quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Prêmio Nobel afirma que não há base científica contra transgênicos

Werner Arber, em visita ao Brasil, acredita que crítica a alimentos
geneticamente modificados tenha motivação apenas política
Maria Fernanda Ziegler, enviada a Águas de Lindoia | 31/08/2011 01:26
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científica contra transgênicos
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Para o prêmio Nobel Werner Arber não faz sentido ter medo de consumir
alimentos transgênicos. Ele acredita que a rejeição esteja relacionada
com a "motivação política que não tem boa base científica". O
microbiologista participa esta semana do Congresso Brasileiro de
genética, em Águas de Lindoia (SP) onde é o grande homenageado.
O cientista suíço descobriu as chamadas enzimas de restrição, que
permitem cortar fragmentos de DNA. Seu estudo marcou a nova era da
manipulação genética e lhe rendeu o prêmio Nobel de Medicina em 1978.
De acordo com Carlos Menck, presidente da Sociedade Brasileira de
Genética, "fica difícil imaginar como fazer genética sem os mecanismos
descobertos por Arber".

Foto: Maria Fernanda Ziegler / iGAmpliar
Prêmio Nobel de Medicina fez a palestra de abertura do Congresso
Brasileiro de Genética
Arber, de 82 anos, afirma com entusiasmo que a engenharia genética
seria uma forma de acelerar o que já ocorre na natureza, como uma
expansão da teoria da seleção natural, de Darwin. "Eu conclui que os
riscos de engenharia genética são similares com o que acontece desde
bilhões de anos na natureza. Caso contrário, não teríamos a evolução
das espécies", disse.
O prêmio Nobel acredita que vai levar mais de 50 anos para colocar
algumas das vantagens da engenharia genética em plantações de arroz,
feijão, soja entre outros. "A engenharia genética é de grande
importância, seja para a saúde alimentar ou talvez para ajudar a
tornar as lavouras mais resistentes a pragas e também a fenômenos
relacionados às mudanças climáticas, como as secas", disse.
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Enzimas de restrição, as tesouras do DNA
Arber descobriu com mais dois pesquisadores que há enzimas que "cortam
o DNA" possibilitando, assim, que ele seja estudado. Nos anos 1960,
ele conseguiu explicar que bactérias podem distinguir o próprio DNA do
DNA de outros organismos. Isto quando ele penetra nas células por meio
de infecções virais, resultando em alterações no DNA da bactéria. Há
tanto enzimas que permitem que isto quanto aquelas que quando ativadas
protegem as células.
"Não sabíamos o que gerava esta diferença. Levamos cerca de dois anos
para termos provas de que as modificações estão localizadas em
sequências específicas relacionadas a alguns nucleotídeos, as
letrinhas da sequência genética", disse Arber que começou seus estudos
nesta área apoiado por verbas destinadas à pesquisa para o
desenvolvimento do uso pacífico da energia atômica, isto na década de
1940. A descoberta das enzimas de restrição fez com que ele mudasse o
rumo da pesquisa, embora tenha publicado um artigo sobre energia
atômica.
Anos depois, em 1995, ele escreveu um artigo sobre estas modificações
em sequências específicas do DNA, onde afirmou que as enzimas podem
fragmentar o DNA em pequenas partes. "Me dei conta de que isto pode
abrir caminho para determinar a sequência genética. Eu também já
esperava, naquela época, que os fragmentos pudessem ser recombinados
com cada um deles", disse.
O sistema de defesa
Vale lembrar que as enzimas de restrição são produzidas pelas
bactérias. Elas atuam no sistema de defesa contra o ataque dos vírus,
quebrando o DNA do vírus em pequenos fragmentos. Desta forma, ele não
se reproduz na bactéria e protege o material genético da bactéria da
degradação. Ocorre, então, modificação da sequência genética.
Arber concluiu que para as bactérias é bom ter o sistema que permite
ver quando a informação genética externa penetra de um sistema de fora
ou vem de uma célula irmã. "Porque assim pode dar o direito de
incorporação do genoma e todos os seres vivos devem ter alguma
garantia de que a informação genética não está todo o tempo mudando, é
preciso haver alguma estabilidade", disse. Ele afirma que todos os
seres vivos têm transferência horizontal de genes, como acontece com
as bactérias estudadas por ele.
Os sistemas de restrição, no entanto permitem que a grande maioria da
população mantenha identidade genética, mas ocasionalmente eles também
permitem que um fragmento seja incorporado. "O sistema ajuda a
controlar a taxa de evolução biológica nos organismo. Genes podem ser
trocados espontaneamente, só que não é sempre que acontece, ocorre em
pequenos fragmentos do DNA, como se fossem pequenos passos", disse.
Isto faz com que haja uma pequena taxa de alteração genética que ao
mesmo tempo garante que a evolução continue. "Por outro lado, a
pequena taxa dá certa garantia de que as mudanças não acontecem todo o
tempo", disse.
Genética e biodiversidade
Por conta disto, Arber defende a proteção da biodiversidade para
proteger a variabilidade genética. O cientista acredita que a
engenharia genética possa contribuir em várias questões,
principalmente nas alimentícias, seja para aumentar o valor
nutricional de um alimento, injetado vitamina A no arroz, por exemplo,
ou selecionando plantas mais aptas a crescer em grande quantidade,
aumentando a distribuição de alimentos em países pobres ou ameaçados
pelas mudanças climáticas.
"Antigamente se você quisesse usar algum produto natural. Você via na
natureza onde ele estava disponível e era preciso fazer com que ele
crescesse na natureza. Para mudar era preciso fazer melhoria pelo
cruzamento natural de espécies. Hoje com a engenharia genética, você
pode não só mudar por esta forma direta como também transferir um
fragmento do DNA de interesse e transferi-lo para um novo genoma de
microorganismo, ou planta mais apto para crescer em grandes
quantidades", diz.
http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/premio+nobel+afirma+que+nao+ha+base+cientifica+contra+transgenicos/n1597186523294.html

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