Ciência e Tecnologia
Seg, 27 de Junho de 2011 06:45
A revista Nature lançou, em sua edição atual, um suplemento especial
sobre biocombustíveis. A publicação tem apoio da FAPESP, do
Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC) do
Reino Unido, do BioEnergy Science Center (BESC), ligado ao
Departamento de Energia dos Estados Unidos, e das empresas Ceres e BP.
Intitulado Semeando substitutos para combustíveis fósseis, o
suplemento reúne artigos e reportagens que abordam os biocombustíveis
sob diferentes perspectivas.
Moving forward with biofuels foi escrito por Carlos Henrique de Brito
Cruz (diretor científico da FAPESP), Richard Flavell (cientista-chefe
da Ceres), Martin Christie (diretor de comunicação e sustentabilidade
da BP Biocombustíveis), Janet Allen (diretora de pesquisa da BBSRC),
Douglas Kell (CEO da BBSRC), Martin Keller (diretor associado do Oak
Ridge National Laboratory) e Paul Gilna (diretor do BESC).
No texto, os autores destacam que os biocombustíveis podem ser uma
parte significativa da resposta à pergunta que se faz hoje sobre como
a humanidade pode seguir em direção à mobilidade de baixo carbono
assegurando, por um lado, o suprimento necessário de alimentos e
serviços ambientais suficientes e, por outro, minimizando ou mesmo
revertendo a produção de gases de efeito estufa, em um contexto no
qual se prevê que o uso de energia deverá dobrar até 2050.
Segundo eles, os biocombustíveis podem substituir muitas aplicações do
petróleo e, em particular, os combustíveis líquidos utilizados no
transporte. Além disso, eles também podem servir como substitutos do
petróleo nas indústrias petroquímicas, como, por exemplo, na produção
de polímeros "verdes".
Em contrapartida, a produção de biocombustíveis de plantas tem gerado
muita controvérsia e equívoco. O que, na opinião dos autores,
justifica e torna oportuno o suplemento especial da revista sobre o
tema.
"A produção em larga escala de biocombustíveis, como parte de uma
agricultura global mais eficiente, não é somente vital para a
suficiência, segurança e sustentabilidade energética, como também é um
dos principais temas na agenda de debates política, regulatória e de
sustentabilidade", afirmam.
De acordo com o texto, em 2010 os Estados Unidos produziram 13 bilhões
de litros de etanol de milho, o que corresponde, aproximadamente, a
10% do total do combustível que utilizam e representa um aumento de
800% em relação a 2000.
Por sua vez, o Brasil também teve um aumento de sua produção, que
chegou a, aproximadamente, 8 bilhões de litros de etanol de
cana-de-açúcar, representando cerca de 50% do combustível utilizado no
país. Mas esse aumento não foi obtido apenas com a expansão do uso da
terra para plantio.
Houve também um considerável aumento de produtividade. "A
produtividade da cana-de-açúcar aumentou no Brasil de 50 toneladas por
hectare em 1975 para 80 toneladas por hectare em 2005", apontam os
autores.
O texto também destaca a experiência bem-sucedida do Brasil na
utilização do etanol de cana-de-açúcar como combustível, por meio de
pequenas mudanças nos motores dos automóveis e na produção do chamado
polietileno "verde" por companhias petroquímicas como a Braskem, além
do farneseno (o diesel da cana), que deverá começar a ser produzido em
breve no país pela empresa Amyris.
"Quanto mais informações forem reunidas de experimentos realizados em
grande escala nos Estados Unidos, com o milho, e no Brasil, com a
cana-de-açúcar, mais inovações e/ou melhorias serão possíveis em todas
as etapas da cadeia de produção, assim como nos novos projetos de
processos de produção e biorrefinarias", afirmam.
Lições do Brasil
No artigo Lessons from Brazil, a professora de economia da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo
(USP), Marcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, aborda lições que o Brasil
pode oferecer para outros países com base em sua experiência de 35
anos como um dos maiores produtores mundiais de biocombustível.
Essas lições incluem a viabilidade de se substituir parte do
combustível fóssil por uma alternativa renovável, a necessidade de
regras claras sobre o funcionamento do mercado, a presença de uma
economia de escala, a proteção ao meio ambiente e a atração ao
investimento estrangeiro.
"Qualquer país que queira atrair investimento doméstico ou estrangeiro
precisa ter regras claras sobre o funcionamento de seu mercado de
etanol. É preciso que estabeleça, entre outras coisas, como será a
formação de preços, a competição com a gasolina, uma política de
financiamento de estoque e de criação de empregos", disse Moraes à
Agência FAPESP.
Entre os outros artigos publicados no suplemento estão: A new hope for
Africa, de Lee Lynd, da Thayer School of Engineering do Dartmouth
College; Direct impacts on local climate of sugar-cane expansion in
Brazil, de Scott Loarie, pesquisador do Departamento de Ecologia
Global da Carnegie Institution for Science, e outros; e Microbial
production of fatty-acid derived fuels and chemicals from plant
biomass, de Eric Steen, do Departamento de Bioengenharia da
Universidade da Califórnia, em Berkeley, e colegas.
http://www.planetauniversitario.com/index.php?option=com_content&view=article&id=22834:nature-publica-especial-sobre-biocombustiveis&catid=56:ciia-e-tecnologia&Itemid=75
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