Escrito por CienciaPT
31-AUG-2011
As populações de aves das zonas agrícolas por toda a Europa
encontram-se nos níveis mais baixos desde que há registos, é o que
mostram os novos dados agora revelados. Portugal é uma das poucas
excepções neste cenário negro da biodiversidade rural europeia.
O Esquema Pan-Europeu de Monitorização de Aves Comuns (esquema
pan-europeu) compilou os números relativos a 145 espécies de aves
comuns e largamente distribuídas em 25 países europeus entre 1980 e
2009. Os dados para o nosso país são produzidos pelo projecto Censo de
Aves Comuns (CAC) da SPEA.
Os dados do CAC estão na base da produção
dos índices de aves comuns para Portugal e para a Europa De entre as
espécies cobertas pelo esquema pan-europeu, as aves dos meios
agrícolas são as mais ameaçadas, com 20 espécies em declínio num total
de 36. O valor médio do Índice de Aves Comuns de Zonas Agrícolas
(IACZA) na Europa é o mais baixo de sempre, situando-se 48% abaixo do
valor de 1980. Algumas das espécies que mais diminuíram em toda a
Europa nas últimas três décadas incluem espécies tão familiares como a
Laverca (-46%), o Abibe (-52%), o Pintarroxo (-62%) e o Trigueirão
(-66%).
Ambientalistas e cientistas argumentam que estes dados provam a
necessidade de uma reforma urgente da Política Agrícola Comum (PAC),
de modo a recompensar e encorajar os agricultores que praticam uma
gestão favorável à biodiversidade. As propostas da Comissão Europeia
para o futuro da PAC serão divulgadas em Outubro próximo. Mas a SPEA
teme que fiquem aquém das necessidades, e não contenham apoios
suficientes às medidas agro-ambientais que financiam uma gestão
favorável à biodiversidade.
Felizmente a situação das aves comuns de zonas agrícolas em Portugal é
uma excepção no panorama negro da biodiversidade rural europeia. O
IACZA nacional apresenta desde 2004 uma tendência de aumento moderado,
equivalente a 13%, que por enquanto não tem significado estatístico.
Este facto indica que, de uma maneira geral, as espécies de aves
comuns dependentes de sistemas agrícolas portugueses apresentam
populações estáveis ou em crescimento pouco acentuado.
Domingos Leitão, Coordenador do Programa Terrestre da SPEA, salienta
que "o panorama mais favorável de Portugal não quer dizer que a nossa
agricultura não necessita de medidas agro-ambientais". Em Portugal
pratica-se maioritariamente uma agricultura extensiva, diversificada,
e com limitações de aptidão dos solos e de disponibilidade de água.
Muitas das nossas explorações ago-silvo-pastoris têm dificuldade em
competir nos mercados internacionais, porque a sua produção é baseada
na diversidade e na autenticidade dos produtos e não apenas na
quantidade. No entanto, estes agricultores produzem um manancial de
bens e serviços públicos (gestão do território, protecção do solo e da
água, biodiversidade, etc.), que só podem ser recompensados com
dinheiros públicos. "É para os agricultores e produtores
agroflorestais da Rede Natura 2000, das montanhas e de outras zonas
remotas do país que necessitamos do dinheiro público da PAC e da
medidas agro-ambientais" conclui Domingos Leitão.
http://www.cienciapt.net/pt/index.php?option=com_content&task=view&id=104474&Itemid=336
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