quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

2050: Como alimentar uma população mundial de 9 mil milhões?

HOJE às 14:27
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O mundo será habitado em 2050 por cerca de 9 mil milhões de pessoas,
que dependerão de um aumento entre 60 e 90% na produção de alimentos,
com o correspondente impacto no ambiente, ou da racionalização da sua
produção e consumo.
Este foi o centro do debate organizado hoje em Genebra pela revista
The Economist, com a participação de políticos, empresários e
especialistas, para apresentar propostas e soluções perante a
perspectiva de ter que alimentar 9 mil milhões de pessoas dentro de 40
anos.

A potencialização dos pequenos produtores, especialmente nos países
pobres e em desenvolvimento, a melhoria da cadeia de distribuição de
alimentos e a luta contra o enorme desperdício de comida foram os
assuntos discutidos durante o seminário.
Três quartos dos 925 milhões de pessoas que passam fome no mundo vivem
em áreas rurais de países pobres e em desenvolvimento, disse o
diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO), José Graziano da Silva, na abertura da jornada,
defendendo a melhoria da sua capacidade de produção e acesso aos
alimentos para reverter a situação.
Graziano lembrou que atualmente a comida à disposição de cada pessoa é
40% superior ao registado em 1945, apesar de a população ter aumentado
desde então em 4,5 mil milhões de pessoas, algo que não se traduziu
numa divisão equitativa.
«A evidência do nosso fracasso coletivo é que quase mil milhões de
pessoas estão subnutridas e que mais de mil milhões de pessoas sofrem
de excesso de peso ou obesidade», destacou.
De acordo com Graziano, o acesso aos alimentos no âmbito local tem
dificuldades para ser melhorado. «Corremos o risco de ter um mundo em
2050 com suficiente comida para todos, mas ainda com milhões de
pessoas desnutridas. Muito parecido com o de hoje», disse.
«Inclusivamente, se ampliarmos a nossa produção agrícola em 60% (nos
próximos 40 anos), a porcentagem de desnutrição nos países em
desenvolvimento rondará os 4% em 2050, ou seja, haverá 300 milhões de
pessoas alimentadas de forma insuficiente», explicou.
O diretor-geral da FAO chamou a atenção também sobre o desperdício de
comida, já que atualmente são desperdiçados ou esbanjados um terço dos
alimentos produzidos, cerca de 1,3 mil milhões de toneladas por ano,
principalmente no mundo desenvolvido.
«Se reduzíssemos o esbanjamento e a perda de alimentos em torno de
25%, teríamos comida adicional para 500 milhões de pessoas ao ano sem
ter que produzir mais», explicou.
Paul Bulcke, executivo-chefe do gigante alimentício Nestlé, advertiu
que além de levar em conta que dentro de 40 anos a população terá
aumentado em 2,3 bilhões de pessoas, «estaremos num mundo mais rico,
que vai comer de forma diferente».
Na sua opinião, neste contexto a produção de alimentos terá que ser
incrementada entre 70 e 80%, e inclusivamente poderia ter que chegar a
90%, tendo em conta que «nos últimos anos o crescimento do rendimento
de produção por hectare foi muito mais lento que o crescimento
populacional».
Bulcke, que dirige uma multinacional que emprega direta e
indiretamente 25 milhões de pessoas no negócio da alimentação,
destacou também a importância sociopolítica do setor, com uma
crescente volatilidade dos preços que gerou em datas recentes
rebeliões civis e quedas de Governos.
Criticou o protecionismo na produção agrícola, fazendo referência aos
«milhões de dólares investidos pelos países ricos para proteger os
seus produtores, provocando uma grave distorção do mercado
internacional».
Bulcke alertou também sobre o impacto dos biocombustíveis no aumento
dos preços e sobre um risco associado, o da falta de água, para
atender às necessidades futuras: «vamos ficar sem água muito mais
rapidamente que sem petróleo».
O diretor-geral da Organização Mundial o Comércio (OMC), Pascal Lamy,
falou sobre a distorção apresentada pelo mercado, com uma excessiva
concentração da produção, com alguns países a produzir mais de 75% de
produtos como o arroz e a soja.
Lamy apontou a África «como a peça que falta no quebra-cabeças
alimentar mundial» e como a solução potencial para as necessidades de
comida no mundo nas próximas décadas, já que se trata do continente
com maior quantidade de terra arável e com menor produção.
Apontou como exemplo o Brasil: «o milagre brasileiro poderia ser
reproduzido. Em menos de 30 anos, este país deixou de importar
alimentos para ser um dos maiores celeiros do mundo. Nesse mesmo
período, a África passou de um exportador a um importado», disse
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=557555

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