quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Seca: Laranjas do Algarve estão a ficar mais pequenas e produtores desesperam

A falta de chuva no Algarve está a produzir laranjas mais pequenas,
que são rejeitadas pelo mercado, o que está a provocar acentuada baixa
nos rendimentos dos agricultores e pode levar a falências, alertou
hoje um responsável do setor.

"O facto de não chover tem efeitos nos calibres das laranjas, que não
estão a crescer tanto como em outros anos, porque a irrigação que tem
por base as águas subterrâneas não produz frutos tão grandes", disse à
Lusa Horácio Ferreira, diretor-geral da Cooperativa Agrícola de
Citricultores do Algarve (CACIAL).

O problema, afirma, não é a fraca produção de laranja e outros
citrinos, pois este ano a quantidade de fruta é maior do que em anos
recentes, mas sim a menor percentagem de frutos de tamanho superior ao
exigido pelos mercados de consumo, sobretudo as grandes superfícies,
que requerem diâmetros superiores a 73 milímetros.
"A água da chuva produz frutos maiores, embora de qualidade idêntica,
porque a água de cima [chuva] tem microelementos diferentes e por
outro lado a chuva molha a árvore, cai no chão e aduba o terreno",
explicou.
Sem chuva, os agricultores estão a recorrer a águas de furo, através
do sistema de rega gota a gota, o que faz incorporar menos água nos
frutos.
As grandes superfícies e a chamada grande distribuição rejeita todos
os frutos de tamanho reduzido, que têm que ser vendidos a preço mais
baixo para mercados de fruta menos exigentes ou, na esmagadora maioria
dos casos, para a indústria de sumos, a preço bem mais baixo.
"Temos barriga de ricos e carteira de pobres", resume Horácio
Ferreira, reforçando que o tamanho do fruto não se reflete na
qualidade do seu interior, nomeadamente na quantidade e doçura do seu
sumo.
O dirigente cooperativo exemplifica que a laranja com calibre para a
grande distribuição pode ser vendida entre 12 a 18 cêntimos/quilo ao
retalhista, enquanto a laranja pequena sai a 10 cêntimos/quilo para a
indústria.
"Quer seja laranja grande ou pequena, o custo da apanha para o
agricultor ronda sempre os 5 cêntimos e depois, descontados outros
fatores de produção, ele tem que subsistir com o que resta, o que dá
um terço ou um quarto do preço a que ele vendeu o quilo", disse,
avisando que, a manter-se a situação, muitos poderão entrar em
falência dentro em breve.
Horácio Ferreira lamenta que o mercado não se mostre acolhedor para a
"excelente qualidade" da laranja de baixo calibre, pois este ano a
produção é superior ao ano passado – curiosamente porque não há chuva
-, o que, com um custo por quilo mais alto, poderia ser positivo para
os agricultores.
"Imaginemos uma árvore que produz 100 quilos de laranja. Este ano, 40
quilos vão para o mercado e 60 para a indústria. Mas no ano passado,
mesmo depois de se desperdiçarem 20 quilos que caíram devido à chuva,
dos restantes 80 quilos só 20 foram para a indústria, porque 60 foram
aproveitáveis pelo grande retalho", explicou.
A acrescer às dificuldades de preço e penetração no mercado, os
agricultores queixam-se que a falta de chuva está a fazer subir a
fatura da eletricidade, uma vez que a extração de água do subsolo é
feita, na maioria das vezes, com recurso a motores elétricos.
"Com o fim da eletricidade verde e o aumento do IVA na eletricidade a
situação ainda fica bem pior", sustentou.
A acrescer aos custos com a eletricidade, a falta de chuva está a
fazer subir também os custos com a água quando a rega se baseia em
água das barragens.
De acordo com o presidente da Associação de Regantes do Sotavento
Algarvio, João Sabbo, a taxa paga pelos agricultores à associação é de
0,0462 euros por metro cúbico de água utilizada.
"Já estamos há mais de um mês sem chuva e a necessidade de rega é
maior", disse, recordando que normalmente os períodos de seca são
bianuais, como aconteceu nos anos de 2004 e 2005, e o mesmo pode
acontecer em 2012/2013.
Recordou que a chuva em excesso também é prejudicial para a produção
de citrinos, que exige muitos dias de sol, e que a distribuição da
pluviosidade ao longo do ano é fundamental para uma agricultura de
qualidade.
O Algarve produz entre 300 e 400 mil toneladas de citrinos por ano, em
produções distribuídas por 18 mil hectares.
@Lusa
http://noticias.sapo.pt/infolocal/artigo/1218445

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