por Diana Garrido, Publicado em 06 de Junho de 2011 | Actualizado há 12 horas
A papa mais famosa do país é portuguesa e foi desenvolvida por Egas
Moniz. Desde 1936 que é fabricada com cereais e leite portugueses. Se
nunca conseguiu ser um bebé Nestlé, aproveite, a marca desenvolveu uma
aplicação que lhe permite transformar-se num
Fotografia
Se empilharmos o número de embalagens de Cerelac vendidas por ano em
Portugal, a brincadeira atinge 1190 quilómetros, o equivalente à costa
continental portuguesa.
Quem o garante é Fernando Carvalho, director de marketing da Nestlé,
que diz também que se espalmássemos essas embalagens, daria para
cobrir quase duas vezes o território português. É muita papa. No
preciso momento em que lê estas páginas, bebés rechonchudos e de belos
olhos azuis (a julgar pelos anúncios) estão a regalar-se com colheres
de Cerelac. Quem diz bebés, diz homens e mulheres feitas. Confesse: um
prato de Cerelac ainda o deixa de olhos a brilhar.
No Facebook existe, até, uma página criada para quem gosta de Cerelac
e não tem vergonha disso: "I''m old enough... and I still love
Cerelac!" Qualquer coisa como "Já sou crescido mas continuo a adorar
Cerelac", com comentários e testemunhos de adultos de todo o mundo a
elogiarem aquela que tem como lema ser a "primeira do bebé".
Ora a Cerelac faz uns respeitáveis 75 anos. É uma papa avó, que
começou como Farinha Láctea Nestlé, inventada por Henri Nestlé na
Suíça, e adaptada ao paladar português pelo neurologista Egas Moniz,
Nobel português em 1949.
Era uma vez
Bom, comecemos do início, em jeito de aula de história: No século XIX
a mortalidade infantil era muito elevada e Henri Nestlé decidiu criar
um alimento que resolvesse o problema. Nascia assim a Farinha Láctea
Nestlé que se espalhou rapidamente por vários países da Europa.
Em Portugal, e face ao mesmo problema de mortalidade infantil, o
professor e neurologista Egas Moniz criou, em 1923, a primeira fábrica
de leite em pó, em Avanca (Estarreja). Em 1933, Egas Moniz consegue o
exclusivo de fabricação e venda dos produtos Nestlé e começa a
fabricar a tal farinha láctea, que em 1936 sofre algumas alterações e
adaptações ao paladar nacional. Em 1954, passa a chamar-se Cérélac
(assim mesmo, com dois acentos), mantendo a mesma receita e sabor.
Apesar de pertencer à Nestlé, a Cerelac (que entretanto perdeu os
acentos para se posicionar melhor no mercado internacional) é uma
marca nacional feita com cereais e leite nacionais (o leite vem dos
Açores). Por esta é que não esperava, pois não?
E a verdade é que, quando a marca diz ser "a primeira papa dos
portugueses", não está errada: segundo a empresa de estudos de mercado
Nielsen, a Cerelac detém 62% do mercado de papas. Milhões de
portugueses cresceram e tornaram-se roliços graças a esta papa.
Voltando a Fernando Carvalho "a cada minuto são consumidos 7 quilos de
Cerelac".
Inovações Oito cereais e mel, banana, laranja, com e sem glúten e
bolacha maria. Multifrutos, pêra e maçã. Um universo de papas que
abrange todos os paladares e um perigoso mundo os adultos em geral e
para os pais em particular que a cada três colheres roubam uma para
"dar o exemplo" aos rebentos.
Longe vão os tempos dos anúncios televisivos com mães de camisa de
noite em plena sessão de aleitamento explícito, com uma locução
masculina a explicar que nos primeiros quatro meses de vida o bebé
deve alimentado com o leite materno e só depois com a Cerelac.
A televisão evoluiu, os bebés tornaram-se mais bonitos (e
inexplicavelmente louros de olhos azuis) e os anúncios menos
cinzentos. Em 1992, entra em acção a versão "Papa a papa" do "Frére
Jacques" e nunca mais parou.
O mais recente spot televisivo conta com a chefe Mafalda Pinto Leite,
a nova imagem da campanha da Nestlé Portugal.
bebé nestlé
Sempre quis ser um mas os seus pais nunca concorreram? Morria de
inveja da vizinha do lado que apareceu na revista em 1987 como a bebé
mais bonita da vizinhança? Chegou o seu momento. Digitalize a sua
fotografia de infância preferida e faça o upload da mesma no site ou
no Facebook. A propósito da campanha dos 75 anos da Cerelac, a Nestlé
disponibiliza uma aplicação que permite transformar qualquer criança
num bebé Nestlé orgulhosamente colocado num mupi virtual. E nem
precisa de (ter sido) ser o mais bonito do bairro.
Inquérito
Nas conversas que envolvem a Cerelac, carregadas de confissões adultas
de amor à papa, há sempre uma discussão que surge e que dá aso a
verdadeiros debates e lutas pela razão. A Cerelac deve ser feita com
água ou com leite?
"Com água, senão fica enjoativo", gritam uns. "Com água não sabe a
nada, com leite é que é", gritam outros. Ora depois de um inquérito
rigorosíssimo nessa plataforma multifuncional que é o Facebook,
chegámos à conclusão que a maioria de todas as dez pessoas
interrogadas preferem com leite. Ou porque era assim que a mãe ou a
avó faziam, ou porque com água é fraquinho, ou porque na verdade são
uns verdadeiros gulosos. A Cerelac já tem leite, não precisa de mais.
As ancas e a barriga agradecem.
Crítica: Viagem ao mundo das farinhas
nestum
(três estrelas)
O de mel era o mais popular entre a miudagem. Não por opção, se
pudessem escolher certamente elegeriam o de chocolate. Havia quem
também gostasse do de figo. Os mais radicais faziam com leite frio
para poderem trincar os flocos feitos de trigo que formavam pequenos
grumos estaladiços. Ficava sempre com aspecto de vomitado.
pensal
(quatro estrelas)
A farinha com cacau. O chocolate da Farinha Pensal sabe mesmo a
chocolate. Os flocos são mais pequenos do que os do Nestum, mas não
chegam a ser farinha como a Cerelac. O mundo da criançada dividia-se
entre os que comiam Nestum, o popular, e Pensal, a desconhecida.
maizena
(cinco estrelas)
Criada em 1856 nos EUA, a Maizena serve para variadíssimas coisas
entre as quais engrossar molhos. Quem teve avós à moda antiga, poderá
ter tido a sorte de conhecer outra faceta desta farinha: uma maravilha
cremosa e doce, com um pau de canela e uma gema de ovo.
miluvit
(três estrelas)
Tinha como mascote o Vitinho e isso era meio caminho andado para ter
sucesso. Tinha os flocos ainda mais pequenos do que a Pensal, mas não
chegava a ser farinha. A de a maçã era ligeiramente ácida e doce ao
mesmo tempo. O de arroz era bom para problemas infantis intestinais.
http://www.ionline.pt/conteudo/128420-cerelac-avo-das-papas-faz-75-anos
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