segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O tigre tem pés de barro?

OPINIÃO

Paulo P. Castro

O Sector Florestal Português é ainda hoje o 3.º maior exportador da
Economia Nacional, destacando-se em relação aos demais em termos do
Valor Acrescentado Nacional, onde atinge o 1.º lugar, ou seja, é o que
incorpora maior valor nacional por unidade exportada (90 cêntimos por
cada Euro exportado). O sector é actualmente responsável por 1,65% do
Produto Interno Bruto, por 1,8% da população empregada em Portugal,
coloca três empresas no TOP 100 Mundial e produz um Valor Acrescentado
Bruto por hectare de floresta de 310 Euros/hectare, o valor mais alto
dos 27 Países da União Europeia. Contudo, apesar do considerável peso
do sector na Economia Nacional e do seu ajuste perfeito para resposta
às actuais necessidades do País, designadamente no que respeita à
criação de riqueza, de emprego e aumento das exportações, o mesmo
encontra-se hoje numa encruzilhada.

A falta de estratégia e o "consenso" (desinteresse) a que tem sido
votado pelos Poderes Públicos, leva a que hoje a entidade máxima da
Administração Central na área florestal estime que em 15 anos não
exista matéria prima suficiente para a viabilidade de muitas empresas,
não só de pequeno porte, já hoje com problemas gravíssimos de
subsistência, mas também da indústria transformadora pesada. A
acontecer este cenário, não só fica atestada a incompetência nacional
de em tempo precaver a situação, como se fomentará a pobreza,
sobretudo em regiões já hoje desfavorecidas, onde o êxodo rural é cada
vez mais acentuado. Importa ter presente que, qualquer intervenção
política em espaços florestais só produzirá efeitos a médio e longo
prazo, mais do que um ciclo legislativo. As árvores levam décadas a
crescer, logo a disponibilizar bens, seja madeira, cortiça ou frutos,
e serviços, paisagem e espaços de lazer.
Ao longo de décadas foram diagnosticados os problemas da Floresta
Portuguesa e definidas estratégias de actuação, contudo, muitas delas
não passaram até hoje de processos de intenção. A coexistência do
sub-aproveitamento do potencial florestal e da sobre-exploração das
matérias primas florestais tem-se vindo a agravar há décadas. Urge
assim actualizar posições e garantir, de forma consequente e firme,
que as necessárias medidas de fomento do investimento em Floresta se
tornem realidade, sejam ao nível do cadastro rústico, quem é dono do
quê, da fiscalidade adaptada, do controlo e seguro para os riscos,
seja ao nível do seu financiamento, com destaque para a necessária
garantia de eficiência e de eficácia na utilização dos fundos
públicos, ou seja dos impostos de todos nós. Reforça-se que, qualquer
intervenção política na Floresta só produz efeito no prazo de uma, no
caso da floresta de eucalipto, a várias décadas, nas demais espécies.
A Floresta tem hoje disponíveis, para além dos actuais 3,4 milhões de
hectares que ocupa, embora de forma deficiente na sua maioria, mais
cerca de 2 milhões hoje abandonados ou semi-abandonados. O País não
está em condições de desperdiçar, ou melhor, de desproteger uma tão
vasta área do seu território, hoje votada a incêndios cíclicos, com a
libertação de milhões de toneladas de carbono para a atmosfera.

Face à evidente necessidade de garantir a sustentabilidade dos
recursos naturais associados à Floresta Portuguesa e de ajustar a
oferta à procura de bens e serviços, melhorando a posição que a
Fileira Florestal ocupa na Economia Nacional, um grupo de cidadãos,
com e sem ligação profissional à Floresta, constituíram a Acréscimo -
Associação de Promoção ao Investimento Florestal, para, de forma
organizada, poderem dar o seu contributo. A associação pretende vir a
actuar essencialmente junto dos Decisores Políticos Nacionais e
Europeus, sempre em estreita colaboração com as demais organizações e
empresas do sector silvo-industrial. Na sua actuação, a Acréscimo terá
em vista a necessidade da Floresta Portuguesa em responder, de forma
sustentável, a uma procura mundial de bens e serviços de base
florestal que tende a aumentar, a mercados cada vez mais exigentes,
mantendo-se como suporte essencial ao Desenvolvimento Rural e da
Economia Nacional, com forte impacto nas exportações, grande parte em
bens de valor tecnológico superior.
Paulo Pimenta de Castro
Presidente da Direcção
Acréscimo - Associação de Promoção ao Investimento Florestal
www.facebook.com/acrescimo
info@acrescimo.pt
http://www.agroportal.pt/a/2011/pcastro2.htm

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