quinta-feira, 16 de junho de 2011

Queijaria: Mil toneladas produzidas por ano na estrela

Queijo da Serra vale 25 milhões
Até ao início do século XX, o queijo da Serra da Estrela apenas servia
como moeda de troca, que os agricultores usavam para pagar às famílias
ricas a ocupação dos seus terrenos, e de alimentação aos pastores, que
faziam a transumância e passavam semanas longe de casa.
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Por:Luís Oliveira


Com a evolução dos tempos, com a abertura de vias de comunicação e o
desenvolvimento dos transportes, foi ganhando apreciadores em todo o
País e no estrangeiro. Hoje, é uma actividade que resiste às
dificuldades da vida do campo, geradora de mais-valias económicas de
25 milhões de euros por ano. Em muitos casos, é a única fonte de
sustento das famílias.
O Serra da Estrela tem o selo de Produto Tradicional de Qualidade, é
considerado um dos melhores queijos de montanha do Mundo e já foi
premiado em feiras e outros certames internacionais. Tem um sabor
único que o distingue: mais ou menos amanteigado ou amarelado, com
menos ou mais sal, certificado ou não, é o resultado final de uma
actividade secular na zona serrana, que nas últimas décadas se soube
adaptar às exigentes normas da União Europeia.
Como outros produtos da agro-pecuária, o queijo da Serra da Estrela
tem conseguido sobreviver à fuga dos habitantes do Interior devido à
perseverança de pastores e queijeiras. No entanto, a actividade pode
estar em perigo, porque não há mão-de-obra disponível para trabalhar
no sector.
António Simão, de 50 anos, e Maria Odete, de 48, proprietários de uma
queijaria tradicional em São Romão, Seia, são dos poucos produtores da
região que se ocupam de todo o processo de fabrico do queijo – desde o
pastoreio de 400 ovelhas bordaleiras até à venda no próprio domicílio.
"É uma vida dura, que nos ocupa todos os dias do ano, quer faça chuva,
frio ou muito calor", explica António Simão, sorridente, no final de
uma das últimas madrugadas, quando acabava de ordenhar as ovelhas que
o ajudam a sustentar a casa e a queijaria.
Por ano, os agricultores da região da Serra da Estrela produzem, em
média, mil toneladas de queijo. Desta quantidade, apenas uma pequena
parte é certificada. Muitos produtores optaram por não o certificar
porque chegaram à conclusão de que o investimento no selo de
certificação não era compensador.
A região demarcada de produção do queijo da Serra da Estrela integra
freguesias de 18 concelhos, de quatro distritos: Carregal do Sal,
Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia, Mangualde, Manteigas,
Nelas, Oliveira do Hospital, Penalva do Castelo, Seia, Aguiar da
Beira, Arganil, Covilhã, Guarda, Tábua, Tondela, Trancoso e Viseu.
"OS BONS PRODUTOS TÊM SEGREDO": Maria Odete, 48 anos, queijeira
CM – Há algum segredo na feitura do queijo?
Maria Odete – Segredos há em todos os bons produtos. Neste caso, além
do leite ter de ser bom, é necessário cumprir todos os procedimentos
que os mais antigos nos ensinaram.
– Quais os principais cuidados?
– Ter muito cuidados com a higiene e a limpeza. É a coisa mais
importante, porque se algo corre mal, podemos ter problemas com a
fiscalização e perder clientes.
– Quantos queijos faz por dia?
– Agora estou a fazer uma média de oito a dez por dia. Noutros tempos
chegava a fazer o dobro.
– Quanto tempo demora um queijo a ficar pronto?
– Cerca de dois meses. O processo de cura é muito importante. Os
queijos estão nas câmaras e são virados todos os dias. E tenho a venda
garantida.
ACTIVIDADE EM RISCO POR FALTA DE PASTORES
A produção do queijo da Serra da Estrela poderá estar comprometida,
não por falta de matéria-prima, mas por ausência de mão-de-obra,
sobretudo de pastores para tratar dos rebanhos.
Actualmente, há grande dificuldade em encontrar pessoas para trabalhar
na pastorícia, e os que aparecem "são doidos ou bêbedos", desabafa
António Simão, enquanto encaminha para a serra o seu rebanho de 400
ovelhas bordaleiras.
"Bem pode o senhor Presidente da República apelar ao investimento da
agricultura, mas as pessoas não querem esta vida", lamenta o pastor,
adiantando que muita gente "passa por dificuldades porque não quer
trabalhar".
AUTARCAS PEDEM APOIOS À UE
Os autarcas da região da Serra da Estrela, conscientes de que o sector
dos lacticínios é extremamente importante para a economia regional,
têm pressionado o Governo e a União Europeia para "apoiar a sério" os
produtores. Mais do que nunca, alertam que se nada se fizer, dentro de
poucos anos não haverá gente para fazer o queijo, que rende 25 milhões
de euros por ano.
SECTOR ESTÁ ENVELHECIDO
A Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela está
preocupada com o envelhecimento dos produtores, o desinteresse dos
jovens pelo sector e a inexistência de pastores. "É preponderante
rejuvenescer o sector e afirmar que a produção do queijo pode ser uma
aposta contra a crise económica que o País atravessa", afirma João
Madanelo, da associação.
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/queijo-da-serra-vale-25-milhoes

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