quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Seca está a destruir pastagens e ameaça aumentar importação de cereais

01.02.2012
Helena Geraldes
A seca que afecta todo o país está a destruir as pastagens para o gado
e ameaça o desenvolvimento dos cereais de Inverno, como o trigo. Se a
falta de chuva continuar, a CAP alerta que Portugal poderá ter de
aumentar as importações.
Os agricultores já sentem alguns dos efeitos da seca meteorológica que
afecta Portugal continental. Segundo o Instituto de Meteorologia, 76%
do território está em seca moderada, 13% em seca fraca e 11% em seca
severa. As previsões do Instituto de Meteorologia para o mês que
começa agora dizem que "será mais provável que aumente a severidade da
situação de seca" no continente.

João Machado, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal
(CAP) disse ao PÚBLICO que as maiores preocupações são a falta de
pastagens para o gado e os impactos no desenvolvimento dos cereais de
Inverno, como o trigo. As zonas mais afectadas são o Alentejo, partes
do Ribatejo, Beira Interior e Trás-os-Montes.
No Alentejo, na região de Moura, "os agricultores perguntam sempre
quando é que vai chover", conta João Infante, técnico da Associação de
Jovens Agricultores de Moura. A maior preocupação é com os animais.
"Há quem já esteja a alimentar o gado, especialmente bovino e ovino,
com palha e rações desde Setembro, porque já não têm pastagens. E isso
é mais caro".
Nos cereais, depende das culturas. "Os cereais começam agora a
desenvolver-se, têm de crescer e precisam de água e nutrientes. Se não
chover dentro de mês e meio, o crescimento dos cereais poderá ficar em
causa", acrescentou. Para João Machado, da CAP, este é um problema
grave. "Perder os cereais de Inverno será uma perda para os
agricultores e para o país. Num ano normal Portugal importa 70% do
consumo interno de cereais. Com seca, essa percentagem pode subir de
forma preocupante".
Ministério acompanha a situação "com preocupação"
Mas perante a fotografia da seca em Portugal, João Machado é
cauteloso. "A seca só será uma questão muito relevante se não chover
em Fevereiro" – cenário que é, aliás, pervisível, segundo o Instituto
de Meteorologia. O presidente da CAP lembrou que os volumes de água
armazenados nas albufeiras estão dentro da média. Segundo o Instituto
da Água (Inag), "das 56 albufeiras monitorizadas, 17 têm
disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e quatro
têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total".
Segundo João Infante, em Moura os agricultores têm ainda as suas
charcas e albufeiras com água. "É preciso não esquecer que as pessoas
se habituaram a dois anos atípicos, 2010 e 2011. Nesses anos choveu o
que já não chovia há 30 anos: 600 milímetros/ano, em comparação com a
média de 300 mm/ano dos últimos 20 anos. Agora estaremos em cerca de
150 e 180 mm. Até Abril ainda podem chover os 100 mm necessários para
a média". É esperar para ver.
O Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do
Território (MAMAOT) disse hoje ao PÚBLICO que está a "acompanhar a
situação com preocupação. Mas só o desenvolvimento das condições
meteorológicas, nas próximas semanas, determinará a gravidade dos
efeitos para a agricultura". De momento, acrescenta o gabinete da
ministra Assunção Cristas, não receberam ainda pedidos de ajuda de
agricultores.
Daqui para a frente, a agricultura vai ter ainda mais necessidade de
água. "As culturas de Primavera/Verão vão precisar de muita água. Será
preciso regar áreas imensas", lembrou João Machado, da CAP. Por
enquanto, disse, "é prematuro falar em medidas preventivas".
http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1531779

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