sábado, 11 de junho de 2011

Valorizar a Agricultura? Valorizar os Produtos Agrícolas

OPINIÃO

Carlos Neves

Preocupado com o futuro da agricultura portuguesa, o Presidente da
República reuniu-se com 30 jovens agricultores em Maio passado, voltou
ao assunto no discurso de 10 de Junho e no mesmo dia publicou um
artigo de opinião no Expresso sobre esse tema. Nesse artigo, o
Presidente da República reconhece o consenso entre os vários programas
eleitorais sobre o apoio aos jovens agricultores mas aponta o
envelhecimento do sector que se agravou entre 1999 e 2009. " Portugal
é o país agricolamente mais envelhecido da União Europeia (…) tem a
percentagem mais baixa de jovens agricultores (…) e a mais elevada de
agricultores acima dos 65 anos."

Entre as várias causas que podem explicar esta situação (o carácter
depressivo que há anos acompanha o sector agrícola português, as
dificuldades naturais da profissão, o apego à terra dos mais idosos, a
má imagem pública desta profissão, dificuldades de acesso à terra e ao
financiamento, burocracia, falta de apoio técnico, etc) , o Presidente
refere expressamente o "afastamento acentuado dos rendimentos
agrícolas relativamente ao rendimento de actividades não agrícolas".
Resta esperar e trabalhar para que os futuros governantes, os agentes
económicos e a sociedade respondam ao desafio presidencial. Boas
intenções e palavras positivas de todos os quadrantes já temos, apoios
à instalação também. Sempre os tivemos, excepto durante 3 anos do
mandato do Ministro Jaime Silva, com o esgotamento do anterior
programa AGRO sem que o actual PRODER estivesse disponível. Demoram
tempo, exigem demasiada burocracia, mas existem. O que falta?
Valorizar a produção. Se a agricultura for suficientemente rentável
para compensar as "dificuldades naturais da profissão",
ultrapassaremos também o "carácter depressivo", obteremos
financiamento e encontraremos reconhecimento social e apoio técnico. O
que não vale a pena é iludir os jovens com meia dúzia de euros no
apoio à instalação para depois perderem dinheiro na sua actividade,
como acontece actualmente com os produtores de leite de todas as
idades. São poucos os jovens que se instalam no sector leiteiro e
muitos os que pensam desistir.
Também não vale a pena tentar "tapar o sol com a peneira", como tentam
fazer as grandes superfícies comerciais com "declarações" de apoio à
produção agrícola nacional. Os números provam que são os maiores
importadores e as notícias que nos chegam das suas compras em Portugal
referem uma pressão constante para baixarem o preço de compra dos
produtos agrícolas. Assim, pode subir o gasóleo, os adubos ou as
rações e o produtor que aguente, porque o leite não pode subir ao
consumidor e o lucro das cadeias de distribuição não pode baixar.
Sem um preço justo pelos produtos agrícolas, a produção não é viável;
Se os hipermercados continuarem a investir mais na publicidade sobre o
seu apoio à produção nacional do que no pagamento efectivo dos
produtos em prazo razoável e a preço justo, se a margem ficar muito
mais no comércio e na transformação que na produção, não vale a pena
apelar ao investimento na agricultura. Trabalhemos para valorizar os
produtos agrícolas portugueses e a agricultura portuguesa será viável,
com os actuais e os futuros agricultores.
Carlos Neves
Presidente da APROLEP E AJADP
http://www.agroportal.pt/a/2011/cneves2.htm

Sem comentários:

Enviar um comentário