quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Sessões sobre Fogo Bacteriano prosseguem no Cadaval

Prevenir a nova ameaça dos pomares

Está a decorrer, até meados de Março, no concelho do Cadaval, um ciclo
de sessões de esclarecimento sobre Fogo Bacteriano - a nova ameaça dos
pomares portugueses. Ainda sem registos locais da doença, a iniciativa
visa, no entanto, alertar a população para a sua necessidade de
controlo, em prol da fruticultura e da economia da região.

Aristides Sécio, presidente da Câmara Municipal do Cadaval,
manifestou, durante a primeira sessão - decorrida nas instalações da
Associação de Produtores Agrícolas da Sobrena - que o município está
preocupado com o problema, tendo em conta que "a fruticultura é o
motor económico do concelho". Daí que a autarquia tenha entendido
envolver-se, "desde a primeira hora, em conjunto com os técnicos, na
dinamização destas acções de esclarecimento, de forma a alertar toda a
população", referiu o autarca. "Denunciar que se tem um problema
destes na própria exploração é importante para todos", defende o edil,
"e o mais rapidamente possível, para que aquele não atinja as
proporções que teve noutros países".

Trabalhar em conjunto, em prol do sector
Esta iniciativa tem por base o plano estratégico regional para
controlo do Fogo Bacteriano (FB). Segundo Delia Fialho, para que a
fruticultura continue, é necessário trabalhar em conjunto -
organizações, técnicos, produtores, autarquias e população em geral,
sustentando tratar-se de "um problema que já está na região, sendo por
isso uma questão de tempo até ele chegar ao Cadaval."
De acordo com a engenheira, estas sessões "servem para esclarecer as
pessoas e para as sensibilizar a passar a palavra, porque não queremos
que isto se torne uma epidemia nem que afecte a economia do concelho".
Para o FB não há produtos eficazes, em termos de tratamento. "Ele mata
ramos, mata árvores e mata o pomar", explica a técnica, acrescentando:
"é a fileira das peras e das maçãs e, enfim, a economia da região que
está em causa, caso a doença se espalhe em grandes proporções."
Em termos de impacto económico, a produção de pêra Rocha no concelho
representa 30% da produção nacional. Em termos de impacto social,
estima-se que no concelho esta actividade ofereça mais de 3.300
empregos permanentes. Durante os 15 a 20 dias de colheita, este sector
disponibiliza mais de 6 mil empregos sazonais diários, injectando,
nesse período, acima dos 3 milhões de euros por ano.
Formas de transmissão e sintomas
O FB trata-se de uma doença provocada por uma bactéria patogénica
denominada "Erwinia Amylovora", que ataca exclusivamente plantas,
nomeadamente o grupo das "Rosáceas". Por ser um organismo tão pequeno,
só se identifica posteriormente, através dos sintomas.
A julgar pela forma de transmissão, trata-se, segundo Delia Fialho, de
uma doença muito grave. "Pode dizer-se que é a pior doença das
pereiras", salienta. Pode ainda atacar macieiras, marmeleiros,
nespereiras e algumas espécies ornamentais. A doença pode, por
exemplo, ser transmitida através de uma nespereira ou de uma planta
ornamental, como as piricantas, e dessas para outro pomar. Daí que se
torne necessário o arranque de determinadas plantas ornamentais que
possa haver em pomares ou em jardins, por constituírem um foco da
doença. De igual modo, tudo o que apareça no pomar, é necessário
eliminar rapidamente, para evitar a contínua reprodução da bactéria.
A especialista esclarece que os frutos de árvores atacadas são
completamente sãos, embora dessas árvores normalmente não sobre fruta.
"Mas mesmo que a bactéria esteja presente não nos faz mal, o mal que
pode fazer é dar cabo dos nossos pomares e da economia da região",
sustenta a engenheira.
Quando entra na planta - mediante aberturas ou feridas - a bactéria
não causa sintomas de imediato. "Só perante boas temperaturas e
humidade é que ela começa a multiplicar-se dentro das plantas. O drama
é que o principal sítio por onde entra é pela flor, e nós não podemos
matar a flor, senão não teremos peras", explica a técnica.
Ao entrar na flor, a bactéria começa a reproduzir-se dentro da planta
e vai descendo. "Se nós deixarmos, ela vai até à raiz, matando tudo.
Os frutos ficam "mumificados" (secos e agarrados à árvore); os ramos
ficam secos e encurvados, enquanto as folhas ficam secas e igualmente
agarradas ao ramo", explica.
Quando chega à folha, o mais comum é o "seco" começar na nervura da
folha e ir-se alastrando. Outro dos sintomas é a exsudação - gotículas
presentes nos frutos e ramos, geradas pela reprodução das bactérias.
