Opinião
Paulo Ferreira
00h34m
Resposta: nem sempre o que é nacional é bom. Mas, é verdade, o que é
nacional é muitas vezes melhor do que aquilo que importamos, sobretudo
no ramo agro-alimentar, no têxtil e no calçado, já que noutros
sectores não vale sequer a pena lutar contra o poderio de quem produz
mais, melhor e a preço imbatível. De modo que, nas áreas em que somos
capazes de oferecer qualidade sem carregar excessivamente no que se
cobra, são bem-vindas e bem-vistas todas as estratégias que ajudem a
vender o que é nosso e, por essa via, a diminuir a nossa dependência
externa.
É esse o objectivo primeiro da campanha "Compro o que é nosso", cujo
balanço foi ontem feito pela Associação Empresarial de Portugal, motor
da iniciativa. Nesta altura, o programa conta com 670 empresas (a
maioria do Norte) e leva um volume de negócios que ascende a uns muito
simpáticos 12,5 mil milhões de euros. Ou seja: há razões para manter e
fortalecer a aposta, o que será tentado através de uma parceria com a
poderosa Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição.
O ponto é este: merecendo a iniciativa toda a simpatia (é sempre
preferível comprar um carro a um amigo do que a um desconhecido), tem
ela pernas para andar, numa altura em que a crise transforma o preço
no factor (ainda mais) decisivo no acto da compra? A garantia de
qualidade, atestada pelo selo de proveniência, chega para que o
consumidor esteja disposto a comprar o que é nacional, por saber que,
em princípio, é bom?
É porventura impossível chegar a uma resposta clara, porque, está
estudado, os factores que influenciam a escolha de um determinado
produto estão muitas vezes para além do que parece ser um mero e
rotineiro acto de compra. Mas é possível ir dando passos para que o é
nacional seja bom e não esmague os já parcos orçamentos das famílias
portuguesas.
Dois exemplos: criar marcas brancas feitas apenas com produtos
portugueses. A quota de mercado ocupada pelas marcas brancas é, como
se sabe, cada vez maior. Mas também merece muitas reservas dos
consumidores, cada vez mais atentos aos perigos ligados ao uso de
produtos de proveniência duvidosa. Se as grandes cadeias de
distribuição estiverem dispostas a apostar neste segmento, talvez seja
possível alargar, a partir daqui, o volume de negócios.
Segundo exemplo: maior e melhor organização dos produtores. Veja-se o
caso da cereja, retratado nas páginas 4 e 5 desta edição: a indústria
reclama mais produto, os produtores não conseguem satisfazer o pedido,
as importações aumentam, o dinheiro que devia ficar cá dentro vai para
fora. Não há união, não há força.
http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1877253&opiniao=Paulo%20Ferreira
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