Matérias-primas
Margarida Vaqueiro Lopes
15/06/11 00:05
As autoridades europeias mostraram-se ontem preocupadas com a escalada
das 'commodities'.
As preocupações sobre a recente escalada dos preços das
matérias-primas levaram ontem o presidente francês, Nicolas Sarkozy,
até à Comissão Europeia onde falou a convite de Durão Barroso. A
subida dos preços das 'commodities' deverá afectar o orçamento das
famílias, mas será também uma oportunidade para a agricultura nacional
e para os investidores que queiram investir em matérias-primas, dizem
os especialistas.
Sarkozy, que assume actualmente a presidência do G20, alertou ontem
para a possibilidade do aumento de preços das 'commodities' ter um
impacto negativo no crescimento global. E alertou também para a
possibilidade do sector das matérias-primas conduzir, à semelhança do
que aconteceu em 2008, o mercado financeiro para a beira do abismo."É
altura de o G20 assumir as suas responsabilidades", disse o presidente
francês em Bruxelas.
"Vamos assistir novamente a um desastre no mundo das
matérias-primas?[...]Temos que o evitar, agora", avisou Sarkozy que
exortou a uma maior transparência e regulação nos mercados. A
impulsionar a subida dos preços tem estado o aumento exponencial da
procura por parte dos países emergentes, como é o caso da China que de
exportador de matérias-primas passou, recentemente, a um dos maiores
importadores a nível global.
Portugal importa cerca de 75% dos cereais que consome, o que significa
que está a ser particularmente afectado pelos elevados preços das
matérias-primas nos mercados internacionais. Antónia Figueiredo,
secretária-geral adjunta da Confederação Nacional das Cooperativas
Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri), refere que
esta subida dos preços pode, no entanto, ser uma oportunidade para a
agricultura portuguesa. "Temos esperança de que haja aqui um despertar
de consciência e que aqueles dois milhões de hectares que estão por
produzir voltem a ser cultivados". E adianta:"Esta situação não é
sustentável". E não é díficil perceber porquê. Segundo a Bloomberg, o
preço do milho já subiu 21% desde o início do ano, enquanto o preço do
leite disparou mais de 40%. O preço do trigo, ainda que registe uma
descida de 10% desde o início de 2011, chegou a negociar nos 9,44
dólares o alqueire, em Fevereiro, um valor muito próximo dos 10,18
dólares- recorde atingido em 2008. No mesmo sentido, o milho fixou um
novo máximo, em Abril deste ano, ao negociar nos 7,81 dólares o
alqueire. Subidas que se juntam ao aumento do preço dos combustíveis e
se reflectem no preço apresentado ao consumidor final.
"O aumento do IVA, a subida do preço dos combustíveis e dos bens
alimentares terão implicações profundas na vida da sociedade
portuguesa", referiu ao Diário Económico João Moura, Executive
Researcher na Ipsos Apeme. Um estudo realizado em 2009 mostra que 89%
dos portugueses alterou os seus comportamentos de consumo devido à
crise. É preciso, portanto, que os consumidores consigam fazer uma
'adaptação inteligente' a novos hábitos de consumo. Uma mudança que,
explica o especialista, "implica ou a alteração da frequência de
consumo ou o consumo de bens substitutos, a monitorização de preços e
promoções, a abertura à experimentação de novos produtos, na
"desfidelização" às marcas, a revisão da motivação para a compra dos
produtos, entre outras estratégias".
No entanto, e apesar do peso que estes aumentos provocam no orçamento
das famílias - que vêem o preço do seu cabaz alimentar a subir de mês
para mês- há quem saiba tirar o melhor partido desta escalada e fazer
render os seus investimentos.
http://economico.sapo.pt/noticias/subida-de-precos-dos-alimentos-faz-disparar-alarme-na-europa_120595.html
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