quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Vindimas: Ano de menos uva mas com mais qualidade

Quarta-Feira, 31 Agosto de 2011
Para a maioria dos portugueses a época das vindimas, é associada ao
mês de Setembro. Porém há uns anos a esta parte e desde que o Alentejo
despertou para o cultivo da vinha, é lá que se iniciam as vindimas e
no mês de Agosto. Este ano, as vindimas iniciaram-se duas semanas mais
cedo que o previsto...

A época das vindimas no Alentejo começou duas semanas mais cedo que o
previsto, já que as condições climatéricas na Primavera proporcionaram
um desenvolvimento da rebentação, floração e maturação do fruto. A
vinha como todo o sector agrícola está dependente do factor – tempo e,
de verdade o tempo não ajudou os viticultores. A produção de vinho no
Alentejo deve sofrer este ano uma diminuição devido à instabilidade
climática, que permitiu o desenvolvimento de míldio. O resto do país
não foge à regra.
No caso das vinhas as condições climatéricas prejudicaram a floração e
provocaram surtos de míldio - doença que afecta as folhas das plantas.
A intensidade dos prejuízos dependeu da susceptibilidade das castas à
doença e da oportunidade e eficácia dos tratamentos fitossanitários
realizados, sendo que em muitos casos a produção ficou
irremediavelmente reduzida, prevendo-se uma redução na produtividade
na ordem dos 25% no caso do vinho e de 10% no caso das vinhas para uva
de mesa. Esta quebra pode afectar as exportações de vinho que o ano
passado atingiram 649 milhões de euros, representando 1,6% das
exportações portuguesas e mais de 15% do sector agro-alimentar. Porém
nem tudo são más notícias e se há menos produção, a qualidade essa
ainda é maior que em anos transactos e como lá diz o povo "até ao
lavar dos cestos é vindima" a nossa reportagem esteve no dia 10 de
Agosto nas vinhas de J. Portugal Ramos que com esta campanha totaliza
31 vindimas no Alentejo e que nos refere " nunca encontrei duas
vindimas semelhantes".
Em Estremoz
Na Adega de Vila Santa "às portas de Estremoz" colhem-se as uvas e
neste início da campanha, de algumas das castas que no anfiteatro de
uma vinha jardim, a que a torre do castelo por trás dá uma imagem
bela. Homens e mulheres colhem as uvas à mão, para caixas que logo são
transportadas e refrigeradas. O engº Joaquim Faia conduz-nos pela
vinha, pelas diversas castas, cuja maturação é diferente e, é claro
nas ordens aos vindimadores "cachos menos bons, logo cortados para o
chão". Haverá depois uma segunda escolha e aqui colhe-se uvas para
vinhos topo de gama, para vinhos que irão ganhar mais medalhas.
Dizem-nos que o Alentejo talvez não fosse o que é hoje se por lá não
tivesse passado João Portugal Ramos. Enólogo, produtor e empresário,
sedeado no Alentejo e com projectos igualmente desenvolvidos no
Ribatejo, nas Beiras e no Douro, produz quatro milhões de garrafas e
60% do seu vinho é exportado, tendo a Escandinávia como o seu mercado
forte. Noutras vinhas a máquina fará o trabalho dos vindimadores e
destas uvas sairá o Marquês de Borba, o Lóios ou Quinta Santa, entre
outros.
Ervideira
Rumamos depois à Adega da Ervideira, empresa vitivinícola do concelho
de Évora, que iniciou as suas vindimas, num processo que "terá o seu
auge uma semana, ou duas mais tarde". Para assistir à vindima
tornou-se necessário estar na vinha às sete da manhã, já que toda a
produção é vindimada "à máquina". Duarte Leal da Costa espera-nos em
Alvito, e rumamos às vinhas na Vidigueira que se estendem por vários
hectares. Estas herdades do Monte da Ribeira e da Herdadinha,
pertencem à família Leal da Costa, descendente directa do Conde de
Ervideira, agricultor de sucesso dos séc. XIX e XX. Duarte Leal da
Costa o director executivo da empresa, foi pioneiro na introdução de
vindima mecanizada. Aqui o operador da máquina, a primeira a ser
comprada no Alentejo percorre as videiras e através de vibração e
sucção, deixa o "engaço" sem bagos, recolhendo os bagos de uvas. Numa
"manta" de vinha ou seja numa fila, este ano, ao contrário dos outros
não precisa de vir, despejar para o tractor e para as cubas os mil e
tal quilos que armazena de bagos, sinal evidente, que gasta o seu
tempo, percorre o mesmo espaço e número de cepas, mas como há menos
uvas, menos colheita obtém.
