segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ruralidade é um mito e só existe em resorts e turismo rural

domingo, 29 de Janeiro de 2012 | 14:16
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A ruralidade em Portugal é um mito que já só existe em "resorts" de
luxo ou casas de turismo rural, afirmou à Lusa o geógrafo e
investigador português Álvaro Domingues, que lança em março a obra
"Vida no Campo".
O livro "é sobre a desruralização. Não lhe chamo urbanização.
Desruralização é o processo de desconstrução do sustentáculo da
agricultura enquanto suporte económico, a cultura camponesa que está
exposta à cultura mundo e a paisagem que muda", explica Álvaro
Domingos, autor de "Vida no Campo", o segundo livro de uma trilogia,
que vai ser lançado em março na Casa do Conto, no Porto.

Em entrevista à Lusa no âmbito do lançamento da obra, Álvaro Domingues
conta que durante as viagens que fez para escrever a primeira obra da
trilogia, "A Rua da Estrada", onde por vezes se afastava das áreas
intensamente urbanizadas para entrar no campo, começou a aperceber-se
da metamorfose da paisagem agrícola.

"A metamorfose de território é impressionante e a dicotomia entre
campo e cidade não existe. As ideias de perda da cidade e do campo
extremaram dois imaginários: a boa cidade enquanto centro histórico e
o campo enquanto aldeia típica. E estas duas coisas podem dar dois
belos postais turísticos, mas não são a realidade, são fição", conclui
o geógrafo e professor na Faculdade de Arquitetura da Universidade do
Porto.

Na "Vida no Campo", um livro com 360 páginas com texto e fotografias,
Álvaro Domingues desconstrói a ideia de uma ruralidade portuguesa
mítica, asseverando que viver da agricultura tem pouco de romântico e
muito de austeridade.

A ficção da ruralidade em Portugal persiste através do "turismo rural"
ou através da "criação de resorts", defende o investigador, recordando
que apesar dos sinais da ruralidade estarem patentes na paisagem
através de espigueiros, casas abandonadas ou sucalcos, todas essas
evidências "parecem destroços como quando a maré vaza e ficam os
destroços".

"A persistência da ideia da ruralidade portuguesa é uma mitologia
potente, mas é fácil desconstruir o mito, porque a produção agrícola
em Portugal não chega a três por cento do Produto Interno Bruto",
observa o investigador do Centro de Estudos de Arquitetura e
Urbanismo, que ambiciona lançar ainda no final de 2012 ou início de
2013 a terceira obra "Volta a Portugal".

"Vai ter cinco capítulos e dois deles já estão prontos", desvendou o
autor, revelando que um dos capítulos se vai chamar "A Arte do Campo"
e que a prosa "percorre caminhos e encruzilhadas em busca de um
Portugal entalado entre a crise, a Europa e a globalização".

A terceira obra de Álvaro Domingues surgiu quando estava a escrever
"Vida no Campo" que é, segundo o próprio, "uma metáfora sobre a perda
do Portugal rural e um antídoto contra o mau viver pelo despovoamento
e abandono".

Álvaro Campos nasceu em Melgaço, em 1959 e além das suas funções
docentes na Universidade do Porto e noutras universidades, publica com
regularidade sobre temáticas relacionadas com a geografia urbana, o
urbanismo e a paisagem, destacando-se "Políticas Urbanas I e Políticas
Urbanas II" (2003 e 2011), e "Cidade e Democracia (2006).

Diário Digital com Lusa

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=555895

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