ANTÓNIO BORGES
por RUI MARQUES SIMÕESHoje
Professor universitário, gestor, director do Departamento Europeu do
FMI e militante do PSD, António Borges tem uma faceta escondida:
paixão pelas terras de Alter do Chão.
O director do Departamento Europeu do FMI não é um político nato nem
vem de uma grande potência do "Velho Continente". António Borges, o
comandante do Fundo Monetário Internacional em terras europeias, é,
sim, um "cidadão do mundo" (viveu nos EUA, na França e na Inglaterra),
nascido no Porto e apaixonado pelo Alentejo. E - dizem os próximos - é
"um brilhante economista, com excelentes qualidades técnicas"... que
"não se sente tão à vontade no palco político".
Borges, de 61 anos (completados a 18 de Novembro), é um dos raros
nomes portugueses que foram capazes de chegar ao topo do mundo da
economia. Em Outubro passado foi nomeado director do Departamento
Europeu do FMI. Mas antes já somava uma vasta carreira académica:
estudou em Stanford, nos EUA, e deu aulas nas universidades Nova e
Católica de Lisboa e na prestigiada escolha de gestão INSEAD, em Paris
- onde também foi reitor. E um largo currículo empresarial: foi
vice-governador do Banco de Portugal, trabalhou para Sonae, Jerónimo
Martins, Cimpor e Petrogal... e nos escritórios londrinos da Goldman
Sachs e no Hedge Fund Standards Board.
Entre tanta actividade, a política foi um parêntesis. Borges filiou-se
no PPD/PSD logo depois da sua fundação, no pós-25 de Abril. Mas a ida
para os EUA, em 1976 (para se doutorar em Stanford), afastou-o do
partido. E Borges apenas retomaria a miltância em 2000 - assumindo
cargos de relevo de 2008 a 2010, quando foi vice-presidente da
Comissão Política Nacional. Talvez por isso seja mais lembrado nas
hostes sociais-democratas... pela competência técnica. "Ele é um
brilhante economista, tem elevado sentido patriótico e excelentes
qualidades técnicas, mais do que as políticas", aponta um dirigente de
topo do partido laranja.
Na verdade, a falta de "à-vontade" político não impediu António Borges
de cumprir dois mandatos como presidente da Assembleia Municipal de
Alter do Chão (até 2009). Aí, "devido ao feitio reservado, via-se que
política não era o palco preferido dele", conta o então presidente da
câmara (e agora sucessor de Borges na assembleia), Hemetério Cruz. Em
accões de campanha, aquela "pessoa amiga, de excelente trato,
ponderada e que nunca se põe em bicos do pé" tornava-se mais retraída.
E Hemetério Cruz não deixa de recordar uma visita a Seda, um velho
bastião comunista naquele concelho social-democrata, onde a timidez de
António Borges veio ao de cima, "quando era abordado pelos idosos da
aldeia".
No fundo, o economista não estava ali pelo jogo político, mas pelo
amor à terra. Em Alter do Chão, estavam as raízes familiares da mãe (o
pai era um industrial do Norte do País). E os Borges - António tem
quatro irmãos - mantiveram o elo com o refúgio alentejano. "Ele sempre
teve uma forte ligação a Alter, tem um palacete na vila e a herdade, o
Monte Barrão. Passa lá férias e todos os tempos livres", revela outro
alterense, Manuel Isaac Correia, director do Diário do Alentejo. "Os
fins-de-semana aqui são revigorantes para ele", completa Hemetério
Cruz. Em Alter, o pai de António Borges reinventou-se como agricultor.
E o filho seguiu- -lhe as pisadas, investido na exploração da herdade
de onde sai o vinho Monte Barrão.
De resto, foi o pai que marcou o futuro de António Borges, "quando o
incentivou a ir estudar para Lisboa e para o estrangeiro", defende
Isaac Correia. Agora, o adolescente que vivia na Invicta e jogava
voleibol no FC Porto é um economista de fama mundial, está casado, tem
quatro filhos e manda no Departamento Europeu do FMI. Só a paixão pelo
Alentejo se mantém igual.
http://www.dn.pt/gente/interior.aspx?content_id=1881787&page=-1
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