24-Jun-2011
Os elevados preços dos cereais e a "concorrência desleal" na qualidade
da carne apresentada na comercialização são as duas "maiores
adversidades" que preocupam os produtores de Porco Alentejano, disse
hoje à agência Lusa um criador.
João Malpique, criador de Porco Alentejano desde 1997, na região de
Nisa (Portalegre), explicou que, no que concerne à produção, "os
preços dos cereais (mistura de trigo, milho, cevada e soja) estão pela
hora da morte".
O produtor falava à margem do II Congresso Iberoamericano de
Suinicultura, que decorre até sexta-feira numa unidade hoteleira de
Évora, subordinado ao tema "A economia e o futuro da fileira da carne
de porco – a carne por excelência".
Para João Malpique, vencedor em Portugal de vários concursos
morfológicos da raça e detentor em Espanha (2005 e 2007) do título de
proprietário da "Melhor Ganadaria Ibérica", a "concorrência desleal"
na venda da carne de Porco Alentejano, mais conhecido por "porco
preto", nos restaurantes é uma "grande preocupação".
"Nós assistimos, nas ementas dos restaurantes e nas superfícies
comerciais, a mencionar que é tudo porco preto, mas não corresponde à
verdade.
Não há nada escrito, não há regulamentação, não há leis que digam que
o porco preto é isto, o branco é aquilo, não há nada", declarou.
O criador explicou que a maioria das peças de carne de porco servidas
nos restaurantes são de outras raças e não de Porco Alentejano, devido
ao custo de produção, notando-se ainda que o paladar da carne, na sua
grande maioria, não é igual ao verdadeiro Porco Alentejano.
"Os produtores que produzem em regime extensivo, como é o meu caso,
têm um custo de produção de x, cujos animais levam 18 meses até serem
abatidos com um custo de produção mais elevado do que os outros
animais criados em baterias industriais", explicou.
"Esses animais têm o seu valor, mas a qualidade da carne não tem nada
a ver uma com a outra, embora a restauração quando compra diz que tem
Porco Alentejano, mas é só no nome", sublinhou.
Nesse sentido, João Malpique lamentou que os consumidores, quando têm
acesso à verdadeira carne de Porco Alentejano, optem por outra carne
(outra raça de suínos) em detrimento do Porco Alentejano, devido aos
preços praticados.
Por isso, o produtor defendeu que sejam adotadas medidas como em
Espanha, nomeadamente que seja elaborada uma regulamentação na
Assembleia da República (AR) e pelo Ministério da Agricultura para
"separar as águas"."Aquilo que se pretende é que seja regulamentada
esta situação.
A AR ou o gabinete de planeamento do Ministério da Agricultura têm que
o fazer", defendeu.
De acordo com este produtor, os consumidores não podem continuar a
comer "gato por lebre" na maioria dos restaurantes e na compra deste
tipo de carnes nos talhos.
João Malpique adiantou ainda que esta situação tem afetado bastante o
setor, tendo dado como exemplo o número de fêmeas inscritas no Livro
Genealógico do Porco Alentejano.
"Há dois ou três anos atrás estavam inscritas no livro 16 ou 17 mil
fêmeas e agora estão cerca de sete mil, situação que coloca em risco a
manutenção desta raça autóctone", concluiu.
http://www.radioportalegre.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=4147&Itemid=54
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