"Estas gotas têm milhões de bactérias, e é a partir delas que se dá a
dispersão no pomar, e desse para os outros", revela Délia Fialho. O
aparecimento de zonas alaranjadas abaixo da epiderme (casca da árvore)
é outro dos sintomas da presença da bactéria.
A dispersão da bactéria, sendo muito fácil, pode dar-se através da
chuva, do vento, dos insectos, das aves, da circulação de pessoas e de
máquinas agrícolas ou ainda através do material vegetativo, para
plantação de pomares, que esteja contaminado.
Quanto ao ciclo anual da bactéria, ela entra em actividade na
primavera, ficando adormecida no inverno e até à primavera seguinte,
daí que só a partir da floração, com o cair da pétala, possam
verificar-se os primeiros sintomas.
A floração tardia, que surge com temperaturas mais elevadas, é outro
factor de risco, o que leva à necessidade de ir eliminando essas
flores à medida que surgem, por constituírem "uma porta de entrada da
bactéria".
A prevenção assume uma importância ainda maior, se considerarmos que a
região Oeste possui as condições óptimas para o desenvolvimento da
bactéria, em termos de temperatura e de humidade.
Bactéria identificada há mais de 200 anos nos EUA
A bactéria foi identificada, pela primeira vez, nos Estados Unidos da
América, em 1780. Na Europa, terá surgido na Inglaterra, em 1957,
tendo-se espalhado depois por todo o continente. Portugal terá sido
mesmo dos últimos países onde a doença entrou. Países como a Itália, a
Alemanha, a Bélgica ou a Holanda continuam a ter fruticultura, não
obstante há muitos anos conviverem com a bactéria. Por contraposição,
a nível internacional fica ainda o exemplo de Marrocos, que em apenas
dois anos perdeu 60 por cento dos pomares.
Em Portugal, a doença terá sido detectada, pela primeira vez, em 2006,
na zona de Castelo Branco, enquanto que em Alcobaça os primeiros
sintomas terão aparecido em 2010, ano a partir do qual o FB terá
tomado maiores proporções.
Boas práticas para o controlo da doença
Segundo Delia Fialho, o caminho passa por desenvolver um trabalho
conjunto de difusão das boas práticas, existindo já legislação
específica sobre Fogo Bacteriano. Como defende a técnica, "é preciso
cumprir todas as regras para manter a quantidade de bactéria baixa.
Ainda que possa haver anos em que ela não se manifeste, não podemos
esquecer que ela vai lá estar sempre, desde que entrou na região.
Temos de nos consciencializar disso e é preciso aprendermos a viver
com ela, para podermos continuar com a fruticultura."
De entre as boas práticas, a equipa técnica preconiza a realização de
fertilizações equilibradas, a atenção redobrada na aquisição de
plantas e a monitorização exaustiva dos pomares. A prática de limpeza
dos sintomas deve ser correcta e cautelosa, sob pena de ter o efeito
contrário. Por exemplo, o corte do ramo infectado deve ser feito meio
metro abaixo do sintoma. "A bactéria desce com muita rapidez e
intensidade na árvore. Se os sintomas estiverem no tronco, já não há
corte a fazer, temos de arrancar a árvore e temos de a queimar
completamente ou enterrar", realça a engenheira. Também a poda deverá
ser feita primeiro nos pomares/zonas limpas e só depois nas zonas
infectadas.
Na rotina dos produtores terá também de entrar o corte da floração
secundária, a limpeza das alfaias e a desinfecção do material de corte
dos sintomas. "Há vários produtos, mas temos recomendado o amónio
quaternário, por ser um dos menos corrosivos para as lâminas", nota
Delia Fialho.
Quanto a tratamentos, não existe nenhum produto de boa eficácia, no
mercado, nem "soluções milagrosas", sendo a utilização do cobre (e
outros indutores de resistência), uma das opções apresentadas para
controlo da doença.
O grupo de técnicos revelou que irá continuar a emitir recomendações
sobre o que aplicar e em que alturas, ficando disponíveis para
esclarecer todas as pessoas interessadas.
Sessões prosseguem até meados de Março
A Câmara Municipal do Cadaval está a divulgar, antecipadamente, cada
uma das sessões, a realizar pelas dez freguesias do concelho, até
meados de Março.
Já acolheram a iniciativa as freguesias de Peral, Painho e Pero Moniz,
seguindo-se a do Cadaval dia 15 de Fevereiro (quarta-feira), pelas
20h, na sede do Adão Lobo Sporting Clube (Adão Lobo, Cadaval).
Este ciclo sobre Fogo Bacteriano constitui uma parceria da Câmara
Municipal do Cadaval com APAS, ANP - Associação Nacional de Produtores
de Pêra Rocha e organizações de produtores locais.
Fonte: CMCadaval
http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2012/02/09a.htm

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