Duarte Leal porém está satisfeito com a qualidade " a produção média é
de 6,5 a sete toneladas por hectare e este ano será muito mais baixa,
na casa das cinco toneladas. A qualidade não foi afectada pois não se
verificou depois de um ano de míldio haver muita chuva. Se vindimarmos
sem haver chuva a qualidade é muito boa, apesar de menor". Na Adega na
Vendinha, às portas de Reguengos de Monsaraz, o enólogo Nelson Rolo,
chegadas as uvas à adega, que dista 60 Km em transporte refrigerado,
irá transformar as uvas em mosto, para uma fermentação controlada que
irá produzir os afamados vinhos Conde da Ervideira, Lusitano ou
Invisível. Setecentas mil garrafas de produção média anual, irão para
o mercado nacional e 40% para o mercado internacional, e Leal da Costa
afirma" o futuro está lá fora e já fizemos a primeira exportação para
a Estónia e Letónia, continuando a crescer no Brasil. É mais fácil
crescer lá fora do que cá dentro. Portugal está a melhorar a sua
imagem internacional e os vinhos beneficiam dessa projecção"
Reguengos Monsaraz
Rumamos depois a Reguengos e na Carmim- Cooperativa Agrícola de
Reguengos de Monsaraz – criada em 197, trinta e sete anos depois,
recebe toneladas e toneladas de uvas dos sócios produtores de todas as
castas da região, vindimadas à máquina e manualmente. Esta empresa
lidera o mercado nacional no segmento dos vinhos de qualidade,
possuindo actualmente cerca de mil associados e produz 24 referências
de vinhos: dos brancos aos tintos, dos jovens aos reservas, passando
pelos licorosos, rosé ou espumantes.
Nesta Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz (CARMIM), no
distrito de Évora, cujos associados já começaram as vindimas no dia
11, a perspectiva é de "uma diminuição de produção entre 10 a 20 por
cento", face a 2010, refere o enólogo da empresa, Rui Veladas, que à
frente de uma vasta equipa, é o responsável pelos vinhos da casa. Esta
é a sua décima primeira vindima e está à frente de uma equipa de
enologia de quatro pessoas.
O engenheiro da CARMIM explicou que "a primavera foi extremamente
favorável ao desenvolvimento de míldio, que provocou algumas quebras
de produção", acrescentando que o granizo que caiu em várias trovoadas
afectou também algumas vinhas. O enólogo referiu que tem ainda
dificuldade em dar uma estimativa da quantidade de uva que a Carmim
vai receber dos seus associados, indicando que em 2010 a empresa
recebeu 23,4 milhões de quilos de uva.
Segundo Rui Veladas, as previsões apontam para uma "boa" qualidade da
uva, visto que houve "boas maturações devido a um Verão menos quente.
O ano de 2009 foi o ano mais baixo de sempre na produção. Em 2010, foi
um dos anos históricos na produção, a maior produção de sempre. Este
ano há menos uvas mas a qualidade é maior. As plantas estão mais
equilibradas porque há menos uva e o Verão tem sido muito temperado,
sem as ondas de calor e isso significou que a uva foi fazendo
bio-síntese a amadurecer, desde o princípio do Verão, até final do
Verão.
Este Verão fresco tem ajudado muito a qualidade das uvas, mais do que
é normal, em termos de acidez e aromas". A produção média desta adega
anda na casa dos 14 quinze milhões de litros e Rui Veladas acredita
que no final da campanha provavelmente poderá ter menos um milhão, ou
dois de litros de mosto que se irá transformar em vinho, vinho esse de
marcas tão conhecidas como Bom Juíz, Monsaraz, Terras d'el Rei, ou
Garrafeira dos Sócios, vinhos esses que há muito alcançaram os
mercados internacionais. As uvas tintas são as primeiras a ser
vindimadas, nas próximas semana as uvas brancas. Mais perto de Lisboa,
no distrito de Setúbal o presidente da Associação dos Agricultores do
distrito refere que 80% da uva da região está perdida.
Com menos uvas, este sector de actividade ocupa milhares de pessoas,
e Portugal orgulha-se de produzir vinhos de cada vez maior qualidade.
É um sector agrícola de forte peso nas exportações e os vinhos
portugueses são vendidos em todo o mundo, com taxas de crescimento
efectivo, mas que muito mais podem crescer, já que há produção e
qualidade.
António Freitas
afreitas@mundoportugues.org
http://www.mundoportugues.org/content/1/9705/vindimas-ano-menos-uva-mas-com-mais-qualidade/

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