quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Director do Instituto Geográfico demite-se com duras críticas a Assunção Cristas

Publicado em 2012-01-24

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O director do Instituto Geográfico Português demitiu-se manifestando
"estranheza" e "desencanto" com a ministra Assunção Cristas e alegando
nunca ter sido ouvido sobre a nova orgânica do Ministério da
Agricultura, que considera "redutora" e "minimalista".


foto ARQUIVO JN

Mourato Nunes, antigo comandante da GNR

Na carta enviada na semana passada a Assunção Cristas, a que a Agência
Lusa teve acesso, Mourato Nunes, tenente-general e também
ex-comandante geral da GNR, considera mesmo que a nova orgânica do
Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território
(MAMAOT) - onde o Instituto Geográfico Português (IGP) é extinto e
integrado na Direcção-Geral do Território - representa "uma
oportunidade perdida" e "não serve os interesses do país".

Carlos Mourato Nunes afirma que "no que à Geodesia, Cartografia,
Cadastro e Informação Geográfica respeita" no âmbito do Plano de
Redução e Melhoria da Administração Central do Estado (PREMAC), nenhum
dos membros do Governo ouviu "os dirigentes nem os especialistas" do
IGP.

"Aliás, se o tivessem feito, para além da dimensão ética da atitude, a
reforma seria diferente, para melhor, sem desrespeitar as linhas de
orientação do Governo no que ao PREMAC refere", acrescenta.

Na missiva onde pede a demissão, Mourato Nunes revela ter tido apenas
duas audiências com o secretário de Estado da tutela, onde manifestou
"disponibilidade" para se manter na direcção do Instituto "até à
reorganização".

Mourato Nunes defende ainda que Assunção Cristas tem "o direito de
gerir o ministério como entende ser politicamente mais adequado" e "o
direito e a prerrogativa de escolher dirigentes da sua confiança
política e que considera melhor vocacionados para cumprir os
objectivos do Governo", mas não o de "não receber em audiência os
altos dirigentes em exercício de funções, de não os ouvir para os
grandes estudos e análises que concorrem para a elaboração do processo
de decisão, que deveria preceder as reformas em curso".

"Ao longo do período de sete meses de mandato do XIX Governo
Constitucional que V. Excelência integra, não me foi facultada a
possibilidade de uma audiência para consigo dialogar, expor pontos de
vista, discutir políticas, receber orientações ou, tão simplesmente,
estabelecer uma mera relação de conhecimento (...) Durante estes meses
do seu mandato, que segui atentamente, esperei uma palavra, uma
orientação, uma oportunidade; tal não aconteceu, situação que lamento
profundamente e que, por inusitada, muito estranho", assinala.

"Não me move qualquer sentimento de crítica estéril e muito menos de
despeito pessoal, tal seria descer a um nível que não é nem nunca será
o meu (...) Entendo, isso sim, que em Portugal não podem ocorrer
oportunidades perdidas e esta será, infelizmente, mais uma
oportunidade perdida", critica o antigo comandante da GNR,
acrescentando que esta reforma do Governo "é redutora, minimalista e
não serve os interesses do país".

Mourato Nunes refere ainda que a sua "vivência profissional",
"experiência de administração pública" e o seu "empenhamento de
décadas à causa pública legitimam a estranheza e o desencanto" pela
forma como foi tratado.

"Cumpri a minha parte e esforcei-me por cumprir bem, como é meu dever.
Nada me é devido por isso, apenas o respeito que um director-geral
merece. Aceite senhora ministra, o meu pedido de exoneração do cargo
de director-geral do IGP", conclui Mourato Nunes.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=2261083&page=-1

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