais feminino.

Graça Gonçalves, enóloga da Quinta do Monte d'Oiro, não atribui um
significado especial ao fenómeno. "Há mais mulheres no mundo do vinho
como há em todas as outras profissões. Antes não víamos mulheres na
tropa, agora vemos. Antes não havia mulheres a conduzir autocarros,
agora há", diz. Graça fala de uma conquista da democracia. "Hoje as
coisas acontecem mais naturalmente. Antes, só estavam no vinho as
filhas ou as mulheres dos proprietários. Os homens só queriam as
mulheres para os laboratórios, para estarem ali paradinhas. A minha
geração [tem 42 anos] ainda sentiu isso na pele", diz. Ela própria
viveu uma experiência que espelha bem a estigmatização da mulher
enóloga (ver texto ao lado).

Filipa Tomás da Costa, a directora de enologia da Bacalhôa e decano
das enólogas portuguesas, acha que as mulheres do vinho estão a fazer
o mesmo percurso e a sentir as "mesmas dificuldades que todas as
mulheres sentem quando exercem profissões antes reservadas apenas aos
homens". "A Europa ainda é um mundo de homens", sustenta.

Mas não valoriza muito a ideia de que as mulheres estão a afirmar-se
no mundo do vinho porque são mais sensíveis. "Todos nós temos
tendência para colocar um pouco do nosso gosto pessoal nos vinhos. Eu,
por exemplo, não gosto de vinhos abrutalhados. Mas o importante é
sempre a matéria-prima. Com um peixe mau, não podemos fazer um bom
prato de peixe", diz.

O mundo da comida vem mesmo a propósito e é revelador dos novos
tempos. Até há bem pouco tempo, a cozinha estava reservada às
mulheres. Agora, são os homens que mandam nos tachos dos restaurantes.
No vinho está a acontecer o mesmo. Agora são elas que começam a dar
cartas na adega.

http://fugas.publico.pt/Vinhos/282625_ha-dezenas-e-dezenas-de-mulheres-a-fazer-vinho?pagina=-1

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