quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Fevereiro será crucial para a actual situação de seca

25.01.2012
Helena Geraldes

O mês de Fevereiro será crucial para a seca que o país está a
atravessar este Inverno, segundo o Instituto de Meteorologia, que
espera um agravamento da situação até ao fim de Janeiro.

Em Dezembro, choveu o correspondente a 29% da média de 1971-2000 e
toda a região a Sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela registou
uma percentagem mesmo inferior a 25%. Segundo o boletim climatológico
mensal do Instituto de Meteorologia, os valores mensais da quantidade
da precipitação no mês passado variaram entre os 3,5 milímetros e os
152,9 milímetros, de acordo com os dados obtidos nas 76 estações do
Instituto de Meteorologia e nas 37 estações do Instituto da Água
(Inag). A precipitação média anual (1971-2000) em Portugal Continental
é de cerca de 882 mm.

"A situação de seca, que no final de Novembro apenas se verificava
nalgumas áreas do litoral Norte e Centro, intensificou-se nessas
regiões e estendeu-se a quase todo o território do continente",
segundo o boletim.

Até ao final de Dezembro, 83% do território estavam em seca fraca, 6%
em seca moderada, 8% em situação normal e 3% em chuva fraca, segundo o
índice meteorológico de seca PDSI (Palmer Drought Severity Index), que
tem em conta dados da quantidade de precipitação, temperatura do ar e
capacidade de água disponível no solo.

Fevereiro será crucial

O Instituto de Meteorologia, em resposta a questões colocadas pelo
PÚBLICO, explica esta situação com o facto de o anticiclone dos Açores
- que costuma estar localizado a Sul dos arquipélago -, ter estado
"desde o início deste Inverno frequentemente a noroeste do Continente,
impedindo que as perturbações da superfície frontal polar se desloquem
para sul e atinjam o Continente". São estas perturbações "o principal
mecanismo responsável pela ocorrência de precipitação no Continente,
durante o Inverno".

A escassez de chuva no Inverno pode ser grave, dado que o clima
mediterrânico de Portugal concentra grande parte da precipitação
durante esta época do ano. Segundo o Instituto de Meteorologia, "em
média, cerca de 40% da precipitação anual ocorre durante o Inverno
(Dezembro a Fevereiro)".

Como os valores de precipitação estão muito abaixo do valor normal,
"será de esperar que no final do mês de Janeiro a situação de seca
meteorológica se agrave", admite o instituto. "O mês de Fevereiro irá
ser de extrema importância para determinar se a situação de seca irá
agravar (caso se mantenha os baixos valores de precipitação) ou se irá
diminuir ou mesmo terminar (caso se tenha um Fevereiro com valores de
precipitação muito acima do normal).

"Tudo depende do que irá acontecer nos próximo mês", contou ao PÚBLICO
Filipe Duarte Santos, investigador no campo das alterações climáticas
da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Mas este
especialista não afasta a possibilidade de a falta de chuva pode ter
consequências preocupantes para a agricultura e produção de
electricidade pelas barragens. "Acho que estamos no limiar de uma
situação que pode ser muito grave para Portugal".

Segundo dados das Redes Energéticas Nacionais (REN), as barragens que
produzem electricidade estavam, no final de Dezembro, com 49% da sua
capacidade máxima. Este valor varia substancialmente. Nos últimos seis
anos, oscilou entre um mínimo de 45% (2007) e um máximo de 83% (2009).

A preocupação maior, neste momento, refere-se a zonas do país onde o
abastecimento de água é garantido por barragens relativamente
pequenas, como na região transmontana.

Para os próximos dias, de 26 Janeiro a 3 de Fevereiro, o Instituto de
Meteorologia prevê "uma alteração da situação meteorológica que tem
vindo a predominar nos últimos dias, com ocorrência de precipitação,
em geral fraca, nos dias 26 e 27, em especial nas regiões Norte e
Centro e que será sob a forma de neve nas terras mais altas daquelas
regiões". No período entre 30 Janeiro e 3 de Fevereiro prevê-se que a
influência do anticiclone dos Açores seja pouco relevante e a
probabilidade de ocorrência de precipitação a partir do dia 31 varie
entre 35 e 65%.

http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1530684

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