14.06.2011
Helena Geraldes
Logo depois de nascerem, as crias de abetarda ou sisão têm nas
vedações de arame uma prova de fogo. Muitas morrem sem conseguir
passar, em busca de alimento, refúgio ou água. No Alentejo, estão a
ser testadas passagens das redes. Câmaras fotográficas já "apanharam"
aqueles que as utilizam.
É nos meses de Junho a Agosto que começam a nascer as crias de
abetardas e sisões, nos campos de Castro Verde, cultivados com cereal.
"Assim que nascem, estas crias não ficam em ninhos, acompanham logo a
progenitora em busca de alimento, refúgio ou água. Acontece que, até
aos dois meses, estas aves não conseguem voar e ficam encurraladas
numa rede de vedações de arame", explicou ao PÚBLICO Rita Alcazar,
responsável da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) pelo projecto
LIFE Estepárias, em Castro Verde.
As crias, do tamanho de uma galinha, não conseguem passar pelos
buracos da vedação, tornando-se alvos fáceis para os predadores, como
os saca-rabos e raposas, que já se habituaram a procurar animais
vulneráveis junto às redes.
Além disso, as vedações são um obstáculo para as paradas nupciais das
abetardas, em Março. "Os machos precisam de espaço para estas
exibições e para as lutas entre si, através das quais estabelecem
hierarquias", lembrou ainda Rita Alcazar.
Mais de 50 passagens em onze quilómetros de vedações
A LPN está, desde o ano passado, a estabelecer acordos com vários
proprietários agrícolas e já instalou 52 passagens para as aves, de
modelos diferentes, em cerca de onze quilómetros de vedações, erguidas
para delimitar propriedades ou para conter o gado. Desde Março estão a
monitorizar a eficácia dos vários tipos de passagem e, para tal foram
instaladas cinco câmaras fotográficas, com a ajuda de financiamento da
Comissão Europeia. "Estamos a caminho de adquirir outras tantas",
adiantou.
"Ainda estamos em fase de testes mas as primeiras imagens captadas
através de armadilhagem fotográfica dão conta que as passagens estão a
ser utilizadas pelas abetardas e sisões" mas também por lebres, águias
e texugos. Só no final de 2012 a LPN poderá concluir que tipos de
passagens são mais eficazes para as aves e que, ao mesmo tempo,
cumpram os seus objectivos de contenção e delimitação das
propriedades.
O censo anual de abetardas em Castro Verde contabilizou este ano 1300
indivíduos, 645 dos quais são fêmeas. "Este é um número bom e
encorajador. Mas revela uma estabilização da população", responsável
por 85 por cento de todas as abetardas do país. Esta é uma espécie
classificada como "Em Perigo" pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de
Portugal. Segundo a LPN, estas aves – que se alimentam de plantas,
sementes e invertebrados - podem chegar aos 16 quilos e a cerca de um
metro de altura.
http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1498643